Sofia Rodrigues (2024). Por Ti, Portugal, Eu Juro!. Lisboa: Tinta da China.
Uma leitura incómoda, que toca num momento ainda muito incómodo na memória portuguesa. O livro olha para o destino dos soldados africanos que foram arregimentados pelo regime colonial para combater contra os movimentos de libertação durante a guerra colonial na Guiné. Tropas essas que finda a guerra, com o 25 de abril, foram não só esquecidas como também vítimas de ardis burocráticos. Os homens que serviram nas forças armadas portuguesas foram abandonados, com as consequências óbvias que se podem esperar. Há relatos de tortura e execuções sumárias por parte das autoridades guineenses, e décadas depois, a maioria dos sobreviventes reclama em vão por apoios mínimos como pensões de sangue ou cuidados de saúde por parte de um estado, o português, que lhes prometeu benesses mas mantém firme o seu abandono.
A questão da guerra colonial é ainda muito sensível na nossa socieade, de tal forma que nas discussões públicas se cai muito ainda no binómio guerras do ultramar/libertação. É tema desconfortável, especialmente tendo em conta a visão oficial do colonialismo português como algo benéfico e suave. Algo que a realidade histórica desmente, poderemos não ter descido ao nível dos belgas no Congo, mas agimos de forma rigorosamente igual à de todas as potências que ocuparam África, explorando os seus recursos e populações. Não é um passado de que nos possamos orgulhar, mas também não pode ficar esquecido.
Admitir isto seria um ato de maturidade histórica que não vejo acontecer no discurso público. A história do destratamento dado aos africanos que combateram nas forças portuguesas faz parte de um panorama mais alargado num período que não podemos analisar de ânimo leve.