quinta-feira, 30 de abril de 2020

Tomorrow!


Phillip Wylie (1961). Tomorrow!. Nova Iorque: Popular Library.

Um romance sobre o impensável, um ataque nuclear à américa. O ponto de vista é o de uma cidade mediana do interior americano, e o foco está em personagens que estão envolvidos com os serviços de proteção civil locais. Daqueles serviços em que muitos questionam a sua utilidade, até ao dia em que o impensável acontece, e a guerra atómica se abate sobre o mundo. Uma guerra rápida e mortífera, travada com bombardeiros - o autor não o deve ter escrito na era dos mísseis intercontinentais, e que num arremedo de patriotismo pateta termina de modo cataclísmico. A resposta americana final ao ataque inesperado soviético (suspeito que muitos terão de ir pesquisar o que é que isto quer dizer) envolve uma super-bomba num submarino que oblitera o golfo da Finlândia e transforma toda a zona até Moscovo numa improvável cratera não muito radioativa. O não prestar atenção aos efeitos da radioatividade é uma das falhas técnicas deste livro originalmente escrito em 1954, quando para ser justo, não se sabia ainda muito sobre as reais consequências de uma guerra nuclear.

A leitura torna-se interessante quase no final, quando o livro nos conta, finalmente, a história que promete. Uma antevisão do que poderia acontecer em caso de ataque nuclear, e apesar de comedido, o autor não poupa nos pormenores catastróficos. Essa parte é interessante. Infelizmente, para lá se chegar, temos de enfrentar longas páginas de uma história telenovelistica, que aprofunda as pequenas histórias de uma série de personagens que... bem, se o tema é guerra atómica, a maior parte delas estão condenadas à partida. O lado intrigante do livro está no apontar da quebra civilizacional. O ataque é fulminante, as consequências de caos e desordem duram anos a ser resolvidas. O livro é otimista, assume que o planeta e a humanidade seriam capazes de sobreviver a uma guerra nuclear global mais ou menos intactos, exceto nos alvos bombardeados, e que a recuperação seria rápida. Sabemos hoje que não seria assim, que o acrónimo mutually assured destruction era verdadeiramente um conceito insano. Algo que, com o fim da guerra fria, parece estar definitivamente consignado ao caixote de lixo das péssimas ideias da história, embora a proliferação de armas atómicas indique que os riscos de haver conflitos localizados não são nulos.