James Fallows (2012). China Airborne. Nova Iorque: Pantheon.
Confesso, este foi daqueles livros que, em alfarrabista, peguei ao engano. Conheço o trabalho do autor como jornalista que escreve sobre as suas experiências como piloto, e pensei que o livro fosse sobre conhecer esse imenso país pelo ar. Bem, nem por isso, apercebo-me quando começo a ler sobre a modernização da indústria aeronáutica chinesa, que Fallows acompanhou enquanto jornalista e entusiasta com ligações fortes ao mundo da aviação.
O livro é mais do que um relato sobre modernização aeronáutica, acaba por ser um intrigante vislumbre sobre o colosso chinês. Intrigam, as descrições de Fallows sobre uma população ambiciosa, disposta a construir negócios para enriquecemento não só pessoal mas do seu pais, o papel de um estado totalitário nos seus princípios e operacionalidade mas que na realidade dá um espaço de manobra maior do que o expectável, e do seu contrato social de obediência em troca de investimento e e melhoria das condições de vida dos cidadãos (nem que para isso os dote do que Fallows designa de trabalhos de faz conta, pessoas cujas ocupações são praticamente inúteis e existem apenas para manter emprego).
O fortíssimo dinamismo da economia chinesa é feito de assimetrias e de um modelo de fábrica do mundo, apesar dos esforços do governo em contrário. O mesmo se nota no sector académico, onde se em estatísticas puras a China lidera, em termos de qualidade intelectual e prestígio académico fica muito aquém das universidades ocidentais. A fabulosa infraestrutura moderna chinesa de redes rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias representa um esforço contínuo de puxar uma enorme vastidão territorial para níveis de prosperidade ocidentais, garantido empregos e trabalho.
Fallows é um observador atento destas tendências, e anota também a forte interligação entre chineses e norte-americanos. Se os governos gostam de se afirmar a agitar as espadas, assinalando a crescente capacidade militar chinesa como uma ameaça clara, na verdade a integração económica entre estes países, como mercados interdependentes, relações de investimento e esforços institucionais de modernização das instituições chinesas é fortíssimo.