terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Sei que hoje a moda dita que se desenhem monstros e outros ícones do terror. Então, aterrorizem-se lá com este insecto saidinho de um tenebroso filme de série b. Ataque psicadélico das borboletas sanguinárias seria um bom candidato para título.

Leituras

Guardian | How to revitalise science? Send a briton into space O governo inglês aposta expressamente na exploração espacial robótica e proíbe os seus cidadãos de se tornarem astronautas. O inglês Michael Foale naturalizou-se americano antes de embarcar nas suas missões na ISS. Será, talvez, uma oportunidade perdida - a existência de um programa de astronautas motiva os jovens a procurarem cursos superiores em àreas científicas. E em Portugal, para quando um astronauta com as nossas cores no seu fato?

No Smoking In The Skull Cave | Nosferatu The Vampire O blog No Smoking in the Skull Cave fala-nos de um filme injustamente esquecido: o Nosferatu de Werner Herzog, homenagem do autor ao clássico homónimo de Murnau e com o inimitável Klaus Kinski. É um filme de brumas e pestes, pesado como só os filmes de Herzog o são. Quanto ao blog, está a tornar-se uma das minhas leituras diárias. Pelo-me por apocalipses pop-culturais.

E porque hoje se antevê o dia de todos os santos, na noite de todas as superstições ofereço-vos algo muito especial: A música de abertura do Shining, composta por Wendy Carlos e Rachel Elkind com forte inspiração em Penderecki e Berlioz. Cliquem e ouçam em mp3. Aproveitem que só vai estar activo durante sete dias. Quanto ao filme The Shining, hoje é uma noite propícia a este tipo de cinema.

Fiquem bem, e evitem encruzilhadas pela hora em que soar a meia-noite.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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Dia produtivo. Embora não muito infantil.

Cool

Cool Tools | Cintiq Duas perguntinhas: onde é que eu arranjo uma coisinha destas? E porque é que eu não tenho dinheiro para uma coisinha destas? Kevin Kelly, editor à deriva da Wired, já não passa sem a sua Cintiq. E eu se tivesse uma também não passaria sem ela. Uma Cintiq é um misto de tablet com mesa de digitalização com caneta digital. É como ter um bloco de desenho nas mãos, com o poder do Photoshop e do Corel... será que o pai natal me põe uma no sapatinho...? Bem, deixemo-nos de lamechices.

ScoreBlog Um audioblog dedicado a bandas sonoras de filmes. Desperta o audiocinéfilo que há dentro de nós.

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Desta vez, a cabeça de um gato. Só a cabeça, e considerem-se sortudos por eu não me ter dado ao trabalho de desenhar as veias e as poças de sangue.

Estou a passar uma fase curiosa, infantilizante, cheia de animaizinhos coloridos de ar simpático. Nunca me tinha dado para isto.

Leituras

BBC | Global warming "threat to growth" E agora sim, medidas serão tomadas. Quando as catástrofes ambientais apenas ameaçam de extinção espécies animais ou degradam a qualidade de vida no terceiro mundo, a preocupação não é muita. Mas quando ameaça a sacrossanta crença no eterno crescimento económico, quando o lucro se sente ameaçado... será, talvez, uma estranha aliança, uma vez que foi o desenvolvimento desenfreado apoiado numa boa dose de ganância lucrativa que deixou o planeta neste triste estado. Filosofias à parte, o importante é enfrentar o problema ecológico, o grande desafio da nossa geração. Se os poluidores deixarem de poluir por razões financeiras e não ecológicas, o que fica é a contribuição para o alívio dos problemas ambientais.

Neste mundo poluído, super-urbanizado, sobre-povoado, explorado até ao limite dos seus recursos e no limiar de catástrofes ambientais à escala planetária, não creio que nos restem grandes escolhas. Podemos sempre ignorar os problemas, enterrar a cabeça na areia e erguer a voz num coro de lamentos quando as coisas realmente derem para o torto.

Guardian | Tea and kidnapping - behind the lines of a civil war Aterradora reportagem sobre o ecossistema da guerra civil surda que se vive no Iraque. A banalidade da morte violenta por razões sectárias, o clima de medo generalizado, a violência como elemento essencial ao dia a dia.

Planeta Mafra Que me desculpem os responsáveis por este site agregador de blogs escritos aqui no concelho: a minha mudança do Blogger antigo para a nova versão despejou uma semana de posts na página do Planeta Mafra. A profusão de posts em meu nome deve-se a isso. Não sou assim tão prolífico - embora o sonhe ser...
Se o problema persistir contactarei os responsáveis para eliminarem o meu blog da lista. A nova versão do Blogger ainda está em beta, cheia de bugs, mas mesmo assim consegue ser melhor do que a versão anterior, que está a ficar impossível de utilizar. Vou ver se isto não se repete.

domingo, 29 de outubro de 2006

Mudanças

Mudei o blog para o Blogger beta. Já andava com ela fisgada, numa esperança de blog 2.0. Alterações até agora? A barra lateral perdeu os caracteres latinos... vai ser uma longa tarefa... e não consigo trabalhar através do Opera. Lá vou ter de utilizar o irritante IE.

Problemas no Blogger

O blogger anda a passar-se desde sábado. Tentar publicar um post dá invaríavelmente uma mensagem de erro, que se traduz num erro arcano de javascript. Uma solução possível surgiu nos grupos do Google sobre o blogger: publica-se o post, dá a mensagem de erro, e em seguida clica-se no botão republish index only. A coisa agora vai. Se estiverem a ler os posts de ontem e de hoje, com este incluído, é porque funciona.

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Sem logo.

Mielografia

A quem chegou a este blog através da pesquisa meu cachorro mielografia só posso desejar a melhor das sortes. Trata-se de certeza de alguém cujo muito estimado animal se encontra paralisado devido a uma hérnia discal ou problema semelhante. Em Portugal, encontra-se em Queluz um cirurgião veterinário especializado em neurologia que é excelente a tratar este tipo de casos. Falo por experiência própria. As paralisias provocadas por hérnias discais só são irresolvíveis nos casos de tipo V, os mais graves. Todos os outros obrigam a cirurgias, com períodos de recuperação variáveis, e resultados finais que dependem muito do espírito dos animais e do espírito dos donos. Mas, ao contrário do que acontecia há anos atrás, uma paralisia já não obriga ao abate do animal. E felizmente que assim é. Boa sorte.

sábado, 28 de outubro de 2006

Leituras

Guardian | Mexico fury as Bush gives go-ahead to border fence Há séculos atrás, os chineses construiram a grande muralha para se protegerem dos nómadas bárbaros que lhes arrasavam as vilas e cidades e os obrigavam a montar custosas expedições militares. Nos nossos tempos, o governo americano prepara-se para erigir uma muralha na sua fronteira com o México, para se proteger da invasão dos bárbaros mexicanos que pulam a fronteira para vir pilhar trabalhos vergonhosamente mal pagos como imigrantes ilegais. Estas notícias, e a sua razão de ser - as profundas e injustas disparidades económicas - restauram a fé na desumanidade da humanidade.

The Times | Storm after cleric calls unveiled women "meat" As declarações de um clérigo muçulmano sobre a indecência das mulheres australianas andam a deixar a Austrália ao rubro com a sua comunidade muçulmana. Palavras pouco felizes que só deitam mais achas na fogueira daqueles que acreditam que vivemos em tempos de choque de civilizações.

TIME | Too much of a good thing A França, adega do mundo com a maior produção e consumo de vinho mundial, vê-se a braços com uma crise económica no sector vitivinícola. As grandes marcas continuam a vender-se ao preço do diamante, mas o vinho corrente enche os toneis dos produtores. A concorrência dos novos produtores de vinho - a Califórnia, a África do Sul, o Chile e a Austrália inundou o mercado mundial de tanto vinho que a procura é vastamente inferior à oferta.

Vícios


Totalmente viciado. A ouvir: Aphex Twin, Actium, The Smiths, Bigmouth strikes again, Miles Davis, Summertime. A levar o pc aos limites através do uso excessivo do Corel. O que está à vista é um mero fragmento.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

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Estrela, da manhã.

Leituras

BBC | Tower of babel translator made Parece saído de um conto de ficção científica: investigadores americanos estão a desenvolver um dispositivo que traduz imediatamente sub-vocalizações para outra língua. Quem o utilizar abrirá a boca para falar na sua língua... e a voz que se ouve fala noutra língua. Por agora, a tecnologia está restrita a um vocabulário de oitenta palavras, mas a capacidade de melhorar é prometedora. Conseguirá, no entanto, traduzir correctamente Van Dyck para português, ou sairá qualquer coisa como o camião do dick?

Guardian | This crop revolution may succeed where GM failed Começa a desenhar-se uma alternativa à tão mal afamada modificação genética de alimentos. A técnica mistura o conhecimento dos genes com as técnicas tradicionais de cultivo e dá provas de ser segura e eficiente. Lá se vai um negócio das multinacionais, ganhamos todos nós.

TIME | How to prevent Iraq from getting even worse O atoleiro iraquiano parece não ter solução. Fala-se, já, de abandonar o Iraque ao seu destino - mais um sinal de irresponsabilidade da parte de um país que invade uma nação estável em nome da deposição de um ditador aberrante, e deixa atrás de si um rasto de caos de proporções épicas. Ninguém previa isto, nem mesmo os que eram contra a intervenção no Iraque.

The Times | Men in black arrive in a white truck and the children disappear A guerra civil no Sri Lanka, a Taprobana do poema de Camões, recrudesceu com contornos ainda mais violentos. Ás tácticas de bombistas suicidas dos Tigres do Tamil (esta organização foi pioneira no uso desta táctica) junta-se os raptos de crianças perpretados por uma milícia pró-governamental.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Net papel

Uma das constantes da escola é a guerra entre professores e alunos. Os professores, quando foram alunos, tentavam de todas as maneiras sabotar a entediante normalidade da aula e quebrar a rotina. Tudo valia, desde as clássicas bolinhas de papel sopradas através de zarabatans improvisadas até, num momento memorável, decorar as paredes da sala de aula com fruta esmagada. Como costumo dizer aos meus alunos, de aquilo que eles sabem já eu me esqueci. Tal como aquilo que eu sabia quando era aluno e que os meus professores já haviam esquecido. É uma das constantes da história da educação.

E quando tudo o resto falhava havia sempre o bilhetinho para ir conversado e assim passar o tédio da aula.

Esta manhã confisquei um desses bilhetinhos na sala de aula. Antes de o destruir, o clássico gesto do professor, dei-lhe uma vista de olhos. Uma expressão logo saltou à vista. Os petizes escreveram no bom e velho bilhetinho "quem é que está na net papel?"

Isso mesmo. Era um chat sobre papel.

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Começo a acusar um certo cansaço. A cabeça pesa-me sobre os ombros, a paciência tem detonador curto, e os dias parecem cada vez mais insopurtavelmente atarefados. Talvez ande a batalhar em muitas frentes ao mesmo tempo. Talvez precise de acalmar, desacelarar o ritmo de trabalho. Ou então talvez seja influência destes húmidos dias cinzentos.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Leituras

Wired | Very Short Stories A Wired lançou o desafio: escrever um conto de ficção científica em seis palavras. Automobile warranty expires. So does engine. foi a contribuição de Stan Lee (criador do homem aranha). Ken McLeod contrbuiu com o brilhante We went solar; sun went nova.. Para mais curtíssimas simplesmente deliciosas, vão ler o artigo. Vale bem a pena.

(Stephen Baxter: I’m your future, child. Don’t cry. Não resisti.)

Ensinar na Escola Se há algo que nós, professores, gostamos de fazer é dizer mal do sistema, da filosofia que o sustenta e dos responsáveis políticos. E em noventa e nove virgula noventa e nove por centos das vezes com razão.

TIME | His dark material Poeta da solidão do betão, observador da desolação da paisagem urbana, cronista da decadência associada à afluência, J. G. Ballard publicou um novo livro no seu estilo muito pessoal. Kingdom Come, às voltas com a violência encoberta sobre as montras reluzentes dos centros comerciais, promete mais uma viagem ao inferno da decadência urbana que Ballard retrata tão bem, com o seu ponto de vista tão único que já gerou um adjectivo - ballardian, que descreve as modernas distopias urbanas.

The Times | Man's footprint on ecosystem of Earth too heavy to be sustained Mas quantas veze é que é preciso repetir isto para entrar na cabeça de todos? É o grande desafio da nossa geração: inverter séculos de uso irresponsável dos recursos naturais e adaptar a sociedade humana às mudanças ambientais já inexoravelmente inevitáveis.

Guardian | Buenos Aires or bust A grande moda que se desenha no mundo é a do turismo de saúde - hordes de turistas que aproveitam as férias em destinos exóticos para tratamentos médicos e cirúrgicos a custos inferiores do que nos seus países de origem. Um bom exemplo é a Argentina, destino turístico de eleição para aqueles que procuram as vastas paisagens das pampas conjugadas com uma ou duas cirurgiazinhas estéticas. (O consumo de recursos desta maneira altamente responsável não deixa grandes esperanças para o futuro do planeta.)

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Confessem lá, já tinham saudades da pescaria...

Se é certo.

Quand je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais, peut-être demain.
Mais pas aujourd'hui, c'est certain.


Porque hoje comemora-se o aniversário de Bizet, no longínquo ano de 1838.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Leituras

TIME | Shaking the foundations Se a China é a meca da produção, a Índia é o gigante económico adormecido. Se a China é o paraíso da mão de obra barata, a Índia é a sede de empresas multinacionais à escala mundial - exemplo da Mittal Steel, ou da Tata, mega-corporação que está a tentar adquirir a europeia Corus (uma das maiores produtoras mundiais de aço) mas cujos investimentos diversificados incluem a informática, o turismo, a indústria automóvel e... o chá - a britânica Tetley é detida pelo grupo indiano.

Guardian | Moving images Os amantes do cinema percebem isto: as imagens nos ecrãs têm uma linguagem própria, com uma gramática complexa que se sobrepõe ao sacrossanto texto. A montagem permite novas ideias, permite manipular o pensamento e monopolizar a atenção. Qual serão então as consequências da nossa cultura mediática, que invade o espaço cultural com imagens em movimento apreciadas por uma imensa maioria de iletrados na gramática das imagens em movimento?

New York Times | The internet black hole Se um país inteiro vive uma perigosa fantasia, numa teia de mentiras que oprime todo um povo, a internet é um perigo letal.

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Nu a reclinar-se sobre o corpo. Porque, meus amigos, nem tudo se resume a pescarias...

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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Memento mori? Ou Sic Transit Mundi?
Original aqui.

Prata Viva



Quicksilver, Neal Stephenson, HarperTorch, 2006

Neal Stephenson
Slate | The world outsite the web
SF Reviews | Quicksilver
Metaweb | Quicksilver

Das raízes heréticas do renascimento surgiu o iluminismo, o espírito de ideias que alterou profundamente a nossa forma de viver o mundo. A curiosidade e a busca do conhecimento sobre o mecanismo do mundo iniciado pelos grandes espíritos renascentistas atingiu massa crítica nesse momento histórico, e daí nasceu o nosso mundo contemporâneo, secular e baseado no progresso científico e tecnológico.

O trabalho do escritor Neal Stephenson tem sido caracterizado por assumir uma direcção no sentido da meta-ficção: Neal Stephenson continua a ser um escritor de ficção científica com forte pendor cyberpunk, mas os seus romances deixaram de ser histórias futuristas para passarem a ser reflexões sobre a história das ideias que propiciou a nossa moderna sociedade tecnológica, em que cada vez mais nos definimos pelo virtual. O virtual, o cyber, a "segunda vida", parafraseando o jogo/mundo virtual de mesmo nome, está na moda, estimula os nossos sentidos, excita as ideias, e tornou-se a obsessão da sociedade contemporânea. Isto não é nada por aí além - cada época, cada contemporaniedade teve as suas obsessões. É nestes porquês, na forma como a esturuta das ideias se desfia e evolui ao longo dos tempos, que Neal Stephenson encontrou o seu campo de actuação, diria mesmo a sua musa inspiradora.

Esta tendência do autor de Snow Crash e Islands in the Net, de um dos autores que nos deu a noção de espaço virtual e que inspirou directamente o conceito de mundo virtual agora tão em voga entre os jogadores, começou a notar-se com o monumental Mother Earth, Mother Board. Neste seminal artigo publicado na Wired, Neal Stephenson vai observar in loco a grande ligação do mundo, a instalação de cabos submarinos e a estrutura física da internet numa escala global. O romance Cryptonomicon, escrito no auge da grande celeuma cypherpunk, em que simples linhas de código eram consideradas armas e o programa PGP era demonizado a uma escala capaz de fazer inveja às editoras que demonizam a partilha de ficheiros, foi beber à recente história da criptografia para perceber como esta está na génese do nosso mundo informatizado. E no meio de aturadas reflexões sobre algoritmos criptográficos e o impacto do secretismo na economia global, Stephenson criou uma história fabulosa às voltas com tesouros, Bletchley Park, redes submarinas, economias obscuras, cultura niponica e, claro, algoritmos de encriptação. Mas Cryptonomicon era um livro fechado, que nos desperta grandes ideias, e as conclui nas suas páginas.

O problema de Quicksilver é que faz parte de um grande arco, uma obra magna que Stephenson se propôs escrever, sob o nome de Ciclo Barroco. O conjunto de livros que este ciclo encerra já ultrapassou largamente a trilogia, o que não surpreende - Stephenson propôs-se escrever nada menos do que uma história do sistema do mundo, centrado na era Barroca, quando o iluminismo e o mercantilismo começaram a demolir a velha sociedade pós-renascentista, alicerçada no mundo medieval, trazendo o mundo para a era moderna. Stephenson mergulha entre as elocubrações dos filósofos naturais que perscrutam o mundo, sedentos de curiosidade, entre as manigâncias dos jogos de poder das nobrezas políticas e entre os sonhos de uma classe emergente que apoia o seu poder e afluência não na tradição mas sim na troca de mercadorias e gestão de dinheiros. O Ciclo Barroco pretende ser uma história das ideias que formam a base da nossa sociedade contemporânea, e na sua minuciosa busca de interrelações num mundo que já era global antes da era da globalização Stephenson largou o ser conciso no meio das urtigas e foi escrevendo até chegar à conclusão, o que explica a amplitude deste ciclo de livros dos quais Quicksilver é o primeiro.

Quicksilver recupera as personagens-chave de Cryptonomicon como avós das personagens modernas. O elusivo Enoch Root faz uma aparição como propiciador da educação de uma criança desfavorecida, que se irá tornar Isaac Newton, e Daniel Waterhouse transmuta-se no filho de um puritano ferrenho. Quicksilver passa-se nos primeiros anos da Royal Society, quando ela era pouco mais do que um gabinete de curiosidades onde Hooke, Newton e as restantes luminárias que são, efectivamente, os pais da ciência moderna iluminavam a natureza, tentando decifrar os seus segredos. Waterhouse é neste livro um quase grande cientista, que só não o é porque era contemporâneo de Hooke, Newton e Leibniz - e entre gigantes, o mais alto de entre os homens será sempre anão. Daniel é o filho de um ferrenho puritano numa época em que o professar de diferentes correntes do cristianismo podia implicar o patíbulo, mas as suas crenças num juízo final marcado com toda a precisão para 1666 e a sua religiosidade moralista são abafadas pela sua curiosidade em desvendar os segredos do mundo natural. Daniel torna-se colega e amigo de Newton, e trabalha de muito perto com ele, participando no mundo fervilhante de descobertas científicas dos membros da academia real, participando na incipiência do mundo moderno.

Quicksilver socorre-se do dinamismo da Inglaterra do final do século XVII, com as suas guerras com a Holanda pela supremacia dos oceanos, com a instabilidade política de uma corte sujeita aos caprichos dos monarcas, com a peste que assolou Londres e o grande incêndio de 1666 que devastou as cidades, com o surgimento de uma economia global propiciada pelas colónias do lado de lá do atlântico, dilacerada pelos conflitos religiosos entre católicos, protestantes e puritanos, onde uma incipiente bolsa e incipientes depósitos de valores estão a dar origem ao sistema bancário e financeiro. Um mundo novo que nasce, onde os chamados filósofos naturais proclamam a superioridade do empirismo sobre a ciência aristotélica.

Conforme convém ao início de um grande ciclo, Quicksilver inicia-se in media res, já nos primeiros anos do século XVIII, quando Daniel vive retirado em Boston, tentando criar o instituto de artes tecnológicas do Massachussets numa clara oposicão à sabedoria aristotélica defendida pelo colégio de Harvard (Stephenson sabe-se divertir com piadas muito arcanas). O elusivo Enoch Root convence Daniel a regressar à Europa, com o fim expresso de unir o fosso entre Newton e Leibniz. Daniel era amigo pessoal de ambos os cientistas. Quicksilver resume-se ao embarque de Daniel a bordo do Medusa, comandado por um ferrenho capitão holandês e perseguido por uma frota de piratas ao longo da costa da Nova Inglaterra. Mas o livro não se resume a uma récita de aventuras navais; a presença de Daniel a bordo do navio dá-lhe tempo para reminiscências, e são essas longas reminiscências que nos levam ao caldeirão fervilhante da Europa do século XVII. Quicksilver fala-nos da génese da cultura científica, e detém-se no momento em que o Medusa escapa aos navios do pirata Barba Negra. O que é que se segue? Bem, o ciclo barroco é uma história global, e o volume seguinte recupera Shaftoe como um vagabundo pelas terras da Europa. Não me surpreende que algures para o meio do ciclo Goto Dengo surga envolvido numa conspiração destinada a expulsar os jesuítas do Japão, fechando o país ao resto do mundo mas mantendo as novas tecnologias que os Portugueses introduziram no país do sol nascente. Mas para isso, há que ler os restantes sete livros do ciclo.

Leram bem. Sete livros.

A crítica que mais se lê a Quicksilver é a sua minúcia. Stephenson fez um trabalho monumental de preparação para estes livros, e isso nota-se numa prosa cheia de erudição onde Stephenson tenta pintar de forma extremamente pormenorizada o mundo de meados do século XVII - uma tarefa nada fácil, e precisamente o ponto em que o livro perde o seu apelo de massas. Se Cryptonomicon já era minucioso, Quicksilver leva a minúcia à exaustão, o que não o torna uma leitura particularmente fácil. E detalhado e abrangente como é, Quicksilver não passa de um pormenor do gigantesco diorama que é o ciclo barroco.

Quicksilver é um livro que me divide. A sua minúcia torna-se enfadonha, mas o seu objectivo de mostrar como nasceram as ideias que torneiam a nossa sociedade é simplesmente fascinante.

domingo, 22 de outubro de 2006

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Oh my! Ganharam asas e estão a voar, o que é que aconteceu aos peixes? Terão evoluído?

Leituras

Correio da Manhã | Escolas públicas com nota mínima Por si só, a ideia dos rankings de escolas não me chateia muito. É uma das modas que afecta a nossa sociedade, esta da classificação por níveis. O problema grave desta história está no simplismo como é abordada, que acaba por transmitir uma imagem perfeitamente errada do panorama educativo. A conclusão mais óbvia, repetida até à exaustão nas manchetes, é a de que as escolas privadas estão nos topos dos rankings, enquanto as piores são inevitavelmente públicas. A mensagem subliminar subjacente é a de que privado é bom, público é mediocre. O que os rankings fazem é agregar os resultados finais dos exames de uma escola numa tabela que agrega os resultados das outras escolas. O que os rankings não fazem é uma observação do meio sócio-cultural da comunidade onde se insere a escola, das suas condicionantes economicas ou do meio familiar. Claro que uma escola privada obtém melhores resultados - mas numa escola privada, os alunos são de meios sócio económicos medios e altos, com rendimentos e meios familiares que lhes permitem uma vida desafogada e um estímulo ao acesso à cultura. Há escolas públicas inseridas em meios desertificados, ou onde reina a exclusão social. Numa escola pública, há de tudo - e os melhores alunos, sei-o por experiência própria, são os de meios familiares estáveis, de vida desafogada e com estímulos no acesso à cultura. são os alunos que lêem nos tempos livres, cujos pais os levam a museus. Nas escolas públicas, obrigadas como são a dar oportunidade a todas as crianças (e ainda bem que assim é) as turmas são heterogéneas, reunindo crianças de meios sócio-económicos diferenciados, com diferentes capacidades de aprendizagem, com diferentes interesses. Uma mesma turma pode ter alunos excelentes, alunos desinteressados, alunos médios, e alunos em processo de queda na exclusão social. Por último, há um tipo de aluno que rareia nas escolas privadas: o aluno com dificuldades de aprendizagem, quer devido à exclusão social quer por ser portador de deficiência. Há escolas privadas que recusam abertamente a entrada desses alunos, mesmo quando a isso são obrigadas (se forem escolas mistas, privadas que têm de assegurar entrada gratuita a alunos de uma determinda àrea de residência). Como exemplo, aqui na Ericeira, o colégio Miramar, que tem de assegurar a escolaridade dos alunos das freguesias do Barril e Lagoa (o estado paga as propinas desses alunos) recusa a matrícula a alunos portadores de deficiências. Assim torna-se fácil subir nos rankings, assim triunfam as desigualdades.

Guardian | The strange evolution of PR Ainda às voltas com aquela teoria da evolução humana que esta semana andou a levantar sobrancelhas: a teoria tinha uns pormenores interessantes - os homens, dentro de mil anos, passariam a ser mais... avantajados, mais... maior grandes na sua virilidade, enquanto as mulheres passariam a ser mais... arredondadas e perfeitinhas, deixando de necessitar de implantes de silicone. Então, a sobrancelha já subiu mais uns milímetros? Por outro lado, a ideia da divisória sócio-genética entre uma super-humanidade perfeita e uma sub-humanidade imperfeita é possivelmente a parte mais asisada da teoria. A brincar, fala-nos da clivagem que já hoje existe entre quem tem, e quem não tem, e a seguir ao tem podem colocar qualquer coisa, desde o acesso à cultura, emprego, conhecimento, dinheiro, àgua... é por isto que a comparação deve ser feita com a ideia Wellsiana de Elois e Morlocks - no futuro longínquo imaginado por Wells, os Eloi eram uma humanidade perfeita, que vivia uma vida de luxo sem necessitar de trabalhar, os descendentes das classes priviligiadas iterados à enésima geração. Os Morlocks eram seres degenerados, quase macacóides, que viviam em subterrâneos e mantinham as máquinas a trabalhar, a iteração à enésima geração das classes trabalhadoras e dos socialmente excluídos. A sobrancelha já está ainda mais levantada? É que a parábola de Wells é sobre os riscos da desigualdade, e esta parábola moderna não esquece esses riscos. Finalmente, uma nota sobre a proveniência do artigo. O artigo, dito científico, foi encomendado a um cientista por uma revista britânica do mesmo estilo da Maxim. Não estou contra o trabalho do cientista, que ganhou uns trocos a extrapolar ideias e a alinhavar conceitos de ficção científica (vem-me à memória um conto publicado há anos na Fantasy and Science Fiction precisamente sobre estes temas). Simplesmente não chamem a um artigo patrocinado por uma revista especializada em fotografias de mulheres semi-desnudas pesquisa científica.

(e esta, meu caro, precisei de a ler no Guardian, que os jornalistas lusos não parecem conseguir ver além de Tolkien)

sábado, 21 de outubro de 2006

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Ergamos os nossos copos em honra da sabedoria!

(Se os erguermos muitas vezes, o dia seguinte torna-se penoso.)

Leituras

BBC | Single on a memory stick for Keane Sempre a queixar-se das manigâncias da pirataria, a indústria discográfica procura novos métodos de venda de música nos novos mercados. Desta vez, estão a vender pen drives com singles incluídos, o que até é útil - quando a mediocridade da música se tornar demasiado óbvia, o destino do formato não será igual ao daqueles discos e cds que temos escondidos dentro de uma caixa no sótão. Como sempre, o esquema mais óbvio de evitar a pirataria digital fica de lado. As empresas discográficas deviam permitir a pirataria, cobrando aos ISPs uma taxa, uma vez que são estes quem realmente lucra com a pirataria na rede. Por sua vez, os ISPs fariam reflectir essa taxa no custo final do acesso à internet, de acordo com o volume de dados transferido pelo cliente. Um esquema semelhante aplica-se à décadas ao serviço público de rádio e televisão.

Correio da Manhã | Governo lança ultimato O ministério da educação avisou os sindicatos de que se não colaborarem da forma como o ministério quer, aprova sozinho as leis que quiser. Se o ME vai ser impopular, então governam com acham melhor, dizem os altos responsáveis do ministério. Ponto final. É este o país em que vivemos - em que ministérios não estão para perder tempo a respeitar a vontade dos eleitores, onde protestos pacíficos são contrariados com queixas-crime e tácticas de combate.

TSF | Partidos apoiam videovigilância, só BE contra Está a passar despercebida uma medida governamental que vai permitir a instalação de câmaras de video nos táxis para vigiar os clientes e assim aumentar a segurança dos taxistas. Ninguém se está a opor a esta medida, que representa uma enormidade do ponto de vista da privacidade. A partir da entrada em vigor desta medida, todos os clientes de taxis passam a ser filmados, o que constitui uma óbvia devassa à sua privacidade. A ideia por detrás é esta - com a videovigilância, os operadores podem detectar situações de ameaça ou assalto a taxistas. É difícil dizer que não a uma medida que visa melhorar o nível de segurança de uma profissão tão exposta. Mas desta maneira não pode ser - o direito à privacidade está a ser espezinhado.

The Times | The $1bn trade that is beyond the eyes of the law Um toque necrófilo para terminar as leituras: o nebuloso tráfico de partes de cadáveres é uma indústria altamente lucrativa. Um corpo pode valer até 150.000$ (mais ou menos o mesmo em euros) se decomposto nos seus órgãos, pele e ossos.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Mil e mais...

O número de visitas à minha galeria no Deviant Art já ultrapassou as mil. Ainda por cima, uma das minhas últimas abstracções no Bryce foi escolhida para exposição numa galeria de grupo dedicada ao 3D, cheia de trabalhos perante os quais fico dividido entre curvar-me, reverentemente, ou roer-me de inveja.

Bem, tempo de ir celebrar.

Leituras

BBC | Experts create invisibility cloak Ainda em fase experimental, mas já existe a tecnologia dos nossos sonhos - por ennquanto, apenas esconde pequenos objectos dos microondas. Mas o futuro promete...

Correio da Manhã | Tornado varre zona de 50 km Sobre o temporal que assolou a zona de Santarém, há uma pergunta que se impõe: terá algum forcado tentado pegar o tornado de caras, ou de cernelha?

TSF | Governo vai alterar lei para impedir aumento de 15,7% Ainda não consegui perceber exactamente esta história do preço da electricidade. Como é que uma empresa que no ano passado obteve mais de mil milhões de euros de lucro afirma que o custo da energia está abaixo do seu custo real? Se a empresa tivesse prejuízo, ainda se compreenderia... por outro lado, os responsáveis das eléctricas espanholas que estão a entrar no mercado tentam explicar-nos como o aumento é bom para nós - tornando o mercado português mais atractivo, aumentando a escolha de empresas fornecedoras. Quando a isso, creio que electrões são electrões, independemente de quem os fornece, e se maior escolha implicar maiores preços, podem enfiar a escolha num orifício muito escuro do corpo. Os comentários e contra-comentários também foram curiosos - teremos assistido a um jogo de xadrez, num bluff politico-jornalístico em que se propõem aumentos astronómicos, irrealizáveis, para fazer passar um aumento de 8%, possívelmente a intenção à partida? Esta história sobre a electricidade está muito pouco iluminada.

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A pescaria deste dia tão cinzento, mas também tão alegre.

Amanhecer

O dia amanheceu triste, debaixo de um manto de cinzento nevoeiro e encharcado pela chuva imparável. Amanheceres destes realizam as profecias contidas nas expressões manhã submersa ou bonjour tristesse...

Um toque de melancolia para começar o dia não é de todo desagradável. Tome-se, com o pequeno almoço, enquanto se bebe o café e, encostado à soleira da janela, se contempla o nevoeiro sobre o oceano.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Parabéns, Sofia...

Notícia de última hora: o Principado acabou de receber a sua princesa. Três quilos e oitenta de Sofia (=sabedoria) para alegrar o juízo do Príncipe. Parabéns! Ergamos os nossos copos numa libação aos pais babados, e demos as boas-vindas a mais um ser sobre este planeta.

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Pescaria do dia. Pouco imaginativamente hirta.

Leituras

Diário Digital | Estudo: Raça humana terá duas sub-espécies: goblins e belos O evolucionista Richard Curry reinventou o mito dos Eloi e dos Morlocks de H. G. Wells com um toque menos social e mais genético, ao prever uma humanidade futura clivada pelo fosso dos genes. A ideia, que me parece ser uma tentativa mal amanhada de fazer ficção científica, anda a revoltar consciências. A mim o que me irrita é a ignorância de quem não sabe ir às fontes e compara as ideias às "mitologias" do senhor dos aneis. Quanto a teorias neo-científicas um pouco estapafúrdias, ainda se lembram das curvas de sino aplicadas às etnias africanas no infame The Bell Curve?

(Um agradecimento ao Manuel por me recordar o que já havia esquecido neste dilúvio de leituras.)

Warning Signs for Tomorrow Onde fui descaradamente roubar o aviso de perigos cognitivos que passa a assinalar este blog.

Guardian | Do you want to lead or be dragged along in Europe Durão Barroso, nosso amado ex-primeiro ministro e afável presidente da comissão europeia, tenta convencer os sempre recalcitrantes ingleses da importância da U.E. num mundo globalizado e dividido em grandes blocos onde só a união traz a necessária força de mercados.

The Times | We burnt their homes and killed all the men, women and children Arrepiannte relato das façanhas de um elemento das milícias Janjaweed no muito castigado sul do sudão.

Anablog | Sting Gets His Steeleye Span On Sting descobriu a pólvora, aliás, descobriu as canções de John Dowland, compositor inglês do século XVI. Ou XVII. Corrigam-me se estiver errado. A voz de Sting é óptima, mas infelizmente não se adequa muito a registos líricos. Sting a cantar canções do século XVI soa um pouco como as minhas fabulosas interpretações do Nessun Dorma no chuveiro - que já levaram a minha namorada a ameaçar deixar-me se eu não me calar com a barulheira. Enfim, apesar das críticas, Sting está de parabéns. Certamente que os ouvintes habituais de música pop descobrirão algo de novo. Já que esão no Anablog, ouçam as bandas sonoras dos filmes de James Bond. Sempre se recorda que a música clássica, hoje tida como erudita e inacessível, foi a pop de outros tempos.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

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A pescaria do dia. Este até ficou aceitável para ficar exposto numa parede. Consegui um sorriso, o que não foi tarefa fácil.

Leituras

Haunted when it rains A fotografia, uma nova tecnologia nos tempos vitorianos, depressa encontrou utilizações prácticas. A mais bizarramente mórbida, para os nossos olhos contemporâneos, é a fotografia post-mortem - memento mori dos entes queridos, registados para sempre na chapa fotográfica após a sua morte. São imagens inquietantes. Mães com os seus filhos nado-mortos ao colo, corpos hirtos, como se adormecidos, olhos abertos sem expressão que nos parecem fixar do além. Os mexicanos ainda hoje mantém um costume semelhante.

Boing Boing | Googleplex goes solar A Google transformou o seu edifício-sede numa verdadeira central energética de paineis solares, estabelecendo um exemplo a seguir por outras instituições.

Warning signs for tomorrow Nova sinalética para os perigos do futuro: perigos de nanopartículas, sistemas em auto-evolução, perigos cognitivos, ameaças existênciais. Dá que pensar.

The New Yorker | Stairway to Heaven Sonhos africanos na New Yorker desta semana.

Via Warren Ellis, uma ideia fascinante: A kind of flying Hawaii, or anti-gravitational Micronesia, with tanned deck-hands leaping across aerodynamic tailfins to the soundtrack of ceaseless enginery, the helicopter archipelago would act as an escape hatch from traditional, nation-state sovereignty. (..) Once the archipelago is aloft for more than a century, the International Geological Society will declare it a flying continent, the world’s first airborne tectonic plate. (...) Some speculate that, two million years from now, the archipelago’s ruins will still hover in the sky: a ghostly blur across the north Atlantic horizon…

Greve II

Hoje não pude aderir, dois dias de greve são um rombo demasiadamente grande nas minhas finanças abaladas. Mas pude constatar que a adesão tem sido grande. Independentemente de juízos de valor, independentemente das diferenças de opinião, todos concordam com a necessidade de travar o ministério. A ministra (e a sua equipa) conseguiu o impossível: uniu uma das classes profissionais mais notóriamente desunida. Hoje não cumpri o segundo dia, e gostaria de o ter feito.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

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Photobucket - Video and Image Hosting

A school of fish. Esta expressão, lida pela primeira vez no tenebroso Moby Dick de Melville, nunca deixou de me fascinar. Cardume é cardume, é certo, mas uma escola de peixes é uma ideia tão poéticamente surreal...

Em Greve

Google News | greve de professores O google agrega aqui as notícias que vão sendo publicadas ao longo do dia.
SPGL | conheça os seus direitos O impedir do direito à greve é impensável, mas nunca se sabe...


Hoje, conforme prometi, aderi á greve. Aderir a greves é sempre algo que faço com extrema relutância, não pelas óbvias razões financeiras mas sim pelo espírito que tenho incutido de cumprimento dos meus deveres e responsabilidades. Nos anos que já levo de professor, contam-se pelos dedos de meia mão as vezes em que aderi a greves. Umas vezes pareceram-me prematuras, outras demasiado específicas. E há sempre aquela velha questão de greves coladas a fins de semana, que não são exactamente um abono em termos de opinião pública. Mas desta vez aderi.

Em parte as minhas razões prendem-se com as propostas aberrantes de alteração do estatuto da carreira docente (ECD). Não que eu seja contra alterações à nossa carreira, mas sou contra o aproveitamento de hipoteses de melhorar a qualidade para fazer retroceder o estatuto profissional a níveis antediluvianos em nome de ideologias economicistas.

Um caso típico é o da progressão na carreira - até agora, a progressão era automática, dependendo apenas de três factores: do tempo de serviço - independentemente da qualidade desse serviço; da apresentação de um relatório; e do acumular de créditos em acções de formação - num sistema de formação que eu sempre entendi como uma perfeita palhaçada, em que tudo estava virado ao contrário, pois creio que se procuramos formação é para nos aprofundarmos nos nossos campos científicos e pedagógicos e não unicamente para passar o tempo e ficar com o certificado para o almejado crédito. A atitude da minha classe perante a formação sempre me deixou envergonhado - e que me perdoem os bons formadores que tive nas acções de formação que frequentei e delas saí com novos conhecimentos, que escolhi precisamente pelas suas qualidades científicas. Mas a conversa surda, que todos sabemos mas não dizemos, é que a maior parte das acções são "da treta", do "blá blá", do eduquês. Alterar isto, exigindo maior rigor e uma reformulação do sistema de formação? Sou a favor. Infelizmente a proposta ministerial envolve sistemas de quotas e critérios pouco transparentes onde a ideia de mérito é deturpada para encobrir a compressão e a impossibilitação do acesso à progressão na carreira. A distinção entre "professores" e "professores titulares" é aberrante. Quanto ao sistema de formação contínua, as alterações são meramente cosméticas. Aí pouco se mexe, senão lá se vão os fundos do Prodep que financiam a formação contínua.

A proposta de alteração do ECD também inclui alterações no ingresso à carreira, alterações essas que são impostas após a entrada ao serviço dos novos professores. Ou seja, após quatro anos de estudo numa escola superior de educação, onde aprende e é avaliado pelas suas qualidades científicas e pedagógicas, um professor em início de carreira volta a ser testado. Para que serve então o sistema de formação de professores? O que uma medida destas esconde é o reconhecimento das inúmeras falhas do sistema de formação de professores, assente em escolas que proliferam em cada capital de distrito e que vão alegremente formando docentes sem se darem ao trabalho de adequarem a sua oferta às reais necessidades do mercado. Quanto à qualidade da formação nas escolas superiores, eu tenho as minhas dúvidas, mas isso sou eu que tive na ESE que frequentei uma sólida formação pedagógica... e uma nula formação na àrea científica a que se destinava a minha formação. Só quando cheguei ao terreno percebi as minhas lacunas, e tenho trabalhado muito ao longo dos anos para assegurar uma sólida base científica ao meu trabalho docente. Algo que já deveria estar assegurado como pedra basilar da minha formação. Mas enfim, não posso generalizar a todas as escolas superiores a medíocre experiência que tive na escola que me formou e diga-se em abono da verdade que tenho encontrado muitos novos professores com uma sólida formação e um dinamismo que me levam a pensar que as coisas estão a melhorar no sistema de formação de professores. Mas aqui, mais uma vez, pouco se altera - a proposta do ministério não modifica nada ao sistema, que sempre vai beneficiando a economia local das localidades onde estes estabelecimentos proliferam - casas alugadas a estudantes sem recibos e logo livres de impostos, empregos prestigiosos como docentes do ensino superior para os sicofantas dos caciques locais, enfim, nas economias lucrativas não se mexe. E impedir o acesso à profissão aos recém formados é uma medida estatísticamente brilhante. Resolve-se assim o problema do excesso de oferta de professores - só o são quando passam no exame, e se não forem colocados não entram para a estatística do desemprego como professores desempregados, expressão que sempre cai mal.

Também sou a favor de outras alterações de raiz ao nosso modus operandi. As aulas de substituição e o prolongamento dos horários escolares são medidas necessárias, e reflectem o real papel da escola-instituição na nossa sociedade contemporânea, que hoje é mais do que uma simples instituição de transmissão de conhecimentos ("simples", entre aspas). Não creio que se tenha que ter medo destes novos papeis, antes que são oportunidades de prestar serviços públicos de maior qualidade. As escolas não são depósitos de crianças, e temos aqui a oportunidade de lhes dar formação que ultrapassa o âmbito dos programas de ensino, de uma forma gratuita, conforme previsto na constituição. A imparável vida contemporânea faz-nos saudades dos velhos tempos em que as crianças tinham tempo livre e não estavam constantemente a ser sobrecarregadas com actividades. Mas este é um daqueles factores inevitáveis, como a proliferação nuclear ou as alterações climatérias. Reflecte a evolução e a maior complexidade da nossa sociedade. Não vale a pena ficar parado com saudades dos velhos tempos, há que gerir as transformações sociais. Este vácuo que tem até agora existido tem sido bem aproveitado pelo mundo obscuro dos ATLs (muito lucrativamente) e de forma escandalosa no pré-escolar, onde as lacunas na rede pública permitem os excessos financeiros impostos aos pais de crianças que não têm outras opções para deixar os filhos enquanto trabalham.

Se bem que a experiência de dar aulas de substituição é terrível. Já a senti na pele. Mas isso acontece porque não temos uma cultura de dever. Perante uma aula de substituição, os alunos pensam "que chatice, e eu que já tinha coisas tão fixes para fazer com este furo", não necessáriamente num português tão correcto. Não seria isto coisa a repensar, talvez envolvendo animadores sociais e culturais, que andam tão arredados das escolas?

Tenho também uma razão mais visceral. Em virtude de ter a carreira congelada há ano e meio, com mais um ano anunciado e com a certeza que só em ano eleitoral a coisa muda, virtude da caça o voto, a única coisa que vejo crescer nas minhas finanças são os preços dos bens, os preços dos combustíveis e a prestação da casa. Só vejo cada vez mais... menos. Não me importo que me exigam mais trabalho, mas queria um salário justo pelo trabalho que desempenho.

Outra razão que me faz aderir à greve são as implicações das reformas estruturais que nos estão a ser impostas pela filosofia ultra-liberal que estende os seus tentáculos através dos sistemas políticos. É uma filosofia cujos contornos se notam a nível mundial, que assenta na primazia do lucro como principal factor de desenvolvimento, e que vê as políticas sociais não como um benefício à sociedade mas sim como um fardo. O lucro não se adequa à prestação de cuidados de saúde universais e gratuitos. O lucro não se adequa à ideia de uma educação universal egualitária que dê às crianças, a todas as crianças, independentemente da sua classe social, uma sólida base de formação e acesso a oportunidades de um melhor futuro. Querem fazer-nos crer que os serviços públicos são fardos, apontando repetidamente as suas ineficiências e afirmando que os privados fazem melhor. As políticas sociais estão sob ataque cerrado, desde o sistema de reformas ao sistema de saúde, em nome de uma apregoada eficiência que se traduz na privatização do espaço público. As políticas sociais devem ser sustentáveis, é certo, mas também têm de ser defendidas da rapacidade economicista.

Assiste-se também à progressiva demonização do funcionário público, visto como aquela criatura disforme que das trevas dos poeirentos gabinetes suga os recursos da nação enquanto dedica o seu magro trabalho a dificultar a vida àqueles que querem trabalhar. É uma imagem que convém a quem faz jogos de manipulação de opinião pública ligados aos interesses económicos. Mas pensem nisto: o polícia que torna as ruas mais seguras pondo a sua vida em risco, e cuja ausência é logo notada, é funcionário público. O enfermeiro que o ajuda quando vai ao centro de saúde, é funcionário público. O médico, que se calhar o atende mal ou pouco educadamente porque já está de banco há mais de vinte horas, é funcionário público. O professor, que se esforça no seu trabalho por assegurar não só ao seu filho, mas a todos os filhos, a formação necessária para a oportunidade de um melhor futuro, é funcionário público. E deixo de fora todos os outros que, é certo, não produzem. É verdade, nós não produzimos. Propiciamos a produtividade. Parece um argumento bizantino, mas pensem no impacto da ausência de policiamento no comércio, só como um exemplo de entre muitos possíveis. Os meus alunos, se o meu trabalho e o dos meus colegas for bem sucedido, construirão um Portugal melhor.

Prestamos um serviço público. Não quero com estes meus possivelmente pouco lógicos argumentos afirmar que não tenhamos de mudar, de melhorar, de nos tornar-mos mais eficientes. Mas não podemos ficar parados enquanto se desmantela o tecido social que assegura à nossa sociedade a igualdade de oportunidades tão necessária ao nosso mundo complexo, tecnológicamente avançado e democrático.

Leituras

Guardian | A noble sacrifice Roy Hattersley aproveita a recordação de um feito heróico de um familiar seu na primeira guerra mundial para reflectir sobre o sacrifício inútil de vidas humanas em nome de objectivos depressa esquecidos.

The Times | Starvation fear over nuclear sanctions Uma consequência dos testes nucleares norte coreanos será as dificuldades alimentares vividas por uma população empobrecida, num país de invernos rigorosos que já se encontra numa situação de grave crise humanitária.

Dr. Zombie's Midnight Theater of Terror Apocalipse da cultura pop.

Raspberry Jam Apocalypse Eye candy com muito, mesmo muito groove. Onde Russ Meyer se cruza com Frankenstein e as capas de ficção científica pulp.

Movielegends Relembrando o cinema esquecido.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Gatos

O meu apartamento é a casa de um pequeno jardim zoológico que inclui um peixe temperamental, uma cadela feroz e um coelho obeso que a minha rapariga jura a pés juntos ter o pêlo comprido, não a barriga. Estou a deixar de fora as moscas, as melgas, as traças e outra bicheza estranha que por vezes se insinua cá por casa mas essa não é lá muito bem vinda e tem sempre vida breve.

Mas os gatos são animais especiais. São diferentes. Ao contrário dos cães, que têm grande apreço pelos seus donos, diz-se que os gatos são os donos dos seus donos. A independência e o carácter individualista destes felinos altivos são notórias. Eu que o diga - ando há mais de um ano a alimentar um bando de gatos, correndo o risco de despertar a ira dos meus vizinhos.

O bando é composto por uma gata muito fértil e os dois filhos da sua mais recente ninhada. A gata já era presença assídua pelos meus lados há mais de um ano, e já lhe conheci duas outras ninhadas, cujo destino ignoro e atribuo aos mistérios da natureza. Esquiva e altiva, a gata, que eu apelidei de Bastet por razões óbvias, já sabe bem que a comida a espera quando cai a noite e saio à rua. Espera, olha, mas não se aproxima. Em mais de um ano de refeições garantidas, a Bastet nunca foi de confianças. Nunca se deixou aproximar.

Já os filhotes são outra coisa. Um dos filhotes, o mais frágil e enfezado, saiu à mãe. É um animal tímido que se esconde entre as ervas e só sai da protecção das sombras quando me vê à distância. Chamo-lhe de Cheshire, não porque tenha um sorriso enigmático mas porque está sempre onde não o procuramos. O outro é mais descarado.

Curioso e atrevido, chamo-o de Schrödinger precisamente pelo seu espírito inquieto. É sempre o primeiro a comer. Não tem medo nenhum de mim e já está a debicar a comida enquanto eu a deixo no chão. De vez em quando bufa, arreganhando os dentes, talvez por não lhe agradar o menu ou por achar que eu estou a demorar tempo demais a deixar lá a comidinha. Come primeiro, e depois aproveita para vir passear comigo, para grande desespero da minha feroz cadela, que por mais uso que dê às cordas vocais não se consegue ver livre dele. No fundo, o Schrö (para os amigos) é um bicho simpático. Ao sair da casa de manhã, direitinho ao carro, já sei que ele se mostra, ou para dar os bons dias ou numa tentativa de me condoer e lhe ir buscar uma deliciazita para o pequeno almoço. Quando passeio a cadela ele também se mostra, passeando atrás de nós. Começo a temer que um dia destes também assente arraiais cá por casa, exigindo refeições a horas e um sofázinho só para ele.

E amanhã...

Greve!

Porquê? Porque tem de ser. Aproveitando uma reforma que muitos entre nós já achávamos necessária, o ministério da educação procura de todos os modos aniquilar a nossa classe profissional, recorrendo inclusivamente às tácticas sabujas de nos denegrir, comparando-nos a parasitas do sistema. Subverteu tudo, e obrigou à radicalização. Por isso, amanhã, greve.

Fio do Horizonte



O tempo ameno que se fazia sentir e que insistia em não deixar chegar os dias cinzentos retirou-se, finalmente, levando a canícula e os momentos solarengos para outras paragens. Decidido, o tempo outounal recuperou o seu lugar devido. Os céus limpos e azuis deram lugar às nuvens cinzentas que brincam com a luz do sol em espantosos matizes de cinzento e laranja. Os dias quentinhos deram lugar à chuva e aos trovões. O chá, earl grey, lapsang soochong ou simplesmente verde, substitui bem quentinho os refrescos e as cerevejinhas dos dias de calor. Agora é o tempo de sentir o calor fumegante de uma boa chávena enquanto lá fora a chuva cai, e o dia dá depressa lugar às trevas da noite.

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Uma variação. Uma imagem quase suficientemente infantil para que talvez a ofereça a um amigo, para decorar os aposentos do bébé que há de vir. Mas ainda não é desta; tem que ser mais suave.

Divas



O blog No Smoking In The Skull Cave publicou um top das vinte actuações mais sensuais em filmes de terror. É um post feito por conhecedores - não esperem os filmes habituais, e fala de pérolas como Zita Johann no papel de Ank-Sun-Amun no The Mummy original, sensual mesmo através do nevoeiro do tempo, ou Asia Argento (filha do realizador de culto Dario Argento) no improvável Land of the Dead. E não esquece os momentos mais sensuais do King Kong - original, no glorioso preto e branco. Nem tudo no terror tem necessáriamente de ser assustador, digo eu com um sorriso maroto.

domingo, 15 de outubro de 2006

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Não sei, talvez seja uma fase, ou algo assim... pareço estar a desenhar muitos peixes. Talvez simbolize alguma necessidade de mudar de dieta, ou algo assim. Boas pescarias.

sábado, 14 de outubro de 2006

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nulla dies sine linea. Que nenhum dia se passe sem que algo seja feito.

Leituras

... e audições.

BBC | Nobel for anti-poverty pioneers O prémio nobel da paz este ano foi atribuído sem controvérsias a quem o merece - a Muhamad Yunus e ao Grameen Bank, que têm feito um trabalho excepcional no combate à pobreza. Sem discursos pomposos, iniciativas mediáticas inúteis e mega-concertos. Sem dádivas e sem caridade, aplicando antes o princípio de que para alimentar um homem esfomeado mais vale ensiná-lo a pescar do que lhe dar um peixe. O Grameen Bank aposta no microcrédito, que em Portugal serve para ajudar desempregados a criarem o seu próprio pequeno negócio com capitais que os bancos tradicionais não emprestam, mas que na Índia e Bangladesh serve para criar coisas tão básicas como serviços telefónicos para as aldeias - emprestando as quantias necessárias para um grupo de aldeões comprar um telemóvel, ou a criar micro-negócios que nas vastas regiões de pobreza do mundo são uma linha vital para a sobrevivência. Por uma vez, o prémio Nobel premia não quem fala, mas sim quem faz.

Guardian | Business, stop moaning. These "burdens" are what keep us civilized Em Inglaterra, o HSBC - o maior banco inglês - ameaçou publicamente que estava a considerar deixar de estar sediado no país, citando os altos impostos que tinha de pagar sobre os seus magros lucros (que ascendem aos biliões de libras). Para referência, a Inglaterra é dos países da União Europeia com taxas de impostos mais baixas. Esta notícia é sintomática da cupidez e da arrogância das grandes empresas, que não hesitam em ameaçar os governos com mudanças para países que lhes são mais agradáveis, utilizando a globalização como forma de fugir a impostos e a contribuições sociais. Não lhes ocorre que o fardo dos impostos é o que mantém a sociedade coesa, assegurando acesso à saúde, educação, justiça e infraestruturas a todos. Este é mais um sintoma da doença ideológica que afecta a nossa sociedade, que nos está a incentivar a desmantelar esquemas de protecção social, pondo em causa os sistemas de reformas, os sistemas educativos e os sistemas de saúde, em nome de uma "eficiência" que na realidade se traduz em mais lucros a curto prazo para privados. Uma equivalência em Portugal seria um dos grandes patrões, um Belmiro ou um Balsemão, anunciar que estava a pensar mudar as suas empresas para outro país porque acha que em Portugal paga impostos a mais.

(Outro paralelo com a Inglaterra é Sócrates, que se está a revelar um verdadeiro Tony Blair - eleito como socialista, revelou-se mais liberal do que os ultra-liberais que pululam nos partidos de direita.)

New Scientist | Imagine Earth without people Leitura obrigatória: este provocante artigo da revista New Scientist analisa o impacto da actividade humana sobre o planeta tentando responder à simples pergunta - o que é que aconteceria ao planeta se, de repente, os seres humanos desaparecessem? Fascinante, e redutor das nossas cósmicas aspirações perante a fugacidade da nossa presença nas eras geológicas e nos incontáveis eões do profundo universo.

The Times | Harvest of death is reaped where the cluster bombs were scattered Um legado duradouro dos bombardeamentos israelitas no território libanês são as assassinas bombas de fragmentação, insidiosamente espalhadas por todo o território.

O Planeta Mafra agrega alguns blogs que têm em comum o serem escritos aqui na região. Leitura diária obrigatória para se sentir o pulso de quem cá vive.

Share Your Knowledge | Dark Side of the Moon Para relembrar o lendário album dos Pink Floyd. Ouçam, e depois procurem o original numa discoteca - este album seminal dos Pink Floyd é obrigatório na colecção de qualquer melómano que se preze.

Aurgasm | Inga Liljeström Quando ouvi pela primeira vez pareceu-me estar a ouvir algo inédito dos Portishead ou dos Massive Attack. Mas este low-fi australiano é bem contemporâneo, e uma delícia para os ouvidos. Via o Aurgasm, blog de mp3 que divulga o melhor que se faz na pop contemporânea.

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Este sol e este dia fresquinho só dão vontade de ir ao mergulho.

Leituras

BBC | Drill hole begins Homeric quest Cientistas e arquéologos vão começar a escavar um istmo na ilha grega de Ithaki em busca da resposta à questão de se a moderna ilha de Ithaki corresponde á mítica Ítaca da Odisseia de Homero. A teoria de que a moderna Ithaki correspodende a Ítaca está a ser abalada por um promontório que corresponde à descrição homérica da ilha de Ulisses. As escavações vão tentar determinar a idade do istmo, para tentar saber se na idade de bronze, época homérica, o isto era um canal entre duas ilhas.

Guardian | Paint the train green As empresas de caminhos de ferro estão a desperdiçar uma oportunidade única de marketing: a ecologia. Nesta era de aquecimento global e combustíveis caros, o comboio é o argumento verde nas deslocações.

Guardian | Enraged by the apples A arte está sempre sujeita a múltiplas intrepretações e o que atrai uns ofende profundamente outros. Qual é então o limite moral da arte?

(uma pergunta profunda que ficará para sempre sem resposta)

Correio da Manhã | Reformas baixam em 2008 O triste de viver nesta época é que estamos a assistir ao colapso de tudo a que fomos habituados. Sistemas de valores, sociedade industrial de consumo, ambiente e protecção social estão a passar por profundas metamorfoses, colapsando sob a sua própria complexidade ou debaixo da pressão da cupidez de curto prazo. Quanto ao nosso futuro, cada vez mais surge como uma gigantesca incerteza, capitalizável pelos apologistas do lucro fácil.

Guardian | Accept North Korea into the nuclear club or bomb it now Nos anos oitenta, caças-bombardeiros F-15 israelitas invadiram o espaço aéreo iraquiano e bombardearam o reactor de Osirak. Esta acção unilateral, um raide aéreo lendário (pelo seu longuíssimo alcance), deixou de rastos o programa nuclear iraquiano. Inspirados neste raide, já há quem sugira mísseis e bombas de precisão para deixar em ruínas o programa nuclear norte-coreano - uma ideia semelhante a pontapear uma colmeia para tranquilizar o enxame de abelhas.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Citação

I am astonished at the foolish music written in these times. It is false and wrong and no longer does anyone pay attention to what our beloved old masters wrote about composition. It certainly must be a remarkably elevated art when a pile of consonances are thrown together any which way.

I remain faithful to the pure old composition and pure rules. I have often walked out of the church since I could no longer listen to that mountain yodelling. I hope this worthless modern coinage will fall into disuse and that new coins will be forged according to the fine old stamp and standard.

Samuel Scheidt, writing to Heinrich Baryphonus,
January 26, 1651


Soa familiar, não soa? Descaradamente citado do SoHo The Dog e retransmitido via Net New Music

Leituras

Guardian | The freshwater boom is over. Our rivers are starting to run dry Neste alarmante artigo, George Monbiot analisa os nossos correntes padrões de consumo mundial de água e prevê o pior: com os aquíferos sobre enorme pressão, a água de que dependemos para sobreviver está a desaparecer muito rapidamente.

Time | The moment that shook the world Ainda estamos a digerir as implicações do teste nuclear norte-coreano. Os mais alarmistas já vêem mísseis norte-coreanos a sulcar os céus japoneses e uma guerra em grande escala na península coreana, enquanto os apologistas das conspirações tenebrosas já vêem os norte-coreanos a vender a tecnologia nuclear a outros estados-pária ou a organizações terroristas. Infelizmente, com a confirmação de que a Coreia do Norte se tornou parte do restrito clube nuclear, todas as possibilidades ficam em aberto. Como alguém que cresceu sobre a ameaça improvável mas bem real da aniquilação debaixo da guerra nuclear, estes desenvolvimentos não deixam de ser alarmantes. Certo é que os tempos da destruição macissa mútuamente assegurada, com as duas grandes super-potências a lançarem milhares de ogivas capazes de destruir o planeta não uma mas várias vezes já lá vão. O perigo agora é mais localizado - quando a Índia revelou capacidade nuclear, o seu velho inimigo Paquistão apressou-se a desenvolver o seu programa nuclear para equilibrar o "perigo indiano". As ambições nucleares iranianas não passam de uma tentativa de manter o equilíbrio de forças face aos segredos do arsenal nuclear israelita. Os testes coreanos já levaram o Japão a interrogar-se se deveria desenvolver um arsenal nuclear próprio - algo até agora impensável na única nação que já foi alvo dos horrores dos bombardeamentos atómicos, mas de fácil execução para um país em que grande parte da produção energética é nuclear e que dispõe de uma base científica e industrial das mais desenvolvidas do mundo. Agora o perigo reside no uso táctico das armas atómicas, capazes de eliminar a capital de uma nação inimiga ou as suas principais zonas industriais e económicas. Por outro lado, por idiosincrático que pareça, o regime norte-coreano dificilmente dará uso às suas armas nucleares, segundo a análise North Korea's nuclear policy is not irrational at all, publicada no Guardian. Os testes deste fim de semana são uma forma de ganhar contrapartidas económicas numa negociação com a China, o Japão e os E.u.A. que estava estagnada graças ao intervencionismo cego da administração Bush. O regime norte-coreano sempre assentou na paranoia, e a busca pelo arsenal nuclear é já uma velha aspiração dos tempos de Kim Il Jung como forma de assegurar a sobrevivência do regime face às potências externas. Certamente que os norte-coreanos sabem que o uso da bomba trará consigo uma reacção internacional tão violenta que o seu exército de um milhão de esfomeados soldados, equipados com um arsenal obsoleto, não será capaz de travar a aniquilação de um regime isolado e anacrónico, que aposta na tecnologia nuclear enquanto deixa o seu povo a morrer à fome. Razões e análises à parte, os testes são extremamente preocupantes. A estupidez humana aplicada à escala governamental não parece ter fim.

Curiosidades

Confesso uma certa curiosidade. Por vezes adorava conhecer quem chega ao meu blog através dos motores de pesquisas. Gostaria muito de perceber quem são e como funcionam as engrenagens das suas mentes.

Alguns em compreendo - quem cá chega em busca de "ninfas", ou que tenta saber um pouco mais sobre multiaeroplanos ou curiosidades arcaicas como o Mayfly. Ninfas, bem... quem é que se atreve a confessar que não gosta de representações de beleza? Se bem que se procura belezas mais expostas, este não é exactamente o site mais aproriado. Os vermelhos por aqui não são iluminadores.

Muitos chegam aqui a tentar saber mais um pouquinho sobre aquela que considero, com alguma hubris, a minha terra adoptiva. Geralmente esbarram com imagens das praias. Deve ser isso que procuram.

Agora, como será a mente que quem procura por "reza brava para expulsar intrusos" ou "filme duelo de titas aplicado a administracao de recursos humanos"? Rezas, num blog decididamente ateu embora fascinado pela literatura do horror e do fantástico? Duelo de titãs em recursos humanos? Coitado, este deve trabalhar num daqueles locais em que o ambiente deve ser mesmo de cortar à faca.

E o que são precisamente "gelos biogenéticos"?

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Pescaria para abrir o apetite para o almoço.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Movimentos circulares. Fragmento.

As Crónicas de Narnia



Editorial Presença | O Leão, A Feiticeira E O Guarda-Roupa
Wikipédia | O Leão, A Feiticeira E O Guarda-Roupa

Este livro deu início à série seminal da literatura juvenil que é As Crónicas de Narnia. Embora cronológicamente não seja o primeiro episódio da série, foi o primeiro que C. S. Lewis escreveu, legando ao mundo as paisagens fantásticas de Narnia.

O Leão, A Feiticeira E O Guarda-Roupa é um livro de leitura rápida que nos leva a acompanhar as aventuras e desventuras de um grupo de dois rapazes e de duas raparigas que, refugiadas das bombas alemãs na casa de campo de um professor excêntrico descobrem o mundo que se encontra para lá do armário, entrando dentro de um guarda-roupa que funciona como portal para Narnia. Narnia é uma terra de fábulas, habitada por animais falantes e criaturas mitológicas, que caiu sobre a influência da maldade da Feiticeira Branca. Os seus feitiços mergulharam Narnia nas profundezas do inverno, e só a conjugação de duas forças poder salvar a terra fantástica - a da profecia que anuncia o reinado de quatro humanos sobre as terras de Narnia e o carisma de Aslan, o leão que luta pela libertação da terra dos feitiços da Feiticeira Branca. Os nossos quatro hérois depressa se vêem envolvidos no meio das refregas, de ambos os lados - enfeitiçado pelo poder da Feiticeira, um dos nossos hérois trai Aslan. Descoberta a traição, Aslan sacrifica-se pela criança, renascendo mais forte e poderoso, conseguindo assim varrer a feiticeira de uma vez por todas das terras de Narnia. Quanto aos nossos pequenos hérois, envelhecem como quatro sábios regentes de Narnia, até que um dia, no decorrer de uma caçada, encontram um local que lhes é estranhamente familiar. Ao explorá-lo, regressam ao interior do guarda-roupa que os devolve incólumes e novamente crianças ao momento em que partiram.

O que distingue O Leão, A Feiticeira E O Guarda-Roupa de volumes semelhantes é o seu aspecto mitológico. Os quatro jovens heróis movem-se num mundo de mitologia e encantamento, cuja salvação implica o sacrifício do salvador, um leão possante cuja verdadeira força não está em si mas sim no carisma que projecta, encorajando outros para o seguirem e assim restaurarem o viço verdejante a uma terra queimada pela maldade dos feitiços e das ilusões. Há quem chegue a falar de uma inspiração directa na mitologia cristã, com Aslan a significar Jesus e a sua humilhação e sacrifício seguido de ressurreição sob uma forma poderosa uma metáfora do calvário cristão. A morte e a redenção são os factores decisivos que salvam o mundo de Narnia.

C. S. Lewis nunca admitiu esta relação com o cristianismo, mas é de relembrar que Narnia é a resposta do autor à Terra Média criada pelo seu colega e amigo Tolkien, numa exploração clara da intemporalidade e maleabilidade das narrativas mitológicas.

O Leão, A Feiticeira E O Guarda-Roupa é um clássico da literatura fantástica, uma referência a ler para conhecer bem a história deste género literário. Aparentemente simples, pois trata-se de uma obra para ser lida por crianças, aborda genialmente os mitos que nos modelam através das paisagens fantásticas de Narnia, terra dos nossos mais bucólicos sonhos.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Fio do Horizonte



Em pleno outono o inverno aproxima-se a passos largos, mas o sol recusa-se a partir. As famosas marés vivas têm como contrapartida marés fabulosamente baixas, com as àguas a descobrir e a expor aos nossos olhos os fundos submersos apenas visitados pelos habitantes das regiões abissais.

Vinheta

Ao sábado a vila enche-se de pessoas dispostas a aproveitar intensamente cada minuto dos dois dias de descanso do fim de semana. As esplanadas enchem-se de gente que pachorrentemente lê os jornais da semana enquanto bebe um cafézinho debaixo do sol que teima em não dar lugar ao inverno que se aproxima. As famílias saem à rua, passeando na avenida Eduardo Burnay, mirando as montras e sorrindo enquanto percorrem a rua de lés a lés. Típico sábado de manhã na Ericeira.

No último sábado senti-me obrigado a ir até aos silvestres, o centro comercial cá da terra, cujo parque de estacionamento ao sábado faz inveja aos piores engarrafamentos das cidades. Enquanto ia à minha vida, não pude deixar de reparar no condutor de um potente audi que após ter amarrado o filho ao arnês que garante a sobrivência à viagem entre parques de estacionamento vê a sua saída impedida por um camião de entregas. O camião era do leite Vigor, pormenor que achei vigoroso. O nosso automobilista exibiu os comportamentos típicos dos automobilistas que vêem as suas justas marchas interrompidas por qualquer razão. Espumava pela boca, murmurava obscenidades, andava furibundo às voltas enquanto apitava a buzina para chamar o condutor do veículo prevaricador. Ao fim de algumas sonoras buzinadelas lá sai alguém em direcção ao camião.

- Você tem alguma coisa a ver com este camião? - pergunta o nosso condutor ao homem que a ele se dirige vestido com uma camisola com a palavra Vigor bem estampada.
- Eh pá, o condutor já tira isso daí. Ele está só a receber. - retorquiu o sorridente recém chegado.
- Então e você não pode puxar isto para a frente? - diz o condutor, apontado para o camião parado com os quatro piscas a brilhar e o motor a ronronar.
- Não não, eu sou o ajudante... o condutor já chega aí, está só a receber
- Então mas não podia puxar isto...?
- Não, que eu sou o ajudante... - e dito isto, o ajudante do motorista regressa ao refugio do centro comercial, deixando o automobilista a espumar da boca.

Normalmente não costumo erguer-me em defesa dos irritantes pequenos burgueses de ar edinheirado mas profundamente endividados cujos carros de grande potência e maiores dimensões entopem as estreitas ruas da vila. Tenho pouca paciência para essa chusma convencida que que os outros, comuns mortais, devem curvar-se perante a sua sombra. Talvez seja por inveja - no fim de contas, essa chusma convencida enche os bons restaurantes daqui da vila, e eu não tenho dinheiro sequer para agraciar com a minha presença os piores restaurantes... e em verdade se diga que o comércio da vila sobrevive precisamente à custa destes turistas de fim de semana. O que não quer dizer que tenhamos de gostar deles. Mas desta vez, o ridículo da situação levou-me a ter alguma pena do pobre automobilista cujo audi não se podia movimentar graças ao bloqueio do camião do Vigor... e pelo ajudante que não foi capaz de puxar o travão de mão, engrenar a primeira e deslocar o veículo uns centímetros.

domingo, 8 de outubro de 2006

Robbie

Photobucket - Video and Image Hosting

Um dia, talvez, consiga modelar algo tão fabuloso como o Robbie do Lost in Space. Até lá fica aqui esta coisa disforme que me deu um trabalhão a construir. E nem sequer se move...

Leituras

BBC | Astronauts set for mini missions A Nasa está a desginar astronautas para missões curtas a bordo da ISS. Na calha estão dois europeus, um japonês e o primeiro astronauta canadiano. Em 2010, quando a estação estiver completa, a tripulação permanente será de seis astronautas. Em dezembro, se tudo correr como previsto, segue o módulo europeu Columbus a bordo de um vai-vém espacial para adicionar ao maior esforço de colaboração internacional correntemente em órbita.

Guardian | You only live twice A vida, 2.0: inspirado no conceito de metaverso criado por Neal Stephenson, o jogo Second Life é uma verdadeira segunda vida vivida numa realidade virtual moldável aos nossos sonhos e fantasias. Viciante, o jogo obriga os jogadores a passarem horas a interagir nos ambientes virtuais. Mas, ao contrário de outros jogos online semelhantes em que os jogadores vivem em mundos de fantasia, o Second Life assume-se como uma verdadeira segunda vida, muito semelhante à realidade, mas mais luminosa e sem imperfeições. No jogo até a economia assume importância, com a conversão entre a moeda do jogo e os dólares a propiciar a alguns jogadores fazerem do jogo o seu modo de sustento. Se duvidam que o futuro é agora, este é mais um dos sintomas.

Time | Nuclear implosion Os jornalistas americanosda Time observam a Europa das novas famílias, em que o modelo de família nuclear se encontra em vias de extinção e as novas formas de relacionamento desafiam as fronteiras do conceito de família. Hoje, uma família típica já não é o papá, a mamã e a revoada de filhos. Agora temos famílias monoparentais, famílias pluriparentais, e casais de gays e lésbicas que educam filhos em conjunto. A diversidade nunca é uma coisa má. Estamos a evoluir, todos os nossos conceitos de normalidade estão em mutação. Para quando famílias virtuais de relacionamentos no cyberespaço?

Fast Film: um filme simplesmente fabuloso. Uma curta metragem que é uma homenagem ao cinema clássico, e realizado de uma maneira fabulosa: o realizador imprimiu milhares de fotogramas de filmes clássicos, recortou-os e dobrou-os num verdadeiro origami minucioso, fotografou os fotogramas e montou no After Effects. O resultado? Vejam no You Tube como é fabuloso. Mais informações no site oficial do filme no no blog Cartoon Brew. Podem ver o filme aqui: Fast Film.

sábado, 7 de outubro de 2006

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Estes tons expressivos foram obtidos através da magnificação de detalhes de uma imagem no bryce, renderizados em interconexões de metais e vidros. Sem querer, obtive este ar fluído. Sempre defendi o acaso como algo poderoso.

Leituras

BBC | Teen repellent is Ig Nobel winner Mesmo a tempo da divulgação dos veneráveis prémios Nobel surge a divulgação dos prémios Ig Nobel, que podem ser descritos como os perfeitos antípodas dos prémios da academia sueca. Os prémios IgNobel premiam o que há de mais surreal na pesquisa científica - e este ano, entre os vencedores, encontram-se o inventor do famoso dispositivo que emite sons audíveis apenas por adolescentes, uma investigação no porquê do som irritante de unhas a raspar num quadro de ardósia, uma equipe de investigadores que investigou os efeitos de inserções rectais de dedos no tratamento de soluços incontroláveis e biólogos que investigaram a razão pela qual os pica-paus não têm dores de cabeça. Não se trata de má ciência - muitos destes estudos foram publicados em publicações científicas de prestígio. Trata-se de ciência pouco convencional.

Correio da Manhã | Nada escapa ao radar A PSP anda a testar um novo equipamento tido como miraculoso - o novo radar permite controlar automáticamente velocidades, transposições de traço contínuo, desrespeito pelos stops, ultrapassagens perigosas, e até o uso do telemóvel ou a falta do cinto de segurança. No caso da velocidade, a precisão é diabólica, e acoplado aos infames terminais de pagamento móvel significa que escapar a multas é simplesmente impossível. Os testes estão a ser desenvolvidos nas Caldas da Raínha, cujos habitantes devem estar a descobrir dentro de si um respeito e uma disciplina inauditas perante o código da estrada. De qualquer maneira, e alarmismos à parte, há uma maneira infalível de escapar às multas e prevenir acidentes: é cumprir o código.

The Times | Grey time ahead for california dreamers A geração baby boom está à beira da reforma, mas isso não os detém na busca do estilo de vida hedonista que sempre os caracterizou. Esperam sexo, drogas e rock n' roll bem dentro da terceira idade. A geração que nunca se preocupou com o futuro está a envelhecer, e continua tão despreocupada como sempre.

A Antena 2 está neste momento a transmitir a ópera Idomeneo de Mozart, tornada súbitamente famosa por ter sido retirada do repertório da ópera de Berlim por medo de represálias de terroristas islâmicos. Avizinhar-se-á alguma fatwa contra os responsáveis da antena 2? Se a moda da censura cultural por razões políticas pega, a Turandot e a Madame Butterfly de Puccini ou a Mikado de Gilbert e Sullivan correm o risco de nunca mais serem vistas, por medo de represálias do governo chinês descontente com a forma como os chineses são apresentados nestas óperas.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Olhar



A minha página no Deviant Art aproxima-se perigosamente das 1000 visitas. Por outro lado, as visualizações das minhas imagens no geral atingiram as 3.559 vezes. Já para não falar dos constantes comentários. Três mil olhares sobre os meus desenhos... devo dizer que sabe bem, mesmo sabendo que o Deviant Art já reúne mais de vinte e seis milhões de imagens. O que sabe mesmo bem é sentir que já não se está a criar para arquivar no disco rígido. Para além disto, o Deviant Art é viciante - como permite feedback imediato sobre as imagens publicadas, o estímulo à criação é constante. E a fervilhante criatividade da comunidade sempre inspiradora.

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Tons de azul.

Os Filhos de Anansi



Neil Gaiman, Os Filhos de Anansi, Presença, 2006

Editorial Presença | Os Filhos de Anansi
Anansi Boys
Using genre to effect - Neil Gaiman

Anansi é um daqueles deuses muito curiosos. Um deus dos panteões animistas da áfrica ocidental, Anansi é o deus-aranha, e fiel à sua natureza, tece. As suas teias são as histórias que formam o tecido da realidade, o tecido dos sonhos. Anansi é um daqueles deuses voláteis em quem não se pode confiar. Volúvel, Anansi toca-nos e o seu toque pode ser benéfico ou prejudicial. Muitas vezes assistimos às histórias de Anansi e ficamos com a sensação de que ele está apenas a brincar conosco, manipulando-nos a seu bel-prazer sem qualquer outra intenção do que o mais puro divertimento. Como diz Neil Gaiman, há muitas histórias sobre Anansi. Nalgumas, Anansi vence, noutras nem por isso. Mas todas as histórias no fim acabam por ser histórias de Anansi.

Charles Nancy é um expatriado americano a viver uma vida que não se pode dizer perfeita debaixo dos céus cinzentos da Inglaterra. Não é que a sua vida seja má, simplesmente não é tão boa como poderia ser. Charles espera casar-se em breve com a namorada, Rosie, uma namorada muito insistente na pureza virginal pré-marital e dona de uma simpática mãe que simpáticamente odeia Charles. Charles trabalha para uma agência de representação de artisas cujo dono é perito em artimanhas que desviam os dinheiros dos artistas para um abrigo seguro nas suas contas bancárias em paraísos offshore. E Charles tenta não pensar muito na sua infância traumatizante, passada na Florida com um pai que passava a vida a humilhá-lo com partidas incoerentes. De facto, Charles tenta pensar o menos possível no seu pai, um homem extrovertido e jocoso que na perspectiva do filho fez da sua vida uma imensa palhaçada.

A notícia da morte do seu pai vai abalar o pequeno e calmo mundo de Charles Nancy de uma forma só compreensível metafóricamente por abalos provocados pela mistura de um terremoto de nove pontos na escala de Richter combinado com furacões e chuvas de meteoros. Sei que tenho o hábito de desvendar os livros que leio, mas desta vez vou fazer um esforço. Vou apenas deixar no ar que a hipotética morte do pai de Charles Nancy traz à sua vida o irmão, um irmão mais do que biológico que herdara os poderes do pai, uma encarnação do deus Anansi. Após o encontro entre Charles e o irmão segue-se o caos. A vida de Charlie dá voltas inusitadas, e tudo o que parece revela ser o seu preciso oposto. Sem grandes explicações sobre o seu destino, Charles tenta definir-se num mundo de bruxas suburbanas, patrões desonestos, fantasmas vingativos e atraentes mulheres-polícia que seguem impulsos justiceiros. E mais não digo. Leiam o livro, porque, acreditem, vale mesmo a pena.

Neste livro Neil Gaiman revisita o seu clássico tema de jornada de descoberta, elemento recorrente da sua ficção, com uma história que nos leva a reflectir nas maravilhosas imperfeições da incongruência que é a família - pessoas unidas por laços biológicos e afectivos que passam grande parte do tempo a odiarem-se e o tempo restante com saudades uns dos outros. As famílias perfeitas são ilusões, como todos nós bem sabemos. Comprazemo-nos a infernizar a vida dos que nos são mais próximos precisamente porque gostamos deles.

Neil Gaiman dispensa apresentações. O seu largo currículo literário abrange os comics e a literatura de terror-fantasia, onde se tem distinguido pelas suas obras imaginativas escritas com uma mestria invejável. Os Filhos de Anansi são um pouco um desvio à norma de Gaiman. Neste livro, Gaiman pega nos seus habituais elementos do fantástico e trata-os sob a perspectiva do humor - não o humor brejeiro da piadinha fácil e asneirosa que tanto anda na moda, nem o humor insondável e leve do simplesmente engraçado. Os Filhos de Anansi são uma obra divertida, onde o humor descarrila em grande estilo, alicerçado pela prosa elegante e coerente de Gaiman. Os Filhos de Anansi é um livro comédia, mas não é comparável a uma daquelas comédias que nos fazem sorrir... antes, é comparável àquelas comédias tresloucadas que nos fazem doer a barriga de tanto gargalhar. Pode parecer que estou a exagerar, mas... leiam, é um imperativo, leiam.

Por divertido que pareça, Os Filhos de Anansi esconde uma férra estrutura literária que nos permite seguir várias pequenas histórias ao mesmo tempo, que convergem no grande arco das aventuras e desventuras de Charles Nancy. A prosa de Gaiman está no seu melhor, elegante como sempre e capaz de nos envolver profundamente nas histórias que conta. Tão profundamente que o livro quase de lê de uma só assentada, que nos obriga a uma nova leitura - os textos de Gaiman são pura gula literária, apetece sempre ler mais e mais, mas estão concebidos serem calmamente saboreados. Os Filhos de Anansi é um livro simplesmente delicioso.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

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Leituras

Dia 5. Hoje a implantação da república em portugal comemora a provecta idade de noventa e seis anos. Um bocadinho mais idoso, com os seus oitocentos e sessenta e três anos, está o Tratado de Zamora, que estabeleceu em 1143 a independência de Portugal. Amanhã aqui na Ericeira bem que se poderia comemorar o embarque do último rei de portugal, que partiu para o exílio pisando pela última vez o areal da praia dos pescadores. Históricamente menos importante mas pessoalmente importantíssimo, hoje é feriado. Boas sonecas.

The Times | How I survived mid-air crash Por incrível que pareça, a bordo do jacto executivo Legacy 600 que colidiu com um Boeing 707 nos céus da amazónia seguia como passageiro um jornalista de uma revista aeronáutica especializada em jactos privados. Soobreviveu, tal como os restantes passageiros, para contar uma história sobre o terror da colisão e a calma e coragem dos pilotos, que após a colisão e com parte da asa do avião inexistente se comportaram como se acontecimentos desses fossem mera rotina, e um lamento sobre a pior sorte dos pilotos e passageiros do Boeing que se despenhou. Como é que um acidente destes aconteceu é algo sob investigações, mas o testemunho deste jornalista não aponta para culpas dos pilotos - no fim de contas, os pilotos dependem dos instrumentos e das instruções das torres de controlo para manterem as suas rotas. Quem deve estar a esfregar as mãos de contente com este acidente são os responsáveis da Embraer, a empresa brasileira que fabrica os jactos Legacy 600, e que vê assim confirmada, da pior maneira possível, a fiabilidade e a robustez das suas aeronaves.

Creepy Gmail Será a Google bem intencionada? Este link, que me foi enviado por um amigo e colega, detalha até que ponto a benevolente Google parece abusar dos nossos direitos, da nossa privacidade na vida online. Específicamente, fala-nos de como o Gmail pode ter usos insuspeitos, graças ao rastreio de palavras e expressões nas mensagens, rastreio esse que a Google assume publicamente como uma forma de adequar a publicidade aos interesses dos utilizadores mas que pode ter utilidades mais obscuras, ao melhor estilo big brother is watching you. A verdade é que a Google tem uma excelente imagem na cultura popular, e safa-se com coisas que outras empresas nunca conseguiriam impor - imaginem o que é que se diria se a Microsoft criasse contas gratuitas de e-mail com capacidade de armazenamento na ordem dos gigabytes? Mais uma manifestação do império do mal? A Google também saiu incólume de um recente escândalo em que concordou em submeter-se às notóriamente tiranas regras do governo chinês, trocando ideologias por lucros, e colaborando na detenção de jornalistas. Observações destas à parte, a verdade é que a Google é como a Apple - independentemente do que fizer, tem uma boa imagem tão reluzente que nos deixa embasbacados pelo seu brilho.

CollageMania Eye candy.