terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Primeiros Escritos Portugueses sobre a China


Galiote Pereira, Gaspar da Cruz (1989). Primeiros Escritos Portugueses sobre a China. Lisboa: Publicações Alfa.

Dois textos, vindos do século XVI, que relatam as primeiras percepções dos portugueses recém-chegados à então misteriosa China. O Tratado da China de Galiote Pereira relata as experiências de um mercador, capturado com o seu grupo em circunstâncias estranhas. Reino fechado, o império recusava os contactos com os bárbaros europeus, mas comerciava nas suas fímbrias. A captura dos portugueses foi feita no meio da vontade de enriquecimento de magistrados locais, o que despertou a fúria do governo central e levou a uma espécie de perdão aos europeus, libertos das violentas prisões mas internados em diversas cidades chinesas. É esse o relato deste sobrevivente, detalhando as suas experiências primeiro como prisioneiro, depois como internado, olhando para o sistema judicial e alguns vislumbres da sociedade chinesa.

Da autoria do missionário Gaspar da Cruz, Cousas da China é um olhar muito detalhado sobre a China. Tendo lá ido numa missão falhada de espalhar a fé cristã, o missionário observa e relata a sociedade chinesa, os seus usos e costumes, formas de governo e religião (aqui, com o expectável desrespeito de um fervoroso católico quinhentista face à riqueza da mitologia sínica). Parte da obra baseia-se no livro de Galiote Pereira, mas Gaspar da Cruz vai mais fundo no seu retrato do país. Comete alguns erros algo medievalistas, dando algum crédito ás lendas sobre homens de corpos estranhos, ou afirmando que o país quase faz fronteira com as terras alemãs.

Após as Viagens de Marco Polo, estes foram os primeiros relatos que chegaram à Europa sobre a China. São visões de um primeiro contacto com uma nova civilização, não totalmente desconhecida (recordemos que já havia relações comerciais, através da Rota da Seda, entre os impérios romano e chinês) mas, dada a sua distância, ainda misteriosa.