quinta-feira, 16 de junho de 2022

Eyes of the Void


Adrian Tchaikovsky (2022). Eyes of the Void. Nova Iorque: Orbit.

Efeitos da maldição das trilogias, leio recorrentemente nas análises à literatura de ficção científica contemporânea. Os editores gostam de livros nesse formato, o público talvez não, mas vai seguindo os seus autores favoritos. O resultado são histórias que seriam excelentes em livro único, autocontido, a arrastarem-se em vários volumes. Com a maldição especial do segundo livro da trilogia, que costuma ser o mais mal amado: não pode ser suficientemente bom para eclipsar o antecedente e o sucessor, mas também não pode deixar os leitores perderem a curiosidade com o rumo da narrativa.

Eyes of the Void sofre destes males todos. A história lá avança, em direções interessantes. Temos a progressiva ameaça dos Arquitectos, cada vez mais destruidores de mundos. Temos o falhanço das tecnologias que pareciam ter sido bem sucedidas a travar esta ameaça, os vestígios arqueológicos da civilização galáctica extinta que poderá ter criado a infraestrutura necessária para viagens translumínicas deixaram de ser eficientes. A humanidade está à beira de uma rutura, com alguns setores poderosos a conspirar para causar uma guerra, e com isso transformar a humanidade de colónias planetárias numa espécie à deriva pelo espaço em naves-mundo. E, no meio disto, as personagens de sempre, constantemente envolvidas em aventuras. Uma das quais irá revelar a natureza da ameaça,  o seu ponto de origem.

Se o livro desbrava terreno, perde-se imenso em inúmeras peripécias de ação que se percebe terem sido expressamente criadas para encher páginas. Não que o livro não funcione, mas o seu saldo final é menos sumarento do que o volume promete. No entanto, Tchaikovsky é um dos melhores praticantes contemporâneos de Space Opera, mesmo quando está a escrever a metro. Eyes of the Void é claramente uma ponte entre o primeiro e o último livro da trilogia, apontando para um final complexo e explosivo.