segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Re Read

@archizer0 Se vale a pena? Espaços destes são sempre bem vindos. Mas nada que feiras do livro usado, alfarrabistas ou feira da ladra não tenham (e com preços mais baixos, em muitos casos). Se vou voltar? Claro. #booktok #booktpt #reread ♬ Seaside Blossom - Mateo Sanvila

 Não resisti a visitar a nova livraria lisboeta, que se tornou sensação viral. A Re Read fica em plena Avenida de Roma (ao lado do metro, pormenor que poderá ser importante para aqueles que, como eu, deixam o carro na zona da praça de Londres, e é uma pequena caminhada que se faz bem) e oferece livros usados a preço fixo. Começa nos 4€ por livro e vai aos 15€ por cinco.

Há um nome para este tipo de negócio, por cá chamamos-lhe de alfarrabistas, mas a Re Read tem uma estratégia de marketing inteligente e posiciona-se como uma livraria de bairro com consciência ecológica, replicando um modelo vindo de Espanha. Já visitei Re Reads em Madrid e afianço-vos que os espaços de cave atafulhada de tomos deles não se assemelham à decoração airosa e trendy desta livraria, pensada com bom gosto e, certamente que também, para ficar bem no Instagram ou TikTok. Não interpretem isto como piada acintosa, é mesmo um espaço agradável e são estas as regras do jogo de marketing dos dias de hoje.

Os preços parecem convidativos, até nos recordarmos que muito provavelmente encontramos os mesmos tipos de livros em alfarrabistas, stands da Mbooks ou na feira da Ladra por preços mais baixos. Não é mau negócio. De alfarrabistas trago livros com preços que vão de 1€ a 8/10€, e já paguei mais por livros que quis mesmo ter na minha biblioteca. Na mesma semana em que visitei a Re Read, descobri em Alcobaça um alfarrabista de onde saí com um livro clássico da Afrodite que me custou 45€ (bem, descobri não é o termo correto, foi mais tropecei, já estou numa curiosa fase onde não procuro livrarias, elas é que me encontram nos sítios por onde passo). O modelo da Re Read é diferente, aposta em preços fixos, e quem sabe se entre as suas estantes não temos a sorte de encontrar alguma raridade. Estas observações parecem querer reduzir o valor de um livro ao seu preço, mas o que um tomo realmente vale vai muito mais longe do que o valor marcado em euros.

O acervo da livraria não é muito grande, o que se pode explicar pela sua recente abertura e pelo sucesso viral que tem tido, com muitos visitantes a entrar para conhecer o espaço e sair de lá com livros nas mãos. Claro que ao entrar num alfarrabista, desculpem, livraria de bairro que dá nova vida aos velhos livros, um bibliófilo atento nunca sai de mãos a abanar. Vim de lá com cinco curiosidades bibliográficas - uma recolha de textos literários portugueses sobre naufrágios e batalhas, crónicas de Onésimo Teotónio Pereira (ando curioso com este intelectual português) editadas nos Açores, uma antologia de textos que vão de Artaud a Ouspensky sobre experiências com psicotrópicos (porque eu <3 literatura transgressiva); um caderno de atualidades onde personalidades que vão de Bertrand Russel a Von Braun deixam perspetivas sobre a exploração lunar (direitinho para a minha coleção de bibliografia retrofuturista), e um relato do jornalista da Atlantic James Fallows a voar sobre a China). 

Vale a pena visitar, e regressar? Claro que sim. Não é um espaço alfarrabista purista (até porque, na zona da cidade onde se instalou, os habitantes do bairro limítrofe se horrorizariam de frequentar tais antros), mas como qualquer livraria onde se encontrem livros em segunda mão, o gosto está em mergulhar nas pilhas e encontrar preciosidades bibliográficas. Recordando que o que para mim é um achado, para outros pode ser algo a passar ao lado. 

É este o gozo dos livros em segunda mão, que se têm tornado uma das principais fontes de compra. Não o faço pelo factor preço. Tem a ver com o acaso de encontrar livros inesperados, por vezes com alguma raridade, mas também com o meu cansaço perante as livrarias tradicionais. Sempre atafulhadas de novidades, onde é difícil encontrar obras mais antigas. Outro fator que me leva aos livros antigos é poder encontrar obras de autores que já não se encontram em livrarias tradicionais, caídos no esquecimento editorial. A Re Read é mais um espaço para caçar livros, e o ter um design simpático um bom pormenor. Junta-se à Livraria do Mercado (têm de ir a Óbidos para a descobrir) na categoria de alfarrabistas mais apelativos para as estéticas Instagram, mas que não descuram o seu acervo.