Manel Loureiro (2024). Cuando la tormenta pase. Barcelona: Editorial Planeta.
Não diria que Manel Loureiro seja um dos melhores escritores espanhóis da atualidade, mas é certamente um dos melhores e mais palpitantes contadores de histórias. Especializou-se no romance de aventura, e fá-lo com imensa elegância, numa prosa fluída que nos agarra até à última página. Tem outra vantagem, mais pessoal. Sendo galego, tornou-se exímio em invocar uma certa mística mítica e selvagem que as terras do extremo ocidente espanhol despertam. O seu romance La Puerta é um excelente exemplo disso, e este novo romance também puxa por esta mística.
Loureiro mistura muitos ingredientes num cocktail nem sempre lógico, mas coerente. Este romance é ao mesmo tempo policial hardboiled, aventura em lugar distante (bem, a ilha de Ons fica próxima do continente, mas a distância aqui mede-se em cultura e psicologia), psicopatias à solta, choque entre forasteiros e nativos, e até uns laivos de sobrenatural. O livro toca em muitas capelas, mas acaba por se safar com isso.
Acompanhamos as desventuras de Roberto Lobeira, um escritor em busca de inspiração para um novo livro já em cima dos prazos, que se decide isolar na ilha de Ons, durante o inverno, para o escrever. Logo nos primeiros contactos percebemos que a coisa vai correr mal, entre desembarcar num molhe sob forte tempestade e conseguir hostilizar alguns dos habitantes da ilha. O que se segue é uma espiral violenta que envolve clãs desavindos, suspeitas de criaturas sobrenaturais, bruxas, dinheiro do narcotráfico, agentes da lei corruptos, um psicopata assassino e sicários ao serviço de traficantes. As tormentas por que Manuel Loureiro faz passar o seu arguto personagem empalideceriam as tormentas de Job; boa parte do livro é passada a pensar "bolas, a história já lhe corre mal, como é possível que o autor a faça correr ainda pior"?
Lê-se com gosto, invoca-se alguma mística da paisagem galega, e essencialmente diverte. O livro não pretende ser mais do que isto, uma história bem congeminada que agarra o leitor às suas páginas.