Esta semana, destacamos listas de boas leituras em banda desenhada e literatura, lançamentos de manga em Portugal e razões para visitas extraterrestres. Fala-se de NFTs, do corretor ortográfico sensível e da visão longa da exploração espacial. Reflete-se sobre os desafios que se colocam à União Europeia em 2022, da capacidade de desligar ou dos imperativos estratégicos russos. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas da semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
A 1971 Tang advertistment, with art by Helmut K. Wimmer: Ah, o sonho do Vai-vém espacial.
Lançamento: Na prisão: A Sendai está a distinguir-se pelas propostas muito inesperadas que traz aos leitores portugueses. Mostra-nos outras vertentes do manga, longe do lado comercial que o popularizou no ocidente. Esta nova proposta vai-nos levar ao sistema prisional japonês, sob o olhar autobiográfico do autor.
Melhores leituras de 2021 – Banda desenhada: Um post enciclopédico da Cristina Alves sobre as suas melhores leituras de BD. Repleto de excelentes sugestões, li boa parte delas e também fazem parte das minhas listas. Embora, pessoalmente, coloque o livro de Horácio Gomes como o melhor livro de BD portuguesa de 2021. Lá está, sensibilidades e gostos, é mesmo isto que anima estas partilhas. Fico também contente pela redescoberta de Daniel Torres, um retro-futurista espanhol avant la lettre, cujas aventuras de Rocco Vargas li na Selecções de BD (ou seja, literalmente no século passado), e está de regresso com um novo livro. Spot on em Boucq, partilho da mesma opinião. Creio que só discordaria do Castelo dos Animais, fui lendo a pré-publicação na Immanquable e confesso que não me atraiu nada.
… suddenly swooping helitroopers!: Há uma cena parecia no filme Apocalipse Now. Com banda sonora wagneriana.
Sunday Morning Transport: Semanalmente, um novo conto de ficção científica no email, via este Substack que está apostado em trazer-nos o que os novos autores de ficção científica andam a escrever.
Five Hypothetical Reasons Aliens Would Bother Visiting Earth: E porque é que alienígenas se dignariam a visitar este terceiro calhau a contar do Sol? Para lá de usarem a espécie dominante como ingrediente (To Serve Man de Damon Knight), este artigo da TOR recorda algumas das mais bizarras interações com alienígenas imaginadas pela Ficção Científica.
BANGCAST – A importância de H. P. Lovecraft, com António Monteiro: António Monteiro é um dos mais eruditos e atentos leitores de ficção fantástica e de terror que conheço. Publica regularmente a newsletter Sustos às Sextas, após o final dos eventos presenciais (ah, saudades dos momentos musicais no palácio, das conversas informais, e das bolachinhas em forma de morcego, eram sempre noites interessantes). É aquele que, por cá, mais vale a pena ser ouvido quando se fala das vertentes mais clássicas do terror.
The Ancient Epic of Gilgamesh and the Precession of the Equinox: Uma intrigante hipótese, que liga o texto clássico sumério aos mitos e lendas sobre as estrelas, que são em si formas de descrever os movimentos celestes.
Livros de 2021: ainda posso?: Claro que sim, João Morales. Deste furacão da discussão cultural podemos sempre esperar propostas muito arrojadas, algumas obscuras, mas sempre de dar a volta à cabeça do leitor.
Eddie Jones, “First Assault on the Death Star,” 1977: Que a força esteja conosco.
Quando os comunistas italianos fizeram quadrinhos para crianças: Uma história do uso de banda desenhada infantil para fins didático-propagandísticos. Como fã de BD que sou, sempre achei redutora a visão da BD como meio didático, que limita imenso a perceção do potencial desta forma de arte e a reduz como coisa para crianças. Mas não deixa de ser uma vertente importante.
Tecnologias
Computers from Check In to the Flight Deck: Uma curta história da forma como o computador transformou a aviação, entre o design CAD, simulação virtual, sistemas de gestão ou fly by wire.
People Think China Launched an ‘Artificial Sun’ Into the Sky: Ah, ciência, essa coisa difícil de perceber. Isso das centrais de fusão nuclear é um conceito demasiado difícil, e que tal levar a metáfora do sol artificial à letra?
Second Life joins the metaverse discussion with the return of its founder — and some key patents: Há o hype insosso do Facebook (que, há que reconhecer, tem capacidade financeira para levar a deles avante), e há quem tenha dedicado a sua carreira a desenvolver mundos virtuais, quer no lado tecnológico quer no económico. Faz todo o sentido que o venerável Second Life e os seus criadores reclamem o espaço que lhes é devido. Senão, o risco de se pensar que os metaversos são fruto da imaginação de Zuckerberg e companhia é grande.
Ikea's Now Selling Incredibly Intricate 3D-Printed Home Accessories: Portanto, já podemos comprar objetos decorativos voroinizados no Ikea. Voroi quê, perguntam? Os diagramas de voronoi aplicados ao 3D permitem obter objetos totalmente em estrutura.
The Worrisome Rise of NFTs - Issue 112: Inspiration: O problema dos NFTs, e por extensão da criptofinança, entre o alto consumo de energia às possibilidades de fraude. Fico com a sensação que os NFTs estão na fase da túlipa holandesa, uma bolha especulativa de deslumbramento que leva toda a gente a nftizar ficheiros digitais, na esperança de ganhar criptomoedas. Uma bolha que inevitavelmente irá rebentar. No entanto, a ideia de tokens em registos públicos como forma de rastrear informação tem potencial, mas precisa de técnicas mais amigas do ambiente, e uma menor associação com a malta que sonha com lucro fácil.
Low Poly-fy Your 3D Models Online For Free: Uma ferramenta fantástica para quem faz impressão 3D. Facilita o processo de dizimação de polígonos, garantindo modelos 3d mais leves. Uso o Meshlab para isso, mas suspeito que esta nova app vai passar a ser a minha escolha.
Wikipedia Editors Have Voted Not to Classify NFTs as Art, Sparking Outrage in the Crypto Community: O que faz todo o sentido; o NFT em si não é a obra de arte, é o identificador transacionável, classificar NFTs como arte seria o mesmo que designar certificados de autenticidade de um quadro como arte. A confusão está no designar dos artefactos digitais vendidos por cripofinanças como NFTs.
Microsoft Office’s ‘Woke’ Spellchecker Is Perfectly Fine and Will Cause Nobody to Freak Out: Portanto, a Microsoft desenvolveu um corretor linguístico que nos ajuda a escrever de forma mais inclusiva, ajudando a evitar frases ou expressões que possam ser consideradas ofensivas. É uma ferramenta opcional, que ninguém é obrigado a usar, uma algoritmização das culture wars, e uma ideia que só fará sentido na mente dos mais radicalizados dos woke. Pessoalmente, penso que se precisamos de um software para mostrar empatia, cortesia ou boa educação, algo está profundamente errado com a nossa forma de estar.
The Long Result: Star Travel and Exponential Trends: Embora o artigo seja de leitura algo deprimente, observando que não temos nem as tecnologias nem os recursos para uma exploração espacial profunda, recorda-nos que "And if figuring it out takes centuries rather than decades, what of it? The stars are a goal for humanity, not for individuals. Reaching them is a multi-generational effort that builds one mission at a time. At any point in the process, we do what we can". Para chegarmos aos super-cargueiros e mega-navios de cruzeiro que sulcam os mares de hoje, os nossos ancestrais tiveram de engenhar jangadas e pirogas, talvez sonhando com um distante futuro de embarcações que lhes permitissem ir mais longe. No que toca à exploração espacial, estamos nessa fase.
Space Is Wreaking Havoc on Astronauts’ Blood: Mais uma notícia pouco simpática para os sonhos de exploração espacial. Mas não me parece que seja um obstáculo intransponível. Afinal, explorar as estrelas trará mais dificuldades.
China’s Surveillance State Will Test The West: Um conjunto muito interessante de insights sobre a forma como a China usa a algoritmia e computação para construir o sonho do estado leninista, onde o partido tudo vê, tudo controla. É também curioso, e preocupante, observar que as ferramentas de vigilância tecnológica funcionam em duas vertentes, a repressiva, mas também a facilitadora da gestão e do dia a dia. É aqui que reside o perigo para as sociedades ocidentais, na tentação de aceitar o autoritarismo por nos oferecer comodismo.