Nuno Teixeira, Francisco Domingues, João Monteiro (2017). História Militar de Portugal. Lisboa: A Esfera dos Livros.
Mil anos de história, condensados em cerca de 600 páginas. A vertente militar esteve, até aos tempos recentes, sempre profundamente interligada com a história de Portugal. O país nasceu nas guerras entre cristãos e muçulmanos, definiu o seu território nesse contexto de combates e alianças fluídas. Afirmou-se perante as tentativas hegemónicas de Espanha, em vários momentos da história. A expansão das descobertas trouxe consigo novas aventuras militares, no oriente, áfrica e américa do sul, entre as conquistas territoriais em nome do comércio e das tensões geopolíticas da época, e a defesa desses territórios face ao crescimento das emergentes potências europeias.
A época napoleónica trouxe aquele que foi talvez o mais destrutivo conflito da nossa história, de uma violência que nos faz, hoje, empalidecer (e é uma história pouco contada, talvez por ser incómoda), ao que se seguiram períodos de guerra civil até o país estabilizar em meados do século XIX. O final desse século trouxe a corrida a Àfrica, e com isso novas vertentes militares. Do século XX destaca-se a afirmação da jovem república nas trincheiras da Flandres, mas a história portuguesa da I guerra vai muito para além disso. A II guerra trouxe o enorme jogo de cintura de um regime ditatorial que sabia estar a tutelar um país economica e militarmente fraco, e tirou partido de intensos jogos diplomáticos para assegurar a sua sobrevivência. A segunda metade do século XX trouxe os inícios da integração do país na ordem estrutural mundial, com a integração na ONU e NATO, mas também a mortandade inútil da guerra colonial, um imenso sorvedouro de vidas e recursos em nome de um princípio de soberania em que já ninguém acreditava.
O pós 25 de abril e a democracia trouxeram a plena integração do país nas estruturas europeias e globais, a profissionalização das forças armadas, e a sua participação em missões humanitárias e de segurança global. A nossa história militar confunde-se com a história civil, como não poderia deixar de ser, e espelha as grandes forças que nos moldaram enquanto país.