terça-feira, 8 de janeiro de 2019
Il Dylan Dog di Tiziano Sclavi 12: Morgana
Tiziano Sclavi, Angelo Stano (2018). Il Dylan Dog di Tiziano Sclavi #12: Morgana. Milão: Sergio Bonelli Editore.
Provavelmente, das histórias mais surreais que Sclavi criou para Dylan Dog. Ao longo da aventura, são equilibradas linhas narrativas em confronto que não parecem fazer sentido. Temos Morgana, uma mulher que não sabe que está morta, zombie sobrevivente do fim de Xabaras e das suas experiências de imortalidade. Atraída inexplicavelmente por um certo endereço londrino, parte em direção ao encontro inevitável com Dylan. Ela parece viver em dois mundos, o nosso, e um mundo paralelo onde os zombies dominam e os poucos humanos se rendem à condição de desmemoriados.
Essa dualidade de mundos parece ser a que carateriza Reed Crandall, um personagem secundário discreto que se mantém como um dos fios condutores da história de Morgana. Não o personagem em si, que tem aparições fugazes, mas o que ele faz: desenha uma banda desenhada que replica tudo o que vemos desenrolar-se nas páginas desta história. Um pormenor metaficcional que dá ainda mais estranheza a esta história. Tão meta que a fisionomia deste desenhador é um retrato de Angelo Stano, um dos decanos ilustradores da série.
Finalmente, Dylan, como sempre a funcionar como atrator estranho do que centro narrativo. Sente-se apaixonado por alguém que não conhece, enredado numa trama de augúrios nas sessões espíritas de Madame Trelkovsky, que vislumbra um futuro de ruínas e mortos vivos. O cruzamento com Morgana é inevitável, a paixão já estava anunciada, e no estranho mundo de Dylan Dog a condição de morte não é impedimento para o amor. Mas a personagem precisa de paz, por isso o destino leva-os à Escócia, às ruínas da casa onde o alquimista que se virá a revelar o pai de Dylan fez as suas medonhas experiências. Tudo terminará na campa, onde a morta-viva, na escuridão da tumba, vai dormindo e sonhando.
Nas mãos de outro argumentista, esta história indecisa e fragmentada seria ilegível, nem faria sentido. Mas Sclavi é um mestre da estranheza, do surreal, da coerência do incoerente. Morgana é uma história de profundo lirismo, onde o terror é discreto. Originalmente publicado como vigésimo quinto número da série, esta história é agora reeditada na coleção Il Dylan Dog di Tiziano Sclavi.