Miguel Pimenta, Paulo Caetano (2022). Feras e homens : a fauna no Portugal medieval. Lisboa: Bizâncio.
Um olhar histórico e ecológico para a relação que os homens tinham com os animais na idade média. Da caçada enquanto desporto de elite, ao extermínio de espécies vistas como danosas. É, também, uma história de etimologia, olhando para os topónimos que hoje mantém a memória distante de animais hoje extintos, ou em reintrodução em zonas protegidas.
O Portugal medieval era um território de densa floresta, habitat de ursos, veados, cabras montesas, lobos e zebros, entre outras espécies hoje extintas. O prestígio da caça, desporto dos nobres nas suas organizadas montarias, ditou a extinção dos ursos e a quase extinção dos cervídeos e javalis. Já os lobos foram exaustivamente caçados pelas populações, vistos como animais danosos para o gado. Paradoxalmente, quer ursos quer lobos também encarnavam ideais de virtude e nobreza. Já para os zebros a história é mais nebulosa, este cavalo selvagem ibérico ou ter-se-á extinguido, ou domesticado, estando na encruzilhada entre os domínios da história natural e da tradição lendária. No entanto, inspirou o nome dado às zebras, a palavra que as designa é de origem portuguesa e foi dada quando os navegadores encontraram estes animais em áfrica, precisamente porque lhes recordava os talvez míticos zebros ibéricos.
Cruzamento entre a história e história natural, este curioso livro leva-nos a olhar para a nossa idade média. Descobrimos um Portugal mais selvagem do que o que conhecemos, bem como nos leva a conhecer os costumes e tradições de uma época que valorizava os animais apenas pelo valor económico que tinham, ou como alimento.