Joseph Roth (2011). The Leviathan. New Directions.
Um homem que vive no interior russo, vive da venda de joias em coral aos seus conterrâneos. Rodeado de terra, próspero dono de um negócio dedicado à beleza, casado com uma mulher que já há muito não ama, afável com os clientes que trata como amigos. Um homem que tem tudo para ser um mero burguês rural, pessoa importante no pequeno mundo da sua vila. Mas um homem que também sonha, sonha com o mar distante que nunca viu.
Não lhe escapa a ironia de ser comerciante de corais, esse produto tão marítimo, sem nunca ter visto o profundo azul e sentido o aroma do mar. Quando um jovem da aldeia se junta à distante marinha russa, o homem toma uma decisão, e acompanha o jovem até ao porto de Odessa, onde, finalmente, vê o mar e visita um navio. Uma experiência que o transforma e anima, apesar de no regresso à sua vida a sorte deixar de lhe sorrir.
Presos aos grilhões das nossas vidas, demasiados de nós deixam de sonhar, ou recusam o sonho por lhes recordar que haveria outras possibilidades para lá daquelas em que estão enredados. O protagonista arrisca partir em busca do seu sonho, embora não solte as amarras à sua vida. Isso enriquece-o moralmente, reforça-o mesmo sabendo que regressará, e mesmo percebendo, ao regressar, que a evolução dos tempos e tecnologias o parece estar a condenar a obsolescência. Perante a adversidade, conforta-se com o, por uma vez, ter sentido aquilo com que sempre sonhou.