Edição número treze não significa edição azarada, com a revista a continuar a manter um elevado nível na ficção e particularmente na não-ficção. Com uma excepção, explicável pela posição da revista como parte integrante de uma editora que apesar de separar as águas não deixa de ter influência em parte do seu conteúdo. Assim compreende-se que no grafismo cuidado e com espectacularidade garantida dentro dos estreitos limites das convenções gráficas da fantasia surja uma antevisão de adaptação para banda desenhada do obra de George Martin que se pauta por um grafismo medíocre, muito abaixo dos padrões de qualidade dos comics enquanto vertente da banda desenhada. É curioso comparar o grafismo banal onde sombra é elemento inexistente com o destaque dado ao ilustrador da capa, com um estilismo interessante apesar dos limites da temática.
(Ok, estes meus resmungos sobre a "arte" da FC/Fantasia têm a sua razão de ser. Tecnicamente, os ilustradores que utilizam técnicas tradicionais, pintura digital ou 3D para este género são brilhantes. Particularmente os que usam o 3D para hiper-realismos inusitados, que quem percebe um pouco da coisa sabe que são dificílimos de alcançar. Estilisticamente, os elementos iconográficos caem dentro de convenções estreitas. Ou seja, é tudo muito giro e muito bem feito, mas tudo igual e repetitivo. E não precisa de o ser, como nos anos 70 provou o grafismo da revista New Worlds.)
O que esperar deste número supersticiosamente fatídico da revista Bang!? David Soares leva-nos aos bastidores do chapeleiro de Alice no País das Maravilhas, Afonso Cruz dá uma interpretação surreal a vinhetas da história, António Monteiro traça um curto perfil de M. R. James, Jorge Colaço revê um pouco da biografia de Dickens num romance que traduziu e João Morales partilha leituras definidoras de carácter. Safaa Dib e João Barreiros partilham indicações a aspirantes a autores. Pedro Marques dá-nos histórias da censura em Portugal com o mote de uma obra de Ray Bradbury que se distingue por ser visceralmente anti-censuras. António de Macedo fala com grande erudição sobre influentes livros fictícios e João Lameiras dá-nos um vislumbre precioso de um álbum de banda desenhada raro e marcante. João Seixas analisa profundamente o fenómeno literário do vampirismo sexualizante contemporâneo, com um intrigante foco na vertente feminista deste sub-género. Pessoalmente, ao ler sobre a significância dos vampiros emo e caçadoras libertas não pude deixar de me recordar das edisonades. Temáticas abismalmente diferentes, claro, mas muito similares no que toca a estilo literário de moda concentrada num tempo específico.
No domínio da ficção, temos um exemplo do género que Seixas analisa no conto Enfeitiçada de Kim Harrison. As Mãos do Marido de Adam-Troy Castro dá um toque de FC ao horror contemporâneo das guerras em terras distantes. Ainda temos curtísssimas resultadas de um concurso literário, um excerto da BD O Cavaleiro de Westeros e a continuação da BD Arquivo Morto, interessante trabalho de autores brasileiros.
Agora começa o compasso de espera pela edição #14...