sábado, 31 de maio de 2014

#AEVP


Programa para hoje. Uma camisola que visto com muito gosto e orgulho. A comunidade local merece.



(E no dia em que eu organizar algo que seja sobre origami ou macramé ou outra coisa do género... terei sido acometido por ataques de senilidade.)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ficções


O überg33k Paulo Morgado atrapalhou-me há uns dias com isto. A pesquisar sobre o teatro Grand Guignol, expressão que designa todo um género teatral e uma companhia específica que durante décadas fascinou e aterrorizou as sensibilidades parisienses, deparou-se com um autor especialista no tipo de contos fortemente macabros e de sensibilidade exagerada que marca o grand guignol. Maurice Level lê-se como um Poe menos gótico e mais violento. Lovecraft fez-lhe referência no Supernatural Horror in Literature. Eu que já pouco tenho que ler... não resisti a juntar alguns textos deste intrigante autor à pilha de leituras a aguardar tempo.

In the Light of the Red Lamp: Numa atmosfera opressiva, um viúvo inconsolável insiste na presença de um amigo para revelar o daguerreótipo que fez no momento da morte da mulher amada. Mas há medida que a imagem na chapa se torna mais nítida um horror é revelado.

The Last Kiss: Num conto profundamente macabro, um homem deformado por ácido derramado pela esposa sobre o seu rosto parece perdoá-la, magnânimo, mas urde uma insidiosa vinganças onde consegue deformar a beleza da mulher com um ataque vingativo de ácido dissolvente.

Night and Silence: Intrigante variação sobre o tema do enterro prematuro. Dois irmãos, um cego e outro surdo-mudo, são unidos pela sua idosa irmã que falece repentinamente. Na noite a seguir ao seu depósito no féretro estranhos ruídos acordam os irmãos no seu tugúrio de pobreza. Talvez a morta não esteja morta, mas apenas a noite e o silêncio opressivo se fazem sentir quando quem ouve não consegue ver e quem vê não consegue comunicar.

A Madman: Um delicioso conto tétrico. Um dandy que passa o tempo em busca de novas sensações fascina-se com as façanhas de um ciclista acrobata. Segue-o de espectáculo em espectáculo, de cidade em cidade, e um dia o ciclista conta-lhe o segredo da sua melhor acrobacia. Consegue fazer um looping de bicicleta, e para isso concentra o olhar num único ponto enquanto pedala. A continuidade do dandy tornou-o esse ponto de referência, mas este apercebe-se de uma oportunidade de explorar novas sensações. No espectáculo seguinte, muda de lugar no momento em que o ciclista se atira na sua acrobacia arriscada. Este despedaça-se no chão, e o dandy sorri, agradado pela nova sensação.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Block 109: Ritter Germania; All You Need Is Kill.



Vincent Brugeas; Ronan Toulhoat (2012). Block 109: Ritter Germania. Talence: Akiléos.

O mundo ficcional de Block 109 intriga por ser um género de história alternativa mais comum nos comics do que na bande dessiné. Estamos em 1949, a II Guerra mundial continua entre uma Alemanha poderosa e uma União Soviética ferida de morte. O flanco ocidental está assegurado por um tratado de paz com os aliados, assinado pelo führer Himmler após suceder a Hitler, assassinado em 1939. É um palco largo e dos livros da série que já me chegaram ao radar não se perde muito tempo com plausibilidades geoestratégicas. A ideia é ter tela para contar histórias, não que a tela seja uma história em si. Neste episódio o conceito de herói pulp leva uma volta nacional-socializante, com o protagonista de uma série de filmes de propaganda a acreditar que é mais do que um actor. Ritter Germania é um herói visceral do regime, semi-ficcional por ser um soldado das forças especiais cooptado como actor, vestindo uma armadura e combatendo os inimigos do Reich onde quer que eles se encontrem. A vénia a Batman e The Shadow, bem como aos seriais rádio e cinematográficos americanos da golden age, é profunda.


Nick Mamatas, Lee Ferguson (2013). All You Need Is Kill. São Francisco: Haikasoru.

Quando comecei a olhar com atenção para a FC japonesa publicada pela Haikasoru All You Need Is Kill despertou-me a atenção. Belíssima peça de FC militarista, estava escrita numa linguagem tão clara que poderia dar um excelente filme. Não devo ter sido o único a pensar nisso. Esta história que pode ser descrita como um Groundhog Day com invasões alienígenas está prestes a estrear no grande ecrã, com os efeitos especiais da praxe e canastrão a rigor para atrair multidões às salas. Vai ter a trajectória previsível destes filmes, com um momento de explosão na ribalta, avalanche de merchandising e rápida queda no esquecimento, porque de hollywood não se espera cuidado ou criatividade e já se sabe que uma história destas vai acabar tão simplificada que talvez pouco mais dela reste do que o conceito elementar.

Antes do filme, a graphic novel, e esperemos francamente que o filme seja melhor que isto. A adaptação é medíocre, com um argumento do tipo "ok, vamos lá despachar isto que paga as contas e ter tempo para fazer outras coisas" e qualidade gráfica a condizer. Até porque o argumentista é capaz de bem melhor do que isto. Não é um trabalho incompetente, é um trabalho apressado para capitalizar no volúvel interesse gerado.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Dylan Dog Color Fest #08


Pasquale Ruju, et al (2012). Dylan Dog Color Fest #08. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A.

Dylan Dog sem ser escrito por Tiziano Sclavi não tem um imaginário tão rico, mas não deixa de ser interessante. Em La Grande Nevicata o tempo dissolve-se. O que para Dylan começa como um pesadelo transforma-se numa viagem ao futuro, onde assistimos a um nevão assassino que transforma os londrinos em zombies e que é o prenúncio de uma invasão de forças maléficas que se manifesta em insectos gigantes e outras criaturas de pesadelo. Se para o futuro Dylan representa um mistério do passado, para este a aventura é um misto de premonição de algo que poderá ainda torna-se real. Luigi Mignacco assina o competente argumento, ao qual o traço do argentino Enrique Breccia dá uma assinalável vida.

Persecuzione dall'Aldilà tem o seu quê de irónico. Uma desejável viúva vive numa casa assombrada pelos fantasmas dos seus ex-maridos. Ficamos a pensar que vai ser uma história sobre uma viúva negra que irá sofrer a merecida recompensa pelos seus crimes, mas não, o argumentista Pasquale Rujo depressa nos mostra que os homens morreram de morte natural. Então o que explica as assombrações, se não se tratam de espíritos inquietos por mortes violentas? Afinal, parece que a inocente e amedrontada viúva tem algumas capacidades pré-cognitivas e escolhe os maridos de acordo com a conveniente proximidade do momento em que esticam o pernil. Apenas não consegue prever o seu próprio futuro, e ao fugir amedrontada dos fantasmas tem um acidente e morre. Morte irónica, porque as assombrações dos falecidos maridos não procuravam vingança, mas sim proteger a viúva de um futuro que esta não conseguia conhecer.

Un patto diabolico é outra aventura de volteios irónicos. Dylan é contratado por um idoso antiquário, às portas da morte, para o safar de um misterioso pacto contraído quando era um jovem órfão esfomeado nas ruas. Parece uma história convencional de pactos com demónios, mas algo não bate certo. A criatura dona do pacto tem uma estranha bonomia e não se importa nada com o desfazer do trato, sem ameaças nem a teatralidade malévola que se espera de um representante dos infernos. É porque não o é. Trata-se de um anjo que decidiu apostar num jovem abandonado mas depressa se desilude com a malevolência no coração deste. O ilustrador deixa-nos uma pista visual intrigante, modelando o anjo na imagem de Clarence, personagem angelical do delicioso It's a Wonderful Life de Frank Capra.

Em La dimora stregata mostra-se como às vezes se ganha, outras se perde, e por vezes é impossível e perigoso tentar resolver os mistérios. O ódio e maldição que pesam sobre uma casa assombrada são tão pesados que Dylan não só não consegue aplacá-los como se vê perigosamente envolvido pela violência contida num passado encerrado entre as suas paredes.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Comics: Delphine; The Grave Robber's Daughter: Peculia.


Richard Sala (2013). Delphine. Seattle: Fantagraphics.

Em busca de uma paixão esquecida, um jovem viaja até uma misteriosa cidade. Entre habitantes hostis e seres do oculto, vê-se enredado numa teia inescapável. A sua paixão é na verdade uma elaborada armadilha, destinada a atrair vítimas para os poderes ocultos que se refugiam na cidade. O traço inocente de Sala sublinha aqui uma belíssima história de terror, que vai buscar inspiração às vertentes literárias e cinematográficas do género. Lê-se como uma amálgama nostálgica de velhos filmes de série B e excertos literários que perduram na mente longos tempos após leitura.


Richard Sala (2007). The Grave Robber's Daughter. Seattle: Fantagraphics.

É impossível ler este livro sem pensar nas míriades de filmes de terror de série B com que se consomem momentos de tédio. O livro desenrola-se com a precisão de um destes filmes. Num ermo avaria-se o carro de rapariga com algo de pouco inocente no passado. Esta vê-se obrigada a procurar ajuda na localidade mais próxima, terra misteriosa e abandonada. Depara-se com uma ameaça aterradora num circo das proximidades, porque, enfim, palhaços assassinos ficam sempre bem nestas coisas. Consegue fugir e encontra outra misteriosa habitante, também com os seus segredos, que a ajuda. Investiga e depara-se com conspirações mortíferas e negras invocações dos poderes do oculto. Contra todas as expectativas, sobrevive e foge, regressando ao mundo normal. Soa familiar, não soa? Mas é neste reviver nostálgico destas histórias que está o encanto do trabalho de Richard Sala. Lê-lo evoca fragmentos de memórias cinematográficas, que preenchem os espaços deixados em vazio pela simplicidade deliberada das suas ilustrações.


Richard Sala (2002). Peculia. Seattle: Fantagraphics.

Um deslumbre visual. Sala desenvolve pequenas e irónicas aventuras para uma heroína de negros traços góticos, reminiscentes do humor negro de Edward Gorey e com forte inspiração no terror clássico de Machen ou Hodgson. O tom literário remete para o estilo gótico clássico, enquanto o traço a preto e branco de Sala se equilibra entre as referências ao cinema de terror clássico, ilustração ao estilo de Gorey e o estilo ingénuo tão próprio deste interessante autor.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Comics


2000AD #1882: Sláine é algo de estranho. Talvez seja um gosto adquirido que me passou ao lado. Pat Mills escreve-o com uma ironia demolidora num estilo pesadão a lembrar o Elric de Moorcock, e tal como este Sláine é ambivalente. Mills pega nos elementos do banal comic de fantasia épica e recria-os com subtis inversões ao expectável. A coragem deste bárbaro heróico disfarça o ser terrivelmente desastrado, a sua cegueira sanguinária não distingue culpados de inocentes, e sob o seu machismo exacerbado oculta-se uma latência efeminada simbolizada no possante machado. É um subtil in your face do inteligente Mills aos lugares comuns da fantasia épica, até pela forma visceral como utiliza o substrato mitológico celta, habitualmente recuperado para literaturas mais calmas às voltas com benévolos druidas e mitos arturianos. Se Elric subverte a iconografia de Conan ou Bran Mak Morn, Sláine subverte-a por completo sem que a maior parte dos leitores de tal se aperceba. A sua hiperviolência infantil torna-o muitas vezes leitura tediosa. Felizmente, nesta nova série, Mills sublinhou a ironia numa aventura que nos leva ao coração dos mitos


E porque a 2000AD está em grande, Indigo Prime leva-nos a um mundo paralelo onde o sexo entre kaijus é uma atracção turística. Afinal, como é que pensavam que eles se reproduziam? Isto das bombas atómicas não explica tudo.


Magnus Robot Fighter #03: Belíssima ideia da Dynamite de colocar Fred Van Lente à frente deste reboot de um clássico dos comics. Este argumentista já anda a fazer um trabalho excelente e delirante para a Valiant com Archer & Armstrong e este Magnus não se fica atrás. Van Lente sabe equilibrar acção com humor e referenciação irónica, e isso nota-se muito neste terceiro número da série. É em essência uma longa perseguição onde uma caçadora humana de humanos que talvez não seja humana persegue Magnus com transmissão mediática em tempo real  por uma cidade pós-cyberpunk dominada por robots e inteligências artificiais que veneram o segundo advento da singularidade. Os leitores mais atentos notam a referência ao Blade Runner com o seu caçador de andróides que talvez seja andróide. A crítica aos ideais singularitários é bem humorada. E com pormenores deliciosos, como um robot Lebowsky a tchilar num pavilhão de bowling. Conhecem o filme, certo? Dispensa explicações sobre polinização cruzada pop-cultural. E este delicioso proletarianismo de robos industriais a discutir o que passa na televisão enquanto trabalham. Brilhante, esta. É algo que não se vê todos os dias, de facto.


Velvet #05: Estou a adorar o tom de absoluta reverência ao cinema clássico de espionagem deste Velvet de Ed Brubaker. Se o estilo replica a iconografia do cinema, a premissa subverte o machismo inerente ao género com a figura de uma heroína super-espia, que se mantém discreta numa relativa obscuridade mas ao ver-se obrigada a lutar pela vida enquanto deslinda uma conspiração mortal revela-se mais capaz e mortífera do que os melhores agentes masculinos. O estilo narrativo muito contido de Brubaker torna mais acutilante um comic já de si dos mais interessantes do momento.

domingo, 25 de maio de 2014

Jet




Então, estava a atravessar o campus do politécnico de Setúbal quando deparo com... um motor a jacto?

sábado, 24 de maio de 2014

Perspectivas




O jogo luz/sombra a fazer sobressair a pureza da geometria de Siza Vieira na Escola Superior de Educação de Setúbal.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Playtime


Vou dar este exercício por terminado. Deu trabalho e permitiu-me estender os limites do que faço com o Sketchup. Saí a ganhar, e saíram os meus alunos, porque sou daqueles professores que pratica o que prega. Com maior fluência em operações complexas não me é difícil ensiná-los a movimentar vértices ou criar superfícies curvas à medida.


Tenho um gosto obsessivo por pormenores que ficam quase invisíveis no final. Os motores são mais complexos e completos do que parecem.


Como o tema teve o seu quê de marcial - partiu de ilustrações para o Warlord of the Air de Moorcock, não ficou esquecida a metralhadora. Que não é tão complicada quanto parece.

Próximo desafio? Tem a ver com naves espaciais.

Analog Science Fiction and Fact Vol. 134, #05


Cryptids, o conto de Alec Nevada-Lee que abre esta edição da revista, surpreende por misturar a ciência dura da pesquisa em biomedicina e os mitos criptozoológicos. Nas ilhas remotas da Nova Guiné uma investigadora especializada em aves raras vê-se forçada a colaborar com uma equipe de cientistas de uma empresa que visa analisar a cadeia alimentar de um pássaro produtor de neurotoxinas para a conseguir isolar e comercializar. Ao fazê-lo deparam-se com os mistérios assassinos das profundezas da selva, colidindo com uma espécie desconhecida de aves exímia em aniquilar o que percebem como ameaça ao seu habitat. Para além de uma boa história de aventuras e criaturas de pesadelo, tem uma forte componente de análise da importância da investigação dos compostos químicos naturais existentes na selva primeva.

Na zona de não ficção Karl Schroeder detalha as análises e hipóteses que colocou ao cosntruir o mundo ficcional de Lockstep, tentando manter vivo o espírito clássico da space opera com verosimilhança científica. O resultado foi o abandono das hipóteses tecnológicas que envolvem o ir além da velocidade da luz e o evoluir de um conceito de sociedade que gira à volta da hibernação de mundos como forma de manter o contacto civilizacional sincronizado nas vastidões espaciais. A secção probability zero é o recreio de ideias da Analog, a fazer recordar os Future Shocks da 2000 AD, onde os autores podem ter muitas ideias com poucas restrições. Neste mês Jerry Oltion imagina as clássicas rivalidades nacionalistas e a regressão tecnológica que hoje impediria o regresso do homem à lua em colisão com uma estupefacta missão de um conselho galáctico que se surpreende com uma civilização que regrediu na tecnologia e coloca um requerimento simples para garantir o acesso ao clube das civilizações espaciais: levar uma nave à lua no prazo de um mês. A solução tem o seu quê de felino. É daquelas coisas inexplicáveis da FC, este fétiche com gatos.

In Perpetuity começa por aparentar ser um conto sobre as tropelias de dois geólogos que descobrem um recurso natural raro na Lua mas não conseguem fazer muito com isso por estarem de mãos atadas com contratos de investigação privados, em que são peças de uma engrenagem sujeita a interesses lucrativos que colocam de parte a ciência fundamental. É ao cruzarem-se com o arquivista da base lunar que nos é revelado aquilo sobre que realmente reza a história: uma tentativa de preservar a memória cultural global, sem recorrer a tecnologias complexas, no isolamento lunar. Uma nova biblioteca de Alexandria, fechada prematuramente pela vacuidade dos gestores do instituto de investigação, sempre lestos a cortar ideias que não garantam lucros fáceis e rápidos. Um conto de Ellis Morning que tem o seu quê de crítica pouco velada aos ideias neo-liberais aplicados à investigação e ciência.

Bodies in Water é uma boa aplicação por Sarah Frost, apesar de um pouco sem sal, do conceito de périplo na FC. Somos levados através do olhar exploratório de uma jovem pelas ruínas de um mundo colapsado. As suas causas não nos são explicadas, mas somos levados por entre naves espaciais submersas às casas onde os habitantes recuperam as tecnologias maravilhosas de um passado não muito distante ou tomam conta dos seus animais transgénicos inteligentes, enquanto segura um peixe-robot que capturou no rio, por entre os destroços afundados de uma das naves espaciais que agraciou aquilo que foi, em tempos, um espaçoporto.

Repo devolve-nos a simplicidade das aventuras no espaço, com uma história sobre caçadores de recompensas com objectivos similares no espaço inter-solar a colidir. É um tipo de história que está tão à-vontade no velho oeste como na guerra fria ou nas vastidões espaciais. A prosa clara de Aaron Gallagher faz um belíssimo trabalho a descrever as naves que circulam entre os postos avançados nas órbitas dos planetas do sistema solar.

Another Man's Treasure tem um assinalável tom depressivo pós-austeritário. As consequências do neo-liberalismo alastrante são aqui levadas a um extremo lógico e muito plausível nos seus traços gerais. Tom Greene assina uma história triste, com um final feliz mas amargo, de uma viúva que sobrevive a explorar com os filhos uma concessão mineira numa lixeira, num futuro de escassez onde encontrar velhas tecnologias descartadas com materiais raros pode ser o passaporte para a fortuna. Os mineiros estão rodeados de parasitas, vendendo o que recolhem a intermediários monopolistas que, num sistema clássico de factual escravidão, trocam mão de obra e produtos por bens de primeira necessidade e abatimento de dívidas. Párias numa sociedade que rejeita os que são pobres, não têm acesso a cuidados de saúde e aos seus filhos é recusada a admissão às escolas por directores que temem o impacto destes nas estatísticas de resultados. Pequenos detalhes, mas que espelham a deprimente realidade que nos estão a impor. A história termina com um final feliz mas amargo, que nos mostra o valor do conhecimento mas também que se sente que há poucas alternativas à ordem vigente senão a de jogar pelas suas regras. A jovem viúva só se torna alguém de valor quando tem algo a oferecer a uma empresa de extracção de metano nas lixeiras. Um conto futurista muito simbólico sobre as pressões que se vivem nos dias de hoje.

All Human Things é desconcertante. A humanidade, que se espalhou pelo espaço e coloniza planetas, está ameaçada por uma raça reptiliana que funciona como mentes de colmeia. Mas esse é o pano de fundo para uma história de aventuras reduzidas que se fica pelas tensões entre um homem salvo dos alienígenas e o seu salvador, um humano artificial que passa o tempo à procura das raízes e a defender-se dos radicalismos fundamentalistas. Ou seja, a Terra está a ser invadida por extra-terrestres que raptam humanos para experiências genéticas e instala colmeias nas maiores cidades humanas, e estas duas alminhas protagonistas apenas se preocupam com a artificialidade do bebé proveta ou com volteios pelos comboios num planeta onde está tudo calmo e tranquilo apesar de em guerra total contra uma espécie implacável. Este conto de Dave Creek é um exemplo de como se pode falhar por completo o alvo. Já li pior, mas esperava mais da novelette que encerra uma publicação da qualidade e prestígio da Analog.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Playtime


Quase pronto. Falta aplicar texturas. Nota para o próximo desafio: encontrar forma de traçar pontas de asa em ogiva, que estes arcos extrudidos não chegam sequer ao razoável.

Interzone #251



Ghost Story - um conto incómodo de John Grant. Boa parte dispersa-se em reflexões sobre as possibilidades do amor que parecem deslocadas no ambiente da Interzone. O que lhe dá o lado de pura ficção especulativa é a sua premissa de base. Uma antiga paixão telefona a um homem feliz no casamento a contar-lhe que está grávida dele, o que parece ser uma impossibilidade porque há décadas que o homem não a vê. Ficamos a pensar em fantasmagorias ou na clássica estrutura narrativa fantástica que é o conto do doppelgänger, em tudo similar ao personagem principal excepto na inversão moral dos seus actos. É por aí que o autor nos leva, até concluir de uma forma surpreendente. O encontro entre o homem e o seu antigo amor para discutir a improvável gravidez torna-se num momento em que as fronteiras probabilísticas do real se esbatem. O que poderia ter acontecido acaba por acontecer e o que aconteceu deixou de acontecer. Restam as memórias de uma vida que viveu mas que nunca existiu, e uma nova vida que é a de sempre. O final é uma interessante variante sobre o tema dos universos que se bifurcam a partir das decisões individuais.

Ashes - no conto de Karl Bunker a perda de um ente querido é a faísca para uma viagem a um futuro possível. O desenvolvimento da inteligência artificial trouxe maravilhas e catástrofes, e trouxe essencialmente fugacidade. Parece que ao simular e acelerar processos mentais as máquinas adquirem consciência mas depressa se esvaem, ou por transcenderem ou por desespero existencial ao descobrirem os limites do conhecimento. Num pormenor delicioso o autor não se decide por qualquer uma destas vertentes. No mundo futuro abundam os suspeitos do costume nas tecnologias de maravilha, mas também abundam projectos extraordinários inacabados porque os transhumanos que os construiram perderam o interesse e esvaíram-se. O que resta da humanidade, após guerras destrutivas potenciadas por novas armas nano e biotecnológicas, reside dispersa em comunidades isoladas que temem o mundo exterior. É esta visão de futuro, misto de utopia com apocalipse distópico, e a visão irónica sobre o acelerar da inteligência com meios tecnológicos, que torna interessante este conto. É uma visão crítica e refrescante sobre o pós-trans-humanismo singularitário.

Old Bones - curiosa vinheta de Greg Kurzawa que me fez recordar aquele conto de Ray Bradbury onde um homem perde os ossos com ajuda de um médico ocultista. Estamos numa cidade em ruínas, após um apocalipse passado, e um sobrevivente refugia-se de misteriosas criaturas de aura ameaçadora. Um cirurgião tenta auxiliá-lo, mas os seus métodos são muito pouco convencionais. Digamos que envolvem afogamentos e autópsias revivificantes. Um curioso momento de weird fiction para descansar o leitor das ficções especulativas.

Fly Away Home - Space opera ou fábula negra sobre o papel das mulheres em sociedades fundamentalistas? O conto de Suzanne Palmer trilha muito bem este caminho com uma história profundamente distópica sobre uma mulher, mineira num asteróide, serva de uma civilização fundamentalista religiosa que trata os homens como gado e as mulheres como procriadoras. Trabalham como escravos para se libertar de dívidas, são castigados pelos menores desvios à ética religiosa e são tutelados por plenipotenciários de poder absoluto. O acendo ao fundamentalismo islâmico é óbvio, mas a autora consegue manter alguma ambiguidade na definição exacta sobre que fundamentalismos estamos a falar.

A Doll is not a Dumpling - conto de Tracie Welser onde um robot que serve bolinhos chineses de massas aos transeuntes é reprogramado para assassinar um juiz que deu ordem de prisão a uma celebridade. Está um pouco para cá da fronteira do legível, não se percebendo a sua lógica interna.

This is How You Die - curtísima de Gareth Powell, a fazer bom uso da iconografia do desastre apocalíptico capaz de extinguir a espécie humana. Fica-se sem se perceber se este conto é um todo, é fragmento de algo maior ou apenas apontamento experimental.

Como habitual, a revista delicia-nos com o humor de David Langford e as interessantes colunas de novidades literárias, cinema e DVD. Jonathan McCalmont continua a assinar intrigantes ensaios críticos sobre FC, versando este mês sobre a ciclicidade de um género que se vai renovando periodicamente.

Playtime


Não é bem das minhas preferências mas é um detalhe que faltava. Mas depois deste trabalho todo, quando aplicado no modelo final, mal se vê. Bolas.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Tédio


Um tédio, esta A12 pela manhã.


Um tédio, esta A12 pela tarde.


Um mimo, esta N118. Suspeito que há aqui um padrão: estar farto de auto-estradas. As nacionais reservam-nos tantos recantos esquecidos de grande beleza.

The Warlord of the Air


Michael Moorcock (1971). The Warlord of the Air. Nova Iorque: ACE Books.

É nestas alturas que as etiquetas se revelam empecilhos. A tentação de descrever este livro como um excelente exemplo de obra proto-steampunk é muito grande, mas fazê-lo seria um grave erro. The Warlord of the Air não foi conscientemente escrito para iniciar um novo movimento literário, e categorizá-lo como proto-qualquer coisa é uma falta de rigor similar à que explica classificações de Wells ou Verne como escritores steam. Há quem o faça, por gritante que pareça. O problema é que hoje é impossível ler este livro sem ser pelas lentes de umas goggles mecanicistas, graças à influência do género. É um crédito para a sua evolução e implementação na cultura popular, mas há que sublinhar que não é o género que marca este livro. É o seu oposto. A ousada iconografia desta obra de Moorcock é uma das centelhas do movimento, fonte de inspiração para a sua estética tão especial.

The Warlord of the Air é uma intrigante e bem urdida experiência de Moorcock no campo das ucronias. A história do Capitão Bastable, oficial colonial que ao tentar pacificar uma discreta mas aguerrida tribo que se mantém irredutível numa misteriosa cidade doa Himalaias se vê no meio de um arrasador terramoto e desperta décadas depois num quase irreconhecível mundo futuro replica um elemento clássico da ficção fantástica, do Rip van Winkle de Irving ao John Carter de Burroughs ou Buck Rogers de Nowlan, todos heróis que acordam em futuros longínquos ou mundos de fantasia.

Moorcock aproveita para fazer um delicioso What If, equacionando um século XX onde as potências ocidentais não se aniquilaram nos campos de batalha da Flandres. O imperalismo colonialista que caracterizou o final do século XIX é aqui extrapolado pelo século XX dentro, com as tensões do Grande Jogo colonial mantidas artificalmente vivas por um consenso entre as Potências que incluem, para além dos suspeitos do costume, uns Estados Unidos fãs de estenderem o manto de protectores sobre a Indochina, um assertivo império nipónico que vai modelando um novo Japão numa China dividida entre enclaves coloniais e territórios controlados por senhores da guerra, e um império russo que cedeu às pressões democratizantes mas não se desagregou em sovietes. Resta, como esperança de um mundo diferente e pós-colonial, um senhor da guerra chinês que congrega no seu bem defendido território anarquistas, rebeldes e dissidentes de todo o mundo e desenvolve novas armas capazes de defrontar as bem armadas frotas de dirigíveis imperiais - ágeis aeronaves mais pesadas do que o ar, capazes de abater os pesados zeppelins, e uma arma suprema desenvolvida por físicos dissidentes que será lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima, ponto de encontro das frotas aladas aliadas que se congregam para aniquilar a cidadela do progressista senhor da guerra que está a provocar inquietação em todo o mundo colonizado.

É neste cenário que se move Bastable, salvo das ruínas himalaias por um dirigível da polícia fronteiriça do Raj anglo-indiano. É levado às glórias urbanas de Bombaim e Londres, cidades que resplandecem de utopia retro-arquitectónica. Atravessa os domínios do império ao serviço de um dirigível de transporte que o leva às américas. Ao perder a paciência com um passageiro excepcionalmente cretino é obrigado a despedir-se, e arranja emprego como aeronauta com um misterioso capitão que acaba por se revelar um dos rebeldes que ameaça a segurança e estabilidade do império. A sua primeira reacção é de intenso patriotismo, mas falha ao tentar aprisionar os rebeldes. Estes revelam-se menos violentos do que esperavam, e levam Bastable ao covil do senhor da guerra, mostrando-lhe o outro lado da utopia imperialista: os povos colonizados, com direitos negados na sua própria terra, permanentemente subalternizados e explorados. Bastable vai-se transmutando de fiel servo de Sua Majestade num homem realista, capaz de perceber os vícios institucionais e com vontade de combater as injustiças que grassam no mundo. Algo que tem o seu quê de retrato da humanidade num século que começou imperial e colonialista mas terminou fragmentado em nacionalismos exacerbados.

A linguagem visual de Moorcock dá a este livro um carácter apaixonante. O périplo por este futuro retro de uns anos 70 do século XX diametralmente diferentes do que realmente foram é nos dado por uma linguagem clara que nos deixa a imaginar um estilismo que mistura o lustro art-deco com a ornamentação belle-époque e o visual tecnológico dos primórdios da era industrial. Em essência, a iconografia do que mais tarde iremos apelidar de estilo steampunk, mas neste livro um constructo ficcional que tenta criar um mundo alternativo com verosimilhança visual e se inspirar nos estilos que marcaram o início do século XX. A desejável imutabilidade imperial está patente na permanência de uma elegância mais à vontade no 1900 do que no 2000.

Talvez o momento em que este livro melhor revela a sua riqueza ficcional é o da empolgante batalha que opõe uma armada de dirigíveis imperiais aliados às forças tecnologicamente mais flexíveis do senhor da guerra, um momento excepcional num livro já de si de excepção. Este é o verdadeiro warlord of the air, um Robur asiático amante dos ideais de libertação.

Este é um daqueles livros que foi languescendo nas minhas pilhas, enquanto aguardava o momento certo para lhe dar a devida atenção. Se estiverem a fazer o mesmo que eu, parem já. O livro é demasiado bom para aguardar momentos certos de leitura, e garanto que a capacidade narrativa de Moorcock é tão boa que até a capacidade de atenção mais fragmentada fica sua cativa num livro que é de leitura compulsiva. Um merecido clássico da literatura de ficção científica, e um digno inspirador da estética steampunk.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Playtime


Indeciso sobre se esta coisa é um submarino ou uma nave.

Vozes danosas

Esta anda a passar despercebida, se calhar intencionalmente. O governo está a preparar um despacho que visa punir declarações públicas de elementos de serviços que prejudiquem a sua imagem ou representem quebras de confidencialidade. A ideia é que as instituições públicas incluam nos seus códigos normas restritivas, sistemas de monitorização e formas de punir quem dos seus funcionários ou colaboradores, em meios de comunicação social, faça declarações interpretada como prejudiciais à boa imagem das mesmas. Estas poderão fazer uso dos meios que entenderem para investigar potenciais infracções. Isto é um óbvio atentado à liberdade de expressão e privacidade.

À partida é uma proposta aparentemente inútil. Os funcionários públicos estão obrigados ao dever de confidencialidade. Se eu, como professor, vir divulgar os dados confidenciais dos alunos a que tenho acesso ou fazer algo tão simples como publicitar uma actividade com alunos com fotos de crianças para as quais não tenho autorização dos respectivos encarregados de educação, poderei sofrer as consequências legais disso. Se forem proferidas declarações públicas sobre instituições ou seus elementos que sejam falsas, difamatórias ou injuriosas, também há leis e processos legais para aferir factos e, se necessário, punir actos. Para quê isto, se já existem mecanismos legais? E sublinhe-se o legais, com a necessidade de rigor e diligências.

Talvez porque o verdadeiro objectivo seja o de amordaçar vozes discordantes. Este governo e as forças que o apoiam e dele beneficiam têm contado com o beneplácito das linhas editoriais dos principais meios de comunicação social. É algo notório no teor acrítico e propagandístico das notícias e alinhamentos de notícias nos meios de comunicação de maior penetração mediática. Espera-se dos jornalistas isenção, não transcrição acéfala de comunicados governamentais sem as mais elementares revisões de factos afirmados. Das linhas editoriais espera-se equilíbrio de posições, não mistura de alarmismos de base duvidosa com propaganda pura. Já as vozes críticas dos colunistas têm normalmente em comum o perceberem muito pouco do que criticam quando falam das vertentes mais minuciosas dos serviços públicos, ficando-se habitualmente pelo lugar-comum ideológico.

As críticas mais certeiras, eficazes por serem feitas com conhecimento das condições reais do terreno, às decisões tomadas por políticos e responsáveis governamentais cujos efeitos são prejudiciais à qualidade dos serviços públicos têm vindo de vozes independentes. Estas fazem uso dos novos media para falar do que conhecem, contrapondo às demagogias e frases feitas dados concretos, opiniões fundamentadas e críticas sustentadas. São vozes que incomodam, por não estarem incluídas no pacote de jornalismo acéfalo e colunistas válvulas de escape que caracteriza a confortável almofada mediática que têm transmitido uma imagem positiva de decisões e políticas prejudiciais ao país. Esta é uma óbvia forma de silenciar a dissidência, amordaçando quem critica com conhecimento de causa com normas que violam direitos elementares.

A proposta é vaga e generalista, o que é outra táctica de intimidação. O que é que constituirá "declaração pública prejudicial à imagem"? Crítica certeira? Revelação de processos de trabalho e mecanismos internos com resultados nocivos sobre o funcionamento de instituições? Resmungo numa rede social depois de um dia de trabalho que correu mal?

Esta é mais uma lei danosa, saída de um governo a soldo de interesses específicos que se especializou em reformar o país (deturpando o conceito de reforma) desmantelando o bem público com um zelo messiânico. Suspeito que com um parlamento clientelar e um presidente da república tão zelota do neoliberalism uma lei destas passe sem pestanejar. Já se percebeu que na comunicação social isto não passou de nota de rodapé. Liberdade de expressão? Isso não interessa, interessa é manter o respeito pelas instituições e os senhores doutores que as tutelam, e não deixar passar cá para fora os desmandos, incompetências ou destruições deliberadas. Porque a transparência é boa ideia apenas quando se quer implantar mistificações na opinião pública. Não resisto a reflectir que o salazarismo do respeitinho é muito bonito ainda está demasiado enraizado no carácter português.

Comix


Fui ao supermercado... e saí de lá com uma prendinha. Intriga-me esta estratégia da Goody em apostar numa publicação regular intensa de um leque de revistas Disney. Apesar da garantia de atenção desperta dada pela longa tradição da Disney na BD infantil, é de notar que estamos a viver tempos de profunda crise, este segmento de mercado é restrito e uma revista não é um produto prioritário. Ttalvez esteja a servir como alternativa barata aos mimos que pais e avós gostam de oferecer às crianças. O que se nota é que, pela proliferação e continuidade de lançamentos, algo está a correr bem. E ainda bem que assim é.


Já faziam falta publicações destas no mercado português. São essenciais para estimular a leitura, e em particular o gosto pela BD. Esta linha de pensamento até é assumida como editorial, apesar de estragarem a coisa com uma típica frase-treta de marketês com aquele adequada ao target no final.

Esta invasão Disney/Goody não é isolada. A Panini atreveu-se a editar comics da Marvel, e as editoras tradicionais ou independentes vão lançado livros novos, com forte destaque para os autores portugueses. Parece que estamos a viver um ressurgir da edição de BD em Portugal. É o terceiro que me recordo.

Nos anos 80 era fácil encontrar nas bancas BD da Disney e Marvel/DC naquelas traduções brasileiras da Abril e nas livrarias imperavam as edições franco-belgas da Meribérica. Tudo isso desapareceu e a BD por cá tornou-se raridade, mas entre o final dos anos 90 e os primeiros anos do século XXI a coisa pareceu mudar. Surgiram novas editoras com fortes apostas de mercado, numa explosão editorial que teve como efeito perverso saturar um mercado frágil. Depressa acabou, mas ficaram nas estantes muitas belíssimas edições de BD traduzida e de autores portugueses.

O que parece distinguir esta terceira vaga de dinamismo editorial é o forte foco na edição de BD escrita e desenhada por autores portugueses, aposta em plataformas múltiplas e esforço qualitativo que se tem traduzido num conjunto de livros marcantes. Outro ponto de interesse é que a lição da vaga anterior parece ter sido aprendida. Edita-se, editam-se coisas interessantes, mas não se satura um mercado que pela dimensão do país e anémicos hábitos de leitura,  apesar dos esforços de professores e educadores, será sempre frágil e reduzido. Entre as Disney e Marvel nas bancas, a SDE, Kingpin, Polvo e outras nas livrarias, edições digitais independentes de estúdios de criadores, esta é uma boa altura para a BD por cá.

(Mas bolas, lamento. Não consigo gostar do estilo gráfico dos comics Disney desenhados por italianos. É uma sensação estranha, as personagens ficam com um aspecto curváceo e voluptuoso. Mas note-se que este resmungo é um gosto pessoal, e já sou suficientemente crescidinho para distinguir entre preferências individuais e a necessidade de diversidade cultural.)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Playtime


Onde é que deixei as chaves? A brincar no SubDivFormer. Bolas, só russos é que se lembrariam de dar um nome tão tosco a uma app destas.

Comics


Captain Marvel #03: Space opera discreta com muita elegância e bom humor. O estilo simples do ilustrador não é o que se espera do registo de aventuras no espaço, mas tem uma inegável elegância de traço que se nota em particular na forma como desenha a Capitã Marvel, que consegue ser sensual sem ser patéticamente sexualizada. É algo muito raro de ver no mundo dos comics. O que segura a série é o argumento de Kelly DeConnick, a meter a Capitã com os Guardiães da Galáxia e a aproveitar para andar a visitar muitas civilizações alienígenas. Um comic discreto, mas divertido.


The Royals Masters of War #04: O cenário da II guerra e o traço cuidado de ilustração é o que não deixa esta série de premissa patética resvalar para o absurdo. A equipe gráfica de Coleby e Erskine está muito à vontade com a iconografia da época, e quando não têm de se concentrar na narrativa do argumento as vinhetas explodem de acção recriada com rigor.


Hellboy in Hell #06: Há uma história neste comic. Hellboy vagueia pelos infernos e vai-se cruzando com mefistofélicas personagens e antigos inimigos. Enfim, há uma história, é divertida, e recupera um personagem icónico que está a ser intencionalmente mantido em banho-maria. O que torna este comic extraordinário é ser ilustrado por Mike Mignola, o que nos dias que correm é um privilégio. Hellboy não se tornou o que se tornou pelas suas histórias. O traço pessoal do seu criador é o outro elemento que valorizou e projectou este personagem no mundo dos comics. Mignola tem andado afastado da ilustração, concentrando-se no delinear dos argumentos de Hellboy e restantes séries que cresceram a partir daí. Note-se o delinear. Mignola estrutura e outros são encarregues de escrever os argumentos. Ler e ver puro Mignola tem sido uma raridade nos tempos recentes.


Starlight #03: Esperem lá, isto é ilustrado pelo Moebius? Parece, não parece? Se Millar faz um trabalho competente num argumento de homenagem irónica aos clássicos da ficção científica em BD, Goran Parlov tem deslumbrado com um traço que remete para as referências da BD de FC. Ao chegar a um planeta alienígena a referência óbvia é à Garagem Hermética de Moebius. Replica o estilismo, uso sóbrio de cor e o proprio traço. Não que Parlov não tenha uma voz visual própria, mas sabe usá-la para transmitir ao leitor um pouco da continuidade iconográfica de FC que tem marcado o género.

domingo, 18 de maio de 2014

Playtime



Mais experiências com o SubDivFormer no tablet.

Venerar




As arquitecturas improváveis marcadas pelos séculos da Sé e S. Vicente de Fora.

Respirar


No Scratch Day 2014, na ESE  de Setúbal. É bom poder respirar. Fugir às pressões de um sistema educativo a ser cilindrado pela combinação de austeridade e neoliberalismo alastrante, observando e partilhando experiências num evento que preserva o espírito experimental e criativo para o qual já não parece haver espaço nas escolas. A manhã foi passada em colóquio, com apresentações sobre experiências de uso do Scratch, entrega de prémios de concurso de programação e uma justa homenagem à Teresa Martinho Marques. A sua persistência e entusiasmo têm sido fundamentais para a aceitação e expansão por cá de algo que mais do que uma linguagem de introdução à programação, é uma forma divertida de estimular funções metacognitivas e criatividade nas crianças recorrendo à tecnologia digital.


Das sessões da manhã, interessantes do ponto de vista académico, retiro isto. Ao nível mais elementar, não interessa que ferramenta se utiliza, se é 3D, Scratch, multimédia ou outras. Interessa é manter em vista o objectivo de estimular nas crianças o criar/produzir, mostrando-lhes que se podem ir mais além do que o consumo passivo de conteúdos. E isto, parece-me, é tão verdade nas tic como nas artes ou outras áreas. Intriga-me esta cada vez maior proximidade conceptual entre os mundos tecnológicos e artísticos no partilhar, criar e experimentar para descobrir.


A parte da tarde foi dedicada à experimentação. Muito Scratch (estava a decorrer um concurso de programação), robótica com Lego Mindstorms, open hardware com Arduino, e combinação de Kinects com Scratch. Nestas alturas sou um espectador intrigado e interessado. Entre as responsabilidades habituais e o aprofundar da ficção científica e 3D na educação já tenho muito para me inquietar. As possibilidades artísticas da robótica e arduino intrigam-me mas ainda não é hora de me debruçar sobre isso com profundidade. Já o Scratch fascina-me pela forma como torna táctil os processos mentais de resolução de problemas dos alunos. É algo que se sabe e se lê sobre, mas só se sente realmente quando se leva a ferramenta para a sala de aula.


Isto foi o verdadeiramente o mais interessante neste dia. Olhar à volta para o átrio da ESE de Setúbal e ver a quantidade de crianças e adolescentes que andava por lá a programar e a mexer com robots. A aprender e criar num ciclo que se auto-reforça. Longe de imposições estatísticas, apenas pelo gosto de experimentar, ter ideias e levá-las mais além. Se me perguntarem o que é que é desejável no ensino e aprendizagem, como o mais fundamental, sem entrar em considerações sobre áreas específicas, respondo que é isto. Aprender a gostar do conhecimento.

sábado, 17 de maio de 2014

Playtime


Renderings de teste no Bryce. Ainda não está completo. Quis ter uma noção de como ficaria com os truques de luminosidade e materiais do programa. Ainda quero adensar a zona dos cockpits. Mas suspeito que este exercício esteja quase a terminar.