Aquilino Ribeito (1975). Alemanha Ensanguentada. Lisboa: Bertrand.
Uma visita de Aquilino à Alemanha no pós-guerra imediato, que é ao mesmo tempo literatura de viagem, reflexão sobre a sociedade de um país, e um analisar de uma história contemporânea ainda fresca nas memórias. Por pós guerra entenda-se o pós-I guerra, com a derrocada da monarquia alemã, as exigências impossíveis dos aliados vencedores e vingativos, e as convulsões sociais e políticas de um país derrotado. Não se trata do mítico ano zero do pós-II guerra, com um país em escombros e arrasado a ter de enfrentar os horrores que provocou.
Aquilino era arguto, e na análise que faz do país que revisita observa por várias vezes que o gérmen de uma futura guerra e da liderança de homens fortes está presente no pós-guerra que visita. Note-se que a a obra foi publicada em 1935, mas a viagem do autor data de muito antes. Anota as privações de um povo, as convulsões políticas, a humilhação da derrota e a perda de caráter moral, mas também sublinha a industriosidade alemã, e a sua capacidade de recuperação. O olhar do escritor português atravessa cidades e regiões, faz-se de conversas e interações com gente de todos os níveis.
O livro termina com uma visita a algumas zonas de batalha, com especial emoção nas zonas da frente ocidental onde o CEP verteu sangue pelas terras de França e Aragança (uma daquelas deliciosas expressões hoje esquecidas que o escritor tanto usa na sua obra). A visão de Aquilino sobre a participação portuguesa na guerra é realista e crítica, embora se note um certo elogio da entrada na guerra e a observação da sua inevitabilidade face à defesa das colónias, embora observe que a perda de vidas humanas e os gastos militares não compensam "uns palmares no além mar".