Uma das interessantes estratégias narrativas da ficção científica é o criar de toda uma civilização alienígena destacando e ampliando uma faceta da enorme diversidade humana. A partir de um elemento histórico, corrente de pensamento, tendência social ou elemento de carácter que é reduzido ao absurdo e levado ao exagero constrói-se uma visão alternativa de sociedades plausíveis, dadas as condições iniciais do gedankenexperiment. É uma forma de nos olharmos com uma lente distorcida e, ao comparar o ficcional com a inspiração saída do real, reflectir sobre alguns dos melhores ou piores aspectos da humanidade. James Gunn faz isso de forma magistral em Transcendental. Cada espécie galáctica que nos apresenta é fundamentalmente uma extrapolação de uma faceta humana ou remota possibilidade científica.
Quando descreve a sociedade feroz e competitiva dos Xifor, criaturas aguerridas semelhantes a fuinhas, Gunn está a satirizar de forma muito subtil os amantes dos ideais espartanos e, menos subtilmente, os rigores e provações dos fascismos e nazismos:
"Xifora live or die alone. So life was for this person. This person was the smallest of a brood of a dozen hatchlings, of which five died and were eaten in the nest. This person would have been eaten as well had not this person’s cleverness and will led to survival in this person’s first days out of the shell. This is the way of the nest: hatchlings eat or are eaten."
"School was good, not least because it provided a period when survival was not at stake and wits could be turned to the larger issues that lay ahead. And the best part was that the worst hatchling tormentors were the poorest students; those persons who depend upon size and power discovered that strength alone was not enough, that the mind had powers beside which the greatest physical endowments dwindled to insignificance."
"Xifora parents were like Xifor itself: hard, demanding, unsentimental. Like Xifor, parents bred offspring hardy and self-reliant. Those persons survived who should survive because those persons were strong of body or will; the weak failed and were eaten; and thus Xifora grew stronger and more capable with each generation."
Soa como um exagero dos idealismos espartanos que afirmam a superioridade moral do endurecimento do espírito humano através da privação e sofrimento. Mas talvez seja um aviso sobre as incoerências e o ridículo de certas ideias, levadas muito a sério pelos mais conservadores.