quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Centers of Gravity


Marko Kloos (2022). Centers of Gravity. 47th North.

Marko Kloos nunca desilude, sabemos sempre que nos trará uma excelente e divertida aventura de space opera militarista. Mas este oitavo livro da série Frontlines termina com uma sensação de conclusão, talvez sendo o último da série. 

Centers of Gravity conclui Orders of Battle, o livro anterior. Termina, com o habitual bom estilo de Kloos, uma história que nos deixou em suspenso. O eterno personagem da série encontra-se isolado longe da Terra, num misterioso sistema planetário errante que poderá ser o planeta-mãe dos Lankies, os mortíferos alienígenas desta série.  Encalhados para além de qualquer socorro, os militares continuam a sua missão, procurando formas de sobreviver no sistema sem serem detetados pelo inimigo. Exploram algumas luas, em busca de recursos naturais essenciais, e é aí que se deparam com uma chave que poderá permitir compreender o inimigo. Ao penetrar numa das suas tocas, um complexo de túneis que lhes serve de abrigo, soldados e cientistas deparam-se com evidências de linguagem escrita no espectro infravermelho. E descobrem a origem das naves espaciais inimigas, que são construídas organicamente a partir de uma base fungal. 

No entanto, a sua presença no coração do inimigo começa a ser detetada, e fugir torna-se imperativo, agora para mais que dispõem de dados cruciais para compreender, e eventualmente derrotar, os alienígenas. Para isso, as tripulações urdem um plano arriscado, onde tentam recriar as condições que os levaram àquele destino desconhecido, deixando-se apanhar pela bolha hiperespacial de uma nave inimiga. Conseguem, mas o plano não é totalmente bem sucedido, sendo atacados pela nave a que se colam. Regressam ao ponto de origem, com a nave despedaçada, conseguindo enviar mensagens para a Terra, antes de, em desespero, tentarem reconquistar uma antiga colónia aos alienígenas, a única forma de sobreviverem. São salvos no momento mais crítico por uma força terrestre. Uma salvação que trará uma enorme surpresa: aquilo que para os tripulantes da nave foram semanas foram passadas no espaço inimigo, na verdade foram anos, cortesia dos efeitos da tecnologia hiperespacial inimiga. Para Andrew, o protagonista da série, o ter sobrevivido a mais esta aventura representa o culminar da sua carreira. A recuperar de graves ferimentos, depois do trauma de ser afastado da mulher que ama, sentido que perdeu três anos da vida dela, e a conhecer a sua filha, está decidido em retirar-se da vida militar e tornar-se civil.

Seria uma pena que Kloos encerrasse aqui a série, embora se compreenda que ao fim de oito livros, o cansaço temático se tenha instalado. Mas há uma vertente que Kloos, nestes livros todos, nunca explorou - as lógicas da civilização alienígena que ataca incansavelmente as colónias terrestres, chegando a ameaçar a Terra. Seres gigantescos, que se comportam como animais de enxame (em terra, a sua forma de ataque é a debandada, que esmaga tudo o que enfrenta), muito difíceis de abater, e com naves de tecnologias misteriosas com armas mortíferas. Uma espécie que nunca tentou comunicar, sobre o qual tudo é desconhecido. Kloos puxa pela imaginação e neste último livro da série, dá-nos umas imagens do mundo e sociedade inimiga.

A chave, talvez, esteja na ideia de fungos que constroem naves orgânicas. Não me surpreenderia se, num eventual próximo livro da série, os fungos fossem revelados como a verdadeira inteligência alienígena,  tendo desenvolvido biotecnologias que incluem viagens no espaço, e usando os gigantes Lankies como utensílios vivos e descartáveis, habitantes de uma cultura enxame. Uma civilização micelial que se expande pelo espaço com biotecnologia, eis uma ideia curiosa. Mas, dado o tom final que encerra Centers of Gravity, suspeito que este talvez seja o último livro da série. Pelo menos, de acordo com o site de Marko Kloos, o último que terá Andrew como personagem principal.

Notem que não estamos a falar de ficção científica de excelência. Kloos tem um nicho, que explora muito bem, de aventura militarista, cheia de veneração pelo espirito das forças armadas. Consegue fazê-lo sem cair nos lugares-comuns autoritaristas ou fascizóides associados a este género. Não por acaso, David Weber, que também se distingue pela excelente FC militar sem decair em conservadorismos extremos, é uma das influências óbvias de Frontlines. Claramente, Kloos não procura criar clássicos da FC, apenas contar boas histórias, divertidas e cheias de peripécias. Nem toda a literatura tem de ser profunda e introspectiva, e talvez o facto da Ficção Científica assumir isso, valorizando tanto as vertentes mais experimentais como as mais convencionais, seja um dos fatores que a deixa mal vista pelo mainstream. Quanto a Frontlines, bem, esperemos pelo próximo livro da série, se houver, para voltar a mergulhar na união terrestre que luta pela sobrevivência contra um inimigo enigmático.