Paola Barbato, Bruno Brindisi (2021). Dylan Dog: O Número 200. A Seita.
A mais recente proposta Dylaniati da Seita é muito especial. Para comemorar ter chegado às duzentas edições mensais (a série mensal vai no número 423, para terem uma ideia, e ainda há que contar com as reedições, as Color Fest, os Old Boy, e a série paralela Pianeta dei Morti, histórias é coisa que não falta a Dylan), a Bonelli encomendou algo de diferente. Paola Barbato, argumentista cujas histórias estanques e montadas com a precisão de um policial procedimental sempre me seduzem, ficou encarregue de trazer um novo olhar à personagem.
Nas suas geniais histórias, Sclavi nunca estabeleceu uma origem coerente à personagem que criou. Foi colocando indícios e insinuações - o inesperado parentesco com Xabaras, a relação incompreensível com Groucho, o ser um ex-polícia alcoólico, a sua proximidade com o inspetor Bloch, ou os eternos pormenores da casa de Craven Road, o carocha de matrícula 666 e o modelo de galeão que nunca termina. Barbato normaliza esses indícios, pegando neste material disperso que transforma numa história de origem coerente. Neste número 200, ficamos a conhecer o passado alcoólico de Dylan, o porquê dele se tornar detetive privado, o início da dupla com Groucho, as razões da enorme proximidade com o Inspetor Bloch. Entretecendo pormenores mais esotéricos, Barbato não esquece a misteriosa loja Safará, que lhe dá um excelente mote para introduzir a paternalidade de Dylan (ao longo das aventuras, é-nos revelado que o arqui-inimigo da primeira aventura, Xabaras, é na verdade o seu pai).
Retira um pouco do mistério, da aleatoriedade que Sclavi trazia à personagem, é certo. Abre novos caminhos, normalizando a personagem, aprofundando os mistérios do seu passado. Bruno Brindisi, um dos ilustradores habituais da série, ilustra com o seu traço competente.