Carlos Ruiz Zafón (2020). A Cidade de Vapor. Lisboa: Planeta.
Não sendo habitual leitor de literaturas mais mainstream, desconhecia a prosa de Zafón. Fui arrastado para este livro por culpa de um clube literário, que o elegeu como leitura do mês. Fui surpreendido pela prosa fluída e elegante, mas especialmente pelo discreto tom negro da maioria dos contos de A Cidade de Vapor. Zafón dá um tratamento implacável aos seus personagens, não os espera finais felizes, antes, quer sendo contos longos ou curtas vinhetas, espera-os amargura e desolação.
Há alguns elementos de fantástico neste livro, não especialmente assumidos mas a tornar diáfanos alguns dos contos. Alguns fazem-se de nostalgia, outros de sonhos e assombrações, ou quando muito vislumbres de outras realidades. Mas estes elementos não são suficientes para rotular este livro como pertencente aos domínios do fantástico, é literatura no sentido mais mainstream, com alguns apontamentos sombrios.
Apesar de alguns personagens que vão reaparecendo nestes contos, a grande personagem destes é a cidade de Barcelona. Em parte, a cidade física, projetada no seu passado recente. Mas a fisicalidade urbana não é o principal elemento que traz Barcelona aos leitores. Antes, é uma cidade imaginária, feita das memórias e efabulações do autor, uma mescla de espaços reais com imaginários.