domingo, 29 de outubro de 2017
aCalopsia: Festival Bang!
Não pareceu bom augúrio chegar a uma entrada do Pavilhão Carlos Lopes e vê-la quase vazia. Estaria a primeira edição do Festival Bang! condenada ao fracasso? Ou teria chegado demasiado cedo e o grosso dos visitantes ainda estaria para vir? Entrar dentro do espaço do festival dissipou as dúvidas. Não havia multidões, mas sentiu-se que os fãs do fantástico aderiram bem a esta nova iniciativa no panorama das culturas de género em Portugal. Registo deste primeiro Festival Bang! no aCalopsia.
Algumas notas, que não faziam sentido no âmbito do aCalopsia:
- Muito bizarro ver a organização da Associação de Cosplay sublinhar tanto o aspeto pedagógico e intergeracional do cosplay. Todo aquele discurso sobre aquisição de competências e integração da juventude pareceu-me um pouco pateta e muito redutor do potencial cultural do cosplay. Se calhar reajo assim por ser professor, e estar demasiado calejado por discursos similares que tentam convencer o público generalista da importância das artes não pelas suas qualidades intrínsecas mas por serem pedagógicas ou educacionais. Um argumento que é incrivelmente redutor. É trauma, eu sei, desde que sou adolescente que ouço falar da extrema importância de Astérix porque ensina os meninos sobre os romanos, enquanto tudo o resto da BD é desconsiderado. Trinta anos depois, tenho a mesmíssima discussão com os meus colegas de trabalho. A velha conversa do ah, sim, banda desenhada, o Astérix sim por causa dos romanos, já o resto... (troquem BD por Ficção Científica, Fantasia, transreal, gaming, artes em geral, que o argumento é o mesmo). O que me intriga no cosplay é o seu potencial expressivo e cultural, uma celebração de fãs que encarnam as suas personagens favoritas. Felizmente, as cosplayers presentes sublinharam pela sua atitude essa dimensão de paixão pela cultura.
- Hey, ter os brains picked pelo André Silva sobre The Orville e Star Trek Discovery made my day. Ambas são séries controversas, Discovery pelo sentido negro que dá ao universo Star Trek (fico com a sensação que a mensagem que transmitem é que se queremos ter um paraíso utópico no futuro, temos de ter uns cabrões sem escrúpulos que derrubem tudo à frente para o construir), The Orville pela forma como nos faz redescobrir quer Star Trek quer o lado optimista da Ficção Científica clássica. The Orville interessa especialmente pela forma como amadurece de episódio em episódio, sem perder a vertente comédia e mantendo-se como vénia honrosa a Star Trek.
- Não é boa notícia saber que a tertúlia Sustos às Sextas entrou em hiato, por sobrecarga dos organizadores. Felizmente, o António Monteiro decidiu manter viva a chama com uma newsletter regular, também chamada Sustos às Sextas, cujo primeiro número está para breve. Funciona através do email, e enviará regularmente à lista de assinantes uma publicação com notas de lançamentos, críticas e artigos sobre terror. Infelizmente, ficam de fora os deliciosos morcegos de gengibre.