quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Eagle


Não satisfeito com alguns pormenores, refiz o cockpit do Eagle embora sem os detalhes completos. Afinal, isto é uma experiência...


O objectivo deste projecto é o de criar um modelo em X3D para um mundo virtual. A seguir há que criar a base e integrar com os modelos já existentes. Mas não resisto a uma exportação em DXF para tratamento no Bryce. Em VRML gosto de deixar as coisas simples e trabalhar com as paletas de cores existentes, apesar de um pouco limitadas, e fugir a imagens de textura. Quanto menos ficheiros dependentes melhor. O Bryce dá aquele deleite de um certo hiper-realismo digital. E nesta renderização é que se começa a ver onde é que eu amarfanhei o modelo...

Ciência à bomba


- Ó stor, posso pôr aqui uns canhões?
- Mas estás a modelar um barco de pesquisa científica. Agora a ciência faz-se à bomba, com explosões?!?
- Pronto stor, não ponho... diz o aluno com um ar um pouco triste.

A progredir nos peixes pelágicos. Nesta fase, alguns alunos estão a modelar em DogaL3 objectos específicos para a animação - barcos e ROVs e outros a preparar o cenário para a animação 3D. Sem canhões. Por muito que reclamem...

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Camera Obscura


Lavie Tidhar (2011). Camera Obscura. Nottingham: Angry Robot Books.

Situado no mesmo universo imaginário que o fantástico voo de imaginação que foi The Bookman, Camera Obscura regressa aos temas de intriga conspiratória e mistério de ficção científica de sabor retro que Lavie Tidhar recria com mestria. Desta vez, o palco muda para Paris, cidade-luz e capital da república dos autómatos onde uma bela agente secreta ao serviço de uma sociedade secreta se vê envolvida na busca de um artefacto que todos crêem ser de grande poder, mas que afinal é uma sonda possibilitadora de abertura de buracos no espaço-tempo de onde pode sair uma invasão de alienígenas futuristas.

Este intrigante e divertido romance não se esgota nestas linhas. A personagem principal tem de se mover entre intrigas internacionais, agentes secretos, operacionais quase super-humanos contaminados por uma substância capaz de dar vida aos mortos, grupos chineses mestre em artes marciais, autómatos que prolongam a vida de personagens influentes (o marquês de Sade está particularmente bem conseguido) e um verdadeiro desfile de personagens inspiradas na literatura de época. Tudo no cenário steampunk que Tidhar criou para esta série. Pura aventura, robots mecânicos, intrigas internacionais numa história alternativa, e um enigmático disco voador no final do livro a deixar um prenúncio do que virá a seguir. Se The Bookman foi um fantástico voo de imaginação cheio de ideias fascinantes, Camera Obscura consolida o universo criado pelo autor. E o que se seguirá?

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Teste

Eagle WIP II


Praticamente pronto. Falta-me rever o cockpit, onde me enganei nas janelas e ainda gostaria de o deixar mais pormenorizado. O modelo está bastante fiel à imagem de referência que arranjei. Só as treliças e estrutura exterior é que estão amarfanhadas. Isto de reposicionar objectos com precisão nas coordenadas XYZ é duro.


Muito detalhada, mas com alguma falta de pontos de vista que me dificultou o trabalho. De qualquer forma, a ideia era tentar criar um modelo para um dos meus mundos virtuais e melhorar a proficiência na criação de objectos 3D. Utilizei apenas o Vivaty Studio, para me obrigar a treinar construção de objectos complexos com extrusões, revoluções e operações booleanas.


Uma das coisas boas do VRML é a leveza dos ficheiros. O ficheiro Vivaty tem cerca de 3 Mb. Exportado como X3D, com compressão, todo o modelo pesa uns meros 253 kb. Leram bem. Kb. VRML não comprimido, 1.9 mb. E DXF para importação para outros programas, 18 mb (o que não surpreende pela quantidade de objectos que compõem o modelo). Como teste, fica uma renderização em Bryce, sem tratamento das meshes nem aplicação de texturas, para antever como ficará em imagem ou animação 3D. Quanto ao VRML... resta-me modelar o centro de comando da base Alpha. Será o centro do mundo virtual Moon Films.

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Two-Step


Warren Ellis, Amanda Conner (2011). Two-Step. La Jolla: Wildstorm.

Numa Londres futurista de sanidade duvidosa um assassino zen e uma camgirl em busca de sensações fortes para a sua audiência envolvem-se com um gang violento por causa de um pénis gigante. Exacto. Leram bem. Pelo meio temos bizarrias à solta, um assassino profissional que se excita sexualmente com automóveis e momentos de filosofia ao puxar de um gatilho. Warren Ellis à solta, a divertir-se num ritmo pop sublinhado pelas cores vibrantes do estilo gráfico da ilustradora Amanda Conner.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

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Branco menos branco não há


E no capítulo de hoje de momentos and now, for something completely different, estes três guaches de cor branca de uma marca que se encontra nos hipermercados, que alguns dos meus alunos têm o azar de estar a usar. O quê, não conseguem ver o branco? Pois, nós também não. Abre-se o tubo de branco e sai de lá cinzento, sabe-se lá por quê. As diversas marcas de tintas têm sempre diferenças nos pigmentos utilizados que se traduzem em pequenas diferenças nas cores pintadas. E as marcas francesas no mercado português utilizam o círculo de processo, ao invés do CMYK, que é o que ensinamos, mas daí não vem mal ao mundo e os alunos sempre ficam a saber mais qualquer coisinha. Agora, pegar em tubos brancos e sair de lá cinzento... só para tirar teimas, experimentei tubos de três alunos. De lá de dentro saiu este branco surreal.

Shivering Sands


Warren Ellis (2009). Shivering Sands. International Electrophonic Unit.

Mais conhecido pelo seu trabalho como argumentista de banda desenhada, Warren Ellis é um escritor e personalidade da internet com um dedo firmemente assente no pulso da sociedade contemporânea. Shivering Sands é uma obra atípica. Durante anos, Ellis escreveu ruminâncias que espalhou em diferentes locais na internet. Este livro é uma colectânea de alguns dos seus apontamentos, colagem díspare de ideias, resmungos, visões sobre a cultura popular, impactos mediáticos, futurismo agressivo e puros voos de sanidade duvidosa. Enfim, para quem conhece a sua obra, puro Ellis, não destilado e servido sem gelo.

O que torna a obra deste autor intrigante é a sua capacidade de digerir e incorporar na ficção as ideias mais vanguardistas da cultura e ciência em utopias distópicas pouco simpáticas. Ellis começa este livro dizendo que a sua fonte de inspiração é um fluxo constante de informação, que coalesce na sua mente e explode literalmente para as páginas que escreve. Ler Shivering Sands é ser atingido por uma explosão cerebral que liberta sobre o leitor uma violenta tempestade de ideias.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eagle WIP


Entre outros projectos de 3D na internet que tenho entre mãos (em breve novidades e um concurso) dediquei-me a reformular o mundo Moon Films, que criei para testar uma técnica de incorporar vídeo em janelas nos mundos em VRML/X3D desenvolvida pelo Dr. Vítor Cardoso. E é uma boa desculpa para modelar foguetões e naves espaciais, e entreter-me com retro-futurismos e filmes clássicos sobre viagens à lua. Prometo que arranjarei forma de meter no meio de luminárias como o Tintin, os projectos de Von Braun e o foguetão Friede coisas um pouquinho mais esotéricas, como Luciano de Samosata, Cyrano de Bergerac (modelar cisnes, eis um desafio) e, claro, Randolph Carter.

O desafio agora é recriar um módulo Eagle, da saudosa série Espaço: 1999 que segui religiosamente na minha infância. Quando em conversas de café se entra em reminiscências sobre a televisão da infância da geração a que pertenço, costumo ficar com uma expressão neutra, e confesso que todas as referências dadas não significam nada... porque, francamente, apenas as séries Ulisses 31, Galactica e Espaço: 1999 mereciam a minha paixão.


Havia formas mais simples de fazer a coisa. Podia ter montado algumas partes no DogaL3 e o restante no Vivaty Studio. Para me desafiar, decidi modelar tudo no Vivaty. E está a ser mais complexo do que pensava. Um cubo truncado, tão fácil de criar em Google Sketchup, quase estoirou os meus neurónios no Vivaty. Particularmente quando pensei que essa é uma forma pré-definida no DogaL3. Mas o exercício e esforço fazem bem às minhas capacidades auto-didactas de modelador 3D. Não fica perfeito, mas o próximo modelo que criar já incorpora as lições que aprendi e ficará melhor.


Uma lição que já aprendi é a de em modelos complexos, separar o trabalho em módulos e ficheiros individuais. Mais vale ter bastantes ficheiros com componentes que depois se mesclam no modelo final do que um ficheiro gigantesco que se torna difícil de gerir.

(WIP, já agora, é Work In Progress.)
De todas as naves imaginadas pela ficção científica, sempre achei os módulos Eagle como plausíveis, pela sua estrutura modular segura por treliças e modos de propulsão. E as treliças serão o próximo passo no desafio de recriar em VRML um Eagle. Por enquanto, só o exterior, mas quem sabe, um destes dias perco de vez o siso e começo a recriar um Eagle com o interior acessível.

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Massive Change


Bruce Mau, Jennifer Leonard, Without Boundaries Institute (2004). Massive Change. Londres: Phaidon.

Este livro proclama ser não uma obra sobre o mundo do design mas sim sobre o design do mundo. É um objectivo elevado para um retrato de novas tecnologias e tendências culturais que contém a possibilidade de permitir ao homem redesenhar o planeta. Do urbanismo à engenharia genética, passando por meta-materiais, ciência avançada, organização económica e à inevitável influência militar, Massive Change mostra-nos possibilidades de redesenhar as sociedades, combater os maiores problemas com que a civilização humana se debate e novas soluções tecnológicas que prometem maravilhas já ao virar da esquina. Publicado em 2004, as tendências e desenvolvimentos tecnológicos ainda não se encontram amplamente aplicadas aos olhos de quem lê em 2012, mas a promessa e a necessidade de mudar o mundo, fugindo da espiral de pobreza, predação ambiental e decadência civilizacional não perdeu a incisiva importância.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

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Another day another robot.

A Invenção de Hugo Cabret



Passei boa parte deste filme a tentar perceber se esta era realmente uma obra de Scorsese. Hugo é um filme atípico por parte de quem nos legou obras como Taxi Driver ou The Departed. É como se Woody Allen filmasse um drama violento sem uma linha sequer de comédia. Hugo é um filme que vive de fantasia feérica e estética steampunk, uma fábula onde as necessárias tragédias e as estranhezas das personagens secundárias se conluem para um inevitável final feliz. Um filme sorridente, luminoso, muito inocente, que parece fazer pouco sentido na carreira deste realizador. Até que me lembrei do seu documentário sobre o amor pelo cinema e aí sim, percebe-se o porquê deste filme.



Ominpresentes mecanismos de relógio renderizados em alta resolução


Paris numa estética saída da ilustração clássica, quase Dickensiana.


e autómatos. Alguém disse clockpunk?

Há duas grandes vertentes neste Hugo: a linha narrativa fantasista, que Scorsese decora com mestria e uma mistura de decór e efeitos especiais assombrosa. Escrevo decora porque se sente que falta qualquer coisa. Com muito brilho, o realizador conta uma história engraçada. O grande momento, em que o filme se abre e sentimos a sua razão de ser, está nos momentos em que se aborda a carreira de Georges Meliès, um dos personagens deste conto cinematográfico. Aí sentimos o entusiasmo pela magia do cinema, o amor ao celulóide e o gosto puro pela máquina que está por detrás da imagem projectada. É uma lição sobre a sétima arte, dada por um mestre num misto de recriação entusiasta e reminiscência nostálgica. Sem esta vertente, Hugo seria um filme banal, giro de ver e indubitavelmente um espectáculo visual de cenários digitais, mas pouco mais do que isso.


Scorsese diverte-se a recriar as fantasias feéricas de Meliès.

A visão pessoal da história e magia do cinema torna-o numa obra que vai marcar outros amantes das maravilhas da sétima arte. É como rever A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies em versão fábula infantil. Não deixei de sentir a narração deste filme como a de um avô apaixonado que conta histórias aos seus netos.


Acenando à tradição dos realizadores aparecerem disfarçadamente nos seus filmes, que Hitchcock transformou num jogo de enigmas, eis Scorsese como homem da câmara... não de filmar, mas de fotografar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

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Another day another robot.

Alvo em movimento

No nuclear space arks, no jetpacks. Robot skateboards and butterflies that glow green.

We all forgot that the future is yet to be written. No-one knows how it's going to turn out. The best we can do is track the future as it happens, and use our fiction as a tool with which to understand where we are.

By the time you read this, everything in it will be history. The future's a moving target. That's why it needs tracking.


Warren Ellis (2009). Shivering Sands. International Electrophonic Unit.

Testes de Conceito

(Espelhado do 3D Alpha)

A fase de exploração do 3D pelos alunos do 5ºE chegou ao momento em que tem de ser criados modelos sob tema definido para animação. O primeiro passo é fugir ao computador e colocar em papel rascunhos e ideias do que os alunos querem modelar em 3D. Em seguida, é preciso olhar para os desenhos e começar a pensar como modelar, que objectos criar e quais os programas mais adequados. O 3D não é fácil, mesmo utilizado aplicações simples como o Bryce ou o Doga. Faz algum jeito que antes de deixar os alunos avançar se façam testes, recriando as suas ideias, para ver quais as técnicas e programas mais eficazes para que possam desenvolver o seu trabalho com um mínimo de problemas. É nesta sequência que surge este barco, modelado por mim a partir dos esboços de uma aluna para perceber qual a estratégia mais eficaz para que uma criança consiga recriar em 3D as suas ideias.




Após os desenhos iniciais discute-se com o aluno qual a forma tridimensional do rascunho, para perceber como visualizou o objecto.


Em seguida, passamos à fase de modelação. Como fazer, que programas utilizar? Para alguns elementos, o Doga L3 é óptimo por permitir a montagem de objectos a partir de peças disponíveis. Outros já obrigam a formas de modelação avançadas - é o caso da cabine, criada com extrusões e operações booleanas. Outros modelos podem ser obtidos através de pesquisas em sites que oferecem objectos 3D gratuitos.


O modelo foi criado no Vivaty Studio, modelador 3D orientado para o VRML/X3D. Para uma antevisão do objecto com maior realismo, foi exportado em formato DXF para o Bryce 7. Após uma aplicação de materiais e luzes ambiente, o rendering deu este resultado.


Para terminar, uma versão mais próxima do que se pretende do trabalho dos alunos. Estes modelos e renders são uma prova de conceito, para perceber qual a melhor forma de orientar os alunos na criação dos seus modelos 3D.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Shivering Sands

"I still get asked with appalling regularity "where my ideas come from."
Here's the deal. I flood my poor ageing head with information.
Any information. Lots of it. And I let it all slosh around in the back of my brain, in the part normal people use for remembering bills, thinking about sex and making appointments to wash the dishes.
Eventually, you get a critical mass of information. Datum 1 plugs into Datum 2 which connects to Datum 3 and Data 4 and 5 stick to it and you've got a chain reaction. A bunch of stuff knits together and lights up and you've got what's called "an idea".
And for that brief moment where it's all flaring and welding together, you are Holy. You can't be touched. Something impossible and brilliant has happened and suddenly you understand what it would be like if Einstein's brain was placed into the body of a young tyrannosaur, stuffed full of amphetamines and suffused with Sex Radiation."

"I hate Los Angeles because it is a city not designed for humans.
It is designed for cars. Humans not required. One day it's going to be filled with nothing but robot cars, cavorting on the highways of a city where humans were never ever meant to be."

"October 3, 2008 I am watching with some astonishment an ep of Law & Order Svu in which the dead victim was sodomised with a violin bow. a violin bow. I mean, all the shit that was talked about the "horrible,weird" stuff in my novel: and there on us network tv violin-bow sodomy.
Yeah, I'm the bad guy, but Mariska bloody Hargitay just got another Emmy for tearily muttering "sodomised...with a violin bow." fucksticks. 15 years of "Warren, why put disgusting stuff in these nice comics?" On TV: "sodomized with a violin bow. now look at some doritos ads."
This is how people become serial killers, you know."

"The future is information. The future is about information. It's also about making the word "culture" mean what you want it to."

Warren Ellis (2009). Shivering Sands. International Electrophonic Unit.

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The Lady and the Monk: Four Seasons in Kyoto


Pico Iyer (1992). The Lady and the Monk: Four Seasons in Kyoto. Nova Iorque: Vintage Books.

É curioso ler neste livro como um indiano de origem britânica e com um pé nos estados unidos sucumbe ao mais clássico vício europeu do orientalismo sensual. Iyer descreve neste livro as suas experiências de um ano de vida no Japão, em busca do espírito tradicional, algum budismo e conhecimento sobre a mentalidade zen. A lição que aprende é outra: a de que raramente encontramos o que procuramos, e descobrimos o que não pretendemos. Ao longo de um ano em Kyoto, o que sobressai é a curiosa relação que estabelece com uma dona de casa nipónica que aproveita a partilha de experiências com o escritor para se reinventar como pessoa, ultrapassando os limites socialmente impostos às mulheres japonesas. É daqui que sai o título do livro, uma reminiscência da tradição literária japonesa de contos sobre monges e mulheres tentadoras. Desconhecemos se Iyer encontrou a iluminação interior que claramente pretendia ao fixar-se no Japão, mas percorremos o intrigante caminho de auto-descoberta e libertação de uma outra pessoa sob os olhos atentos do escritor.

Seria um não muito interessante romance autobiográfico senão pela profundeza das descrições de Iyer. Se ao falar da relação as páginas se arrastam, a profunda reverência do autor pela literatura japonesa, as suas descrições da vida comum e das experiências de um ano de viagem por um país de usos e costumes radicalmente diferentes dos ocidentais dão a este livro o sabor de exotismo e realismo que caracteriza a melhor literatura de viagens.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Frutos Estranhos

Talvez para contrabalançar a iconografia carnavalesca que mitifica a imagem do Brasil o Centro de Arte Moderna apresenta duas exposições de artistas brasileiras com estéticas diametralmente opostas.

Quatro Estações de Beatriz Milhazes é uma explosão de cor em colagens de grandes dimensões, vibrante em formas simples, cores vivas e materiais reaproveitados. Um festim colorido para os olhos.



Para um tecnologista, a exposição antológica Frutos Estranhos de Rosângela Rennó é um mergulho na nostalgia de media obsoletos, iconografias pessoais, fixação de memórias fugidias em objectos tecnológicos. Mistura resquícios fotográficos, equipamentos obsoletos e descartados, material impresso tornado irrelevante pela marcha do tempo.



As tecnologias dos media apresentam usos muito pessoais quando aplicadas ao indivíduo. Todos sentimos aquele impulso de registar o efémero, fixar a memória, tentar imortalizar a impressão do momento. É significativo para o indivíduo, mesmo que irrelevante para a sociedade em geral. Quem se interessa por fotografias de momentos pessoais, registos da banalidade do dia a dia? Na verdade, uma miríade de pequenas irrelevâncias gera uma substancial paisagem nostálgica, que confrontam o espectador com memórias alheias e que o levam a meditar sobre as suas próprias percepções do passado.



Misturando objectos encontrados, registos tecnológicos contemporâneos e equipamentos quase arqueológicos na história da evolução tecnológica, esta exposição mergulha-nos num mundo de percepções com o seu quê de McLuhan. Recorremos a equipamentos técnicos para registar as nossas percepções, e o uso destes altera o que esperamos daquilo que percepcionamos. 

Há outras dimensões nos trabalhos expostos. Estas foram as que me tocaram ao percorrer as salas cheias de memórias estranhas.