domingo, 27 de fevereiro de 2022

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Esta semana, fala-se dos livros de 2021, do lado lunático das visões sobre a Lua, e de otimismo na Ficção Científica. Olha-se para os perigos da dependência de serviços online das grandes empresas, de Inteligencia Artificial multifunções e algoritmos ao serviço da análise artística. Ainda se reflete sobre redes sociais da pré-história, clonagem e influencers, ou da estagnação da cultura musical. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas da semana. 

Ficção Científica e Cultura Pop


Robert McCall: Dos futuros.

2021: As escolhas dos leitores - Os resultados: É interessante ler quais os melhores livros de BD editados por cá na ótica dos leitores do blog de Pedro Cleto. De todos os escolhidos, só li (e apreciei) um. Soa estranho, dado que neste ano li imensa BD em português, de autores portugueses e em tradução, e estas obras não me passaram o lado, antes, não me despertaram o interesse. É natural, sou fã de ficções fantásticas, das quais ramifica o gosto por banda desenhada, e que por isso mesmo, não é um gosto por toda a banda desenhada. 

The Ted McKeever Steampunk Transformers That Never Was: Não sou fã de transformers, sempre achei estes personagens o pior da cultura pop comercial - o empolar cultural do mero marketing para vender brinquedos. Poderíamos dizer o mesmo de Star Wars ou outros ícones pop, mas estes têm a virtude dos brinquedos e merchandising decorrerem da história. Transformers é o oposto, primeiro o brinquedo, depois a história. Não ajuda que os filmes, que de quando em vez perscruto na TV, são uma ode à confusão, cheios de cenas de um barroquismo visual quase impossível de interpretar. E, no entanto, se tivesse havido uma série destes personagens desenhada por McKeever, aposto que ia ler. Não pelos personagens, mas pelo desenhador.

Jean-Claude Mezières (1938-2022): Deixou-nos um dos gigantes da BD do século XX, o desenhador que fascinou com o lado visual de pura space opera na série Valérian.

Manuel Orazi - (Magic Calendar) Mil DCCCXCVI, 1895: Uma fantasmagoria da viragem do século XIX para o XX.

Carlos Alberto Santos (1933-2016). cenni biografici: Recordar um dos grandes ilustradores portugueses de banda desenhada, autor que, se tivesse trabalhado nos Estados Unidos, provavelmente seria tão conhecido como Al Williamson, Wally Wood e outros grandes nomes dos anos 60 e 70.

10 Spectacularly Silly Depictions of the Moon in Sci-Fi Movies: A Lua é uma amante difícil, e nem sempre a forma como é representada no cinema é realista. Aqui, algumas das mais irrealistas, incluindo a expectável referência a Méliès.

Star Trek Next Generation Memes That Go Hard Like Picard: To boldly go. Gira, a piada do homem e do avião.

Great books are still great: Os clássicos têm algo para nos ensinar? Claro, é essa a razão por se terem tornado clássicos, a sua transcendência de épocas e geografias.

O Coração na Boca – Horácio Gomes: Para mim, uma das surpresas de banda desenhada do ano de 2021, quer pelo tipo de narrativa biográfica, quer pelo excecional traço. O livro não está a deixar a restante crítica de fãs indiferente.

Photo: Cheio de estrelas.

Antologias abertas a submissões 2022: Para escritores e aspirantes a escritores, algumas iniciativas abertas para publicar em papel ou digital contos no domínio do fantástico.

15 Books You Won’t Regret Re-reading: Uma lista de releituras, mais dedicada à ficção mainstream.

Your Moon Knight Questions, Answered: Parece à partida o clone Marvel de Batman, a branco em vez de negro para marcar a diferença. Mas na verdade, Moon Knight é dos personagens mais bizarros da editora. Há que apreciar a fronteira difusa entre ter múltiplas personalidades e ser múltiplas personalidades.

“Hopepunk” — Dystopian Sci-Fi Gets An Antidote: Bem, isto já não é novo, vem do Cli-fi e movimentos punk na literatura de ficção científica. A sua lógica é injetar otimismo na especulação, fugindo ao grimdark.

hmdtyjetyj eu eut6ut2 [r] by x-ray delta one: Futurismo da guerra fria.

The History of Science Fiction – A Graphic Novel Adventure – Dolo e Moreissette-Phan: A história da Ficção Científica, num excelente exemplo de banda desenhada didática.

Sci-Fi Books that Changed the Genre Forever: Alguns livros verdadeiramente seminais, que abriram novas vertentes a este género literário.

Tecnologia


*First published in 2007: Pois, recordam-se da segunda vida dos metaversos? Agora, vivemos a terceira. O que me deixa relutante em levar esta tecnologia a sério é saber que a primeira - os mundos de chat VRML, e a segunda, as plataformas tipo Second Life, esfumaram-se nas suas promessas, embora continuem a ser interessantes nichos da vida digital.

How E Ink Developed Full-Color e-Paper: Sou enorme fã desta tecnologia, que não substitui os ecrãs policromáticos, mas é perfeita para a leitura digital. Faltava a cor,  um passo importante, e embora o que tenhamos hoje ande longe do brilho dos ecrãs lcd/amoled, é excelente para sustentar longos períodos de leitura com cansaço ocular mínimo e desgaste quase nulo de bateria. 

Atari Breakout: The Best Videogame of All Time?: Bem, cada fã lutaria até à morte por distinguir o seu jogo favorito com este título, mas o interessante deste artigo sobre a história dos videojogos é mostrar-nos que Breakout é talvez o primeiro verdadeiro jogo de computador da história, uma vez que o lendário Pong dependia de eletrónica e não de processamento.

Could humanlike behavior make smart devices more engaging? MIT researchers think so: É algo de muito humano, adoramos interagir com robots de aspeto agradável. Um exemplo: fico sempre surpreendido ao ver crianças a interagir com robots sociais, especialmente se forem do seu tamanho. Sabem que estão a lidar com uma máquina, mas não os tratam como máquinas.

12 Things You Didn't Know You Could Do on YouTube: Algumas ferramentas e funções menos conhecidas do popular site de vídeos.

The Lawnmower Man, and Vintage CGI: Se os filmes baseados em livros geralmente se afastam do material escrito, este afastou-se tanto que do conto original de Stephen King que partilha pouco mais do que o título. Tornou-se um exercício de estilo que cruzou as ideias mais bizarras possíveis com o CGI dos anos 90. É muito, muito bizarro.

The Only Way to See This Art Exhibit Is on a Game Boy ROM: Uma forma intrigante de encarar a arte digital, criando conteúdos exclusivos para uma plataforma retro. Percebe-se a estética e as questões que levanta, mas do ponto de vista de curadoria e arquivismo, é um pesadelo.

Amid the Hype over Web3, Informed Skepticism Is Critical: Se o hype sobre tecnologias sempre se caracterizou por rapidez em risco de sobreaquecimento, quando falamos da web3 parece estar o rubro, com aquilo que a autora deste ensaio identifica como obsessão pela obsolescência rápida para abrir caminho para o novíssimo.

Scientists Extremely Intrigued by Possible Sign of Life on Mars: Notem que são indícios, e não provas de vida, poderão ter um sem número de explicações científicas. Mas podemos sempre sonhar.

Google will make free ‘legacy’ G Suite accounts pay for its office apps starting in July: Devo dizer que o meu coração paralisou um pouco com esta notícia. Tantos dados, documentos, trabalhos de alunos, históricos de comunicações que senti em risco. Como muitos outros docentes/gestores digitais de escolas, dependemos dos serviços gratuitos Google Workplace for Education.  Não está abrangido por esta mudança de política da Google, mas pergunto-me, até quando? Quando é que um gestor da empresa vai reparar que estão a fornecer estes serviços gratuitos e pensa encontrar ali mais uma forma de lucrar. O preço parece simpático, seis dólares por mês por utilizador, mas no meu caso, teria de multiplicar por um universo de mais de 3500 utentes, entre professores e alunos. Mais de vinte mil euros mensais, uma verba totalmente incomportável para qualquer escola. Se se estão a perguntar porque é que dependemos destes serviços, é de apontar que apesar de estarmos a viver um enorme investimento do Ministério da Educação na disponibilização de meios digitais e formação de capacitação, é que esse investimento não se estende ao software e plataformas. Continuaremos a depender dos serviços cedidos por empresas que, a qualquer momento, podem mudar de estratégia. E, pior, os dados das nossas crianças são dados de mão beijada a estas empresas, criando situações muito nebulosas em termos de proteção de dados e cumprimento do RGPD. 

When NFTs Came To Marfa: Se a esmagadora forma de usar NFTs no mundo da arte se parece demasiado com bolha especulativa sem grande futuro, há projetos que se destacam. Este é um deles, pela forma como cruza o mercado de NFTs, arte algorítmica e curadoria.

A First: An AI System Has Been Named An Inventor: Pela leitura, fico mais com a sensação que esta ação está mais na senda do golpe publicitário do que uso real de IA em processos de pesquisa. Quando são advogados a pronunciar-se, fico com a sensação que o foco não está na tecnologia. 

Meta’s new learning algorithm can teach AI to multi-task: Um interessante desenvolvimento no campo da inteligência artificial, com algoritmos capazes de múltiplas operações de reconhecimento em simultâneo. Bem, todos aqueles dados que deixamos no facebook, Instagram e Whatsapp estão a servir para alguma coisa.

How Facebook and Amazon Rely on an Invisible Workforce: Recordar que o ecossistema digital é construído em cima do trabalho intenso e mal pago de legiões de moderadores de conteúdo e etiquetadores de dados, forçados a trabalhar em segredo com conteúdos demasiadas vezes traumáticos.

La Unión Europea prepara un DNS público propio con el que bloquear el tráfico "ilegal y malicioso": É um passo importante, se queremos assegurar independência e soberania europeia no mundo digital. Demasiados dos nossos serviços digitais dos quais dependemos pertencem a entidades extra-comunitárias. Se não houver investimento e incentivos europeus, essa dependência ainda se agudiza mais.

Opera lança Crypto Browser para Web3: O investimento no cripto está claramente em crescimento.

Google reportedly plans to release an AR headset in 2024: Depois do falhanço, mais social que tecnológico, do Glass, a Google parece estar a querer regressar em força ao campo da realidade aumentada.

The first movie studio in space could be attached to the ISS in 2024: É um passo lógico no uso comercial do espaço, estou curioso para ver se realmente passará da fase das intenções.

An Entire Country Switched to Bitcoin and Now Its Economy Is Floundering: Sem grandes surpresas, acrescente-se. Aparentemente, centrar a economia de um país numa moeda que os cidadãos não compreendem nem confiam é receita para o desastre económico.

Blogger suspende site de livros por queixas falsas de pirataria: É daquelas notícias que me deixa arrepiada, como blogger, sentindo que também estou vulnerável a este tipo de situações. Que são praticamente automatizadas, desde a suspeita de infração à suspensão, sem decisores humanos  no laço de decisão. Reparem, o blog foi suspenso por uma empresa considerar que colocar os títulos dos livros era uma infração à sua propriedade intelectual. O que é estúpido e absurdo, mas possível.

Alguien ha creado el "Pirate Bay" de los NFTs: ofrece gratis miles de imágenes y lo presenta como un proyecto de arte educativo: Suspeito que haja aqui muito bom humor. Brinca com os colecionadores de NFTs que pensavam que tinham adquirido um ficheiro digital exclusivo, único e não replicável. Mas não, apenas adquiriam a propriedade sobre um token ligado a esse ficheiro, que em si, sendo código, é facilmente replicado.

Mejores tablet en calidad precio: las recomendaciones de los editores de Xataka: Essencialmente iPads, e apenas trago aqui este artigo por ter afirmado o muito óbvio: o panorama de tablets no mundo android é péssimo, abunda a oferta de equipamentos de muito baixo custo mas de reduzidas capacidades e rápida obsolescência. Pessoalmente, considero o tablet o melhor dispositivo para a vida digital, por aliar a portabilidade dos dispositivos móveis à capacidade e largura de ecrãs. É excelente para o dia a dia, mas a experiência já me ensinou que nestas coisas, o barato sai caro, porque se o dispositivo que se adquire fica obsoleto muito depressa, ou é mal responsivo ao toque (todos aqueles clones chineses low cost sofrem deste mal), ou é lento (repetir aqui o parêntesis anterior), não se consegue fazer nada com ele, gerando a ideia que este tipo de computação móvel é ineficaz. Algo que, quem usa iPads, ou Lenovo e Samsung de gama média (o ordenado de professor não dá para a alta), sabe que é uma ideia incorreta.

Online Tool Turns STLs into 3D ASCII Art: Uma ferramenta inútil, mas divertida. 

When The Art Connoisseur Is a Robot: Sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial na análise e certificação de obras de arte, usando as capacidades de aprendizagem das redes neuronais para perceber o estilo individual de um artista. Não como substituição do analista artístico, mas como mais uma ferramenta à sua disposição.

Vinyl LPs Now Outselling CDs: Isto parece surpreendente, até nos recordarmos que a música hoje é esmagadoramente consumida em forma digital, nos vários serviços de streaming. Os formatos físicos ficam para nichos reduzidos e algo nostálgicos, e é aí mesmo que entra a moda do vinil - na era da perfeição digital, é um prazer ouvir a imperfeição analógica da agulha nos sulcos irregulares do disco.

Modernidade


Lillian Schwartz, Pioneer of Tech Art, Gets a Museum Archive: Uma amostra do acervo de uma artista pioneira da arte digital.

How a Wildly Popular Fashion Trend That Dominated Stone Age African Civilizations Suggests a 50,000-Year-Old Social Network: Havia redes sociais há milénios? Sempre houve, as redes sociais digitais que hoje tanto dominam a nossa atenção apenas se apropriaram de algo que nos é inato. O que surpreende, é perceber que na pré-história, os laços e redes de contacto entre grupos humanos se estendiam já por vastas áreas. E com isso, circulavam ideias e modas.

Instagram Influencers Are Cloning Their Pets to Keep Churning Out Content After They Die: Ah, século XXI, há tão poucos anos se alguém falasse de clonar animais de estimação para ganhar dinheiro com fotos fofas em redes sociais, seria proscrito por ter uma imaginação demasiado bizarra. E, entretanto, 2022 mostra que é um comportamento normalizado. Quanto à tecnologia em si, a clonagem não é exatamente fotocopiar o animal, especialmente no que toca à personalidade. Embora compreenda quem através da clonagem se queira agarrar ao amor que tem por um animal de companhia, pessoalmente prefiro fazer o luto e guardar as memórias. É que não há dois cães iguais, nem sequer como clones.

A meander through Martian minutes and the meaning of local time: Sobre o deslize temporal marciano, e a dificuldade de manter o relógio terrestre noutro planeta.

Jerry Saltz Once Called Artforum Ads ‘the Porn of the Art World.’ A New Show Brings Together Some of the Best—See Them Here: Quando a publicidade é em si um objeto artístico.

The West’s Weapons Won’t Make Any Difference to Ukraine: Quando escrevo estas linhas, ainda não se sabe se o país será invadido ou não. A situação parece negra, e a agressão russa soa a inevitável. Especialmente porque os autocratas sabem que os americanos dificilmente farão mais do que disponibilizar armas, e quaisquer tentativas europeias de intervir serão travadas pelos alemães. Estamos no inverno e por lá, não se quer as casas frias porque o gás natural russo deixou de fluir nos gasodutos.

How a Russian cyberwar in Ukraine could ripple out globally: O problema com as ciberarmas é que provocam reações em cadeia, afetam os seus alvos e todos aqueles a que eles estejam ligados.

2021 letter: A visão sobre a China de um analista que lá vive, estas cartas anuais são sempre um fascínio de ler. Este ano, o tema são os diversos centros políticos, económicos, industriais e financeiros da China, e a sua vibração cultural.

Komarov: a história do cosmonauta que sabia que iria morrer antes mesmo de decolar: Uma história negra dos primórdios da era espacial, que mostra como os jogos geopolíticos levaram a mortes evitáveis. Há que admirar a coragem sombria de um homem que sabe que embarca numa missão suicida, ou, talvez, aquele fatalismo russo que se lê em Dostoievsky e Tolstoi.

How a Network of Fake Art Collectors Used Instagram to Boost a Fictional Artist’s Career—and Make Money in the Process: Um delirante, e elegante, esquema para vender arte inexistente. É especialmente interessante pela forma como manipula a cultura digital transiente das redes sociais para gerar interesse e convencer os incautos da veracidade do inexistente. Talvez nem seja uma vigarice, mas sim um projeto artístico, de tão ambíguo que é.

Is Old Music Killing New Music?: Se são daqueles que já se perguntaram porque é que as rádios parecem tocar sempre as mesmas músicas, mantendo no ar os sucessos de há décadas atrás, este texto de um jornalista musical ajuda a perceber. É mais do que uma sensação, é uma tendência de mercado, entre rádios que se mantém nas playlists comerciais estruturadas (já repararam que quase não há programas de curadoria pessoal do apresentador, onde um conhecedor profundo de vertentes musicais partilha música com os ouvintes?), a aposta financeira das editoras nos catálogos dos criadores de sucessos do século XX, porque sabem que o mercado digital será uma mina, ao medo de analistas musicais serem processados por violação de propriedade intelectual ao ouvirem música nova (muito estranho, mas, possível). O resultado é audível, os novos músicos que estejam realmente a criar têm cada vez menos canais para chegar aos ouvintes. O panorama radiofónico está dominado pelos sons nostálgicos, ou o pior do comercialismo (pensem pop eletrónica, ou os insuportáveis ritmos latino-americanos, o funk ou a misoginia violenta do hip-hop). Os cartazes dos concertos e festivais têm como cabeça bandas demasiado veteranas, e pululam os legacy acts, antigas bandas clássicas já esvaziadas de criatividade, que alimentam um público ávido de ouvir o mesmo de sempre.

Only Putin Knows What Happens Next: Da incerteza da situação ucraniana, entre jogos de poder de nações e ambições de autocratas.

“Some other girl’s mediocre brother”: Rejected Men in Nineteenth-Century English Culture: Uma visão dos rituais institucionais de acasalamento, digo, de corte e casamento, nos tempos vitorianos.