Eurípides (1974). Ifigénia em Aulide. Coimbra: Instituto de Alta Cultura.
Uma tragédia que se foca num dos episódios mais negros da Ilíada, o sacrifício da filha de Agamemnon para aplacar os deuses e garantir o triunfo grego na guerra troiana. Um episódio que costuma ser apresentado sob o prisma da ambição desmedida de um rei que não hesita em sacrificar a filha mais querida para conseguir o que quer, mas que nesta tragédia de Eurípides ganha outra dimensão. Aqui, Agamemnon é um pai atormentado, que tenta evitar o sacrifício da filha, e é Ifigénia, a vítima sacrificial, que se oferece à morte, assumindo que a guerra contra Tróia é muito mais do que o vingar do rapto de Helena, e sim uma afirmação da necessidade de independência grega face às ameaças vindas a oriente. E assim deixa-se sacrificar, para pesar do pai, despertando o ódio de Clitmenestra, sua mãe (que Ésquilo explorará de forma magistral na Oresteia), morrendo em nome da liberdade do povo grego.