Tiziano Sclavi, et al (2022). Dylan Dog: Golconda e altre follie. Milão: Sergio Bonelli Editore.
Um regresso ao melhor do imaginário de Tiziano Sclavi. Este volume reúne algumas das suas mais surreais histórias, aquelas onde o autor e criador de Dylan Dog deixou a imaginação mais à solta. Abre com Golconda, uma das mais sublimes e bizarras aventuras do old boy. Uma história que é uma homenagem ao surrealismo, à banda desenhada, mas também ao humor. Começa com um telefonema enganado, que despoleta uma estranha invasão demoníaca em Londres, e um amor que levará Dylan de carro à Índia. E se vos parecer estranho que um carocha em eterno estado de avarias vá da Inglaterra à Índia, isso indica-vos os volteios que a lógica leva nesta história. Afinal, é a aventura onde a cidade é invadida por homens de chapéu de coco caídos do céu (referência a Magritte, e a funcionar bem) ou um olho gigante anda de bicicleta nas estradas.
Ai confini del tempo é outra das grandes histórias clássicas do personagem. Um arranha-céus ultramoderno está infestado por estranhas aparições, que na verdade são as barreiras do tempo a desintegrar-se e a fazer coexistir no mesmo espaço londrinos milionários e dinossauros de dentes afiados. Para ajudar Dylan, Sclavi invoca um personagem que homenageia Wells, veste-se como um druida, e cruza computadores com magia celta. Il diavolo nella bottiglia é uma variação da clássica história da concessão de três desejos e suas consequências, mas vinda de Sclavi, as variações são distorcidas e divertidas, nesta história onde um demónio em excesso de zelo provoca uma ida de Dylan aos infernos. Que não são altos-fornos de almas, mas sim um lugar de imensa burocracia liderado por um manga de alpaca. Verso un mundo lontano é uma forte vénia a Slaughterhouse 5 de Vonnegut, mas também um aceno para a violência doméstica.
Se Dylan é um personagem comercial, com imensas histórias em edições mensais, o seu melhor saiu das mãos do seu criador. Através da erudição e inventividade de Sclavi, muitas das suas histórias transcendem os limites do comercial, são pérolas da banda desenhada de terror. Ler Golconda com todos os seus detournements, é perceber porque é que vale a pena descobrir Dylan Dog, mesmo que nas suas versões mais recentes não tenha tido argumentistas capazes de chegar a estes níveis.