Floriano Sergipe, Victor Machado (1931). Os Crimes do Bandido Lampeão. Lisboa: Henrique Torres
Não consegui descobrir muito sobre estes livros, editados por Henrique Torres em 1931. Econtrei-os na Livraria Suméria em Leiria, onde se pode encontrar boa parte da coleção. Adaptam os textos de Floriano Sergipe e são um ponto algo discreto, apesar dos seus quinze volumes, na literatura de aventuras que explora os mitos de Lampião e dos cangaceiros, transformando o sertão brasileiro numa espécie de western lusófono. Encontrei aqui, Os pioneiros da literatura cangaceira, algumas informações sobre o género, claramente pulpy, e os seus praticantes, mas com escassa informação sobre a edição portuguesa. O autor brasileiro nem sequer é referenciado em mais lado nenhum.
Isto é claramente literatura escapista, de entretenimento, empolgando os leitores com a invocação do distante Brasil. O ritmo de escrita é rápido e cheio de peripécias, com capítulos curtos que terminam sempre em suspense. No primeiro volume, descobrimos a origem do anti-herói, que começa por ser um honesto fazendeiro despeitado por uma mulher que se aproveita dele e o troca por outro amante. Semi arruinado, de coração partido, decide transformar-se num criminoso para exercer uma vingança mortífera sobre a mulher volúvel e os seus restantes amantes.
Ao mesmo tempo que abandona as suas propriedades e se assume como chefe de um grupo de cangaceiros e espalha o terror nos seus inimigos, o fazendeiro regressa à cidade, assumindo também o papel de um primo distante que vem viver com a tia e se apaixona pela prima, procurando negócios que o levem a recuperar as riquezas perdidas. Mas esta prima cai debaixo do olhar lúbrico de um comendador, que organiza o seu rapto para satisfazer os seus desejos. Termina aqui o primeiro volume.
No segundo volume, as aventuras do bandido seguem um cariz mais violento, com a perseguição que lhe é movida pelas autoridades, terminando num confronto com os soldados comandados por um tenente que lhe dá caça. Entretanto, o destino da prima raptada parece ser o encontrar uma nova paixão nos braços de um filho de boas famílias que a salva durante a fuga na selva. E, para compor as aventuras, a coesão dos caboclos que seguem o bandoleiro parece estar ameaçada por suspeitas de traição.
Há mais livros nesta série, são quinze no total, mas creio que chegam estes dois para sentir o pulso ao caráter desta literatura de aventuras escapista, que invoca as visões do sertão e da selva brasileira junto com as aventuras dos fora-da-lei. São o que são, histórias encadeadas sem fim, para entreter o leitor, e certamente longe da realidade violenta dos cangaceiros.