Cornelius Ryan (1974). A Bridge Too Far. Book Club Associates.
Depois de escrever aquela que é uma das melhores obras sobre o dia D, o jornalista e escritor Cornelius Ryan olha para uma das batalhas menos decisivas do esforço de guerra anglo-americano: a libertação da Holanda e a mega-operação Market Garden, uma ambiciosa operação terrestre e aerotransportada que visava empurrar os alemães até à fronteira e abrir o caminho para Berlim.
O plano do general Montgomery e do seu estado maior era audaz: lançar uma rápida ofensiva terrestre que atravessaria a Holanda, precedida de um majestoso assalto aerotransportado que dominaria as pontes sobre os rios que atravessam o território holandês, culminando no controle da travessia do Reno em Arnhem. Para isso, os Aliados apostaram numa enorme frota armada, uma operação aerotransportada nunca vista, que aterrou milhares de homens e materiais em pleno dia atrás das linhas alemãs, enquanto infantaria e blindados empurravam a frente.
Mas o plano depressa colidiu com duras realidades. A falta de inteligência sobre a capacidade das forças alemãs, vastamente subestimadas, a pouca confiança britânica nos resistentes holandeses, e erros crassos de planeamento transformaram o que se pretendia ser uma gloriosa marcha qye arrasaria as forças alemãs e as empurraria para lá da fronteira, numa carnificina em que nenhuma das partes obteve uma vitória decisiva.
A situação foi particularmente desesperada para os pára-quedistas britânicos, polacos e americanos que, lançados para lá das linhas germânicas em pleno dia, sofreram reveses entre o ser dizimados em pleno voo (o planeamento militar, subestimando as reais forças alemãs, não esperava aqui grande perigo), ver os seus suprimentos militares a cair nas mãos inimigas, da comida âs munições, porque os pilotos não sabiam que estavam a descarregar as provisões diretamente sobre os soldados alemães. Mas o pior são as batalhas violentas e sangrentas pelo controle das pontes, sendo a mais desesperada de todas a de Arnhem, a tal bridge too far de que fala o título. Aqui, mihares de homens foram dizimados, numa resistência implacável, esperando sempre um reforço que nunca chegou, sendo constantemente acossados por forças superiores em meios. Esperando a salvação que seria trazida pelas colunas blindadas que, por óbvios erros de planeamento, foram acossadas e travadas por uma resistência forte alemã. Um sacrifício enorme de vidas, que se traduziu numa retirada e abandono de um objetivo. Tantas mortes, aliadas, alemãs e de civis, para nada.
Ryan c0nstroi a sua história da operação Market Garden através do cruzamento dos relatos dos sobreviventes e a documentação militar. Sobressaem as histórias individuais, de soldados e oficiais que tudo sacrificaram, que assistiram ao impensável, viveram atos de heroísmo, numa luta sem quartel onde tudo se resumiu à sobrevivência pura. Mas, também, de civis holandeses, inicalmente felizes com a perspetiva da libertação, depois desiludidos com o descrédito dos seus resistentes, vítimas dos combates urbanos sem quartel, mas também voluntários para salvar as vidas dos soldados feridos. É uma história complexa, que não se reduz a dicotomias, onde a violência pura da guerra é posta em evidência.
O livro termina com duas citações que sublinham bem o terrível desperdício de homens, o derramamento inútil de sangue. Primeiro, o de Mongtomery, reclamando o sucesso da grandiosa operação, apesar de não ter alcançado o seu principal objetivo. Monty teve aqui um dos seus sonhos, os meios de um exército aerotransportado inagualado na história, que na realidade foi dizimado para a sua glória. Já o princípe-herdeiro do trono da Holanda, nomeado representante dos holandeses junto das forças aliadas pelo governo no exílio do país, observa que o seu país não conseguiria suportar os custos demasiados elevados de mais algum sucesso deste general.