Audrey Watters (2014). The Monsters of Education Technology. Smashwords.
Como aperitivo para o seu livro, longamente esperado mas publicado este ano pela MIT Press, sobre a história da tecnologia educativa, a investigadora Audrey Watters coligiu um conjunto de intervenções e keynotes neste livro. O tema, são as tecnologias educativas, que Watters critica de forma profunda, bem fundamentada, e certeira. A autora situa-se declaradamente numa abordagem à educação que privilegia as competências profundas, a capacitação e desenvolvimento profundo e autónomo do indivíduo, e não a mera transmissão de conhecimentos. É com base nesta visão que desmonta os pressupostos por detrás das mais recentes tecnologias educativas.
Aponta aos MOOCs e LMSs o seu carácter formulaico e rígido (compreendo, uso alguns LMS e a escolha nunca é o melhor sistema, mas sim o menos pior). Questiona porque é que as iniciativas de aprendizagem de programação se focam tanto no utilitário, desvirtuando e afastando-se da visão abrangente, do programar como ato intelectual, que está no cerne da visão de Papert que deu origem a este campo. Obriga-nos a pensar na questão dos dados, que com os sistemas digitais de apoio à educação, quer na aprendizagem quer na administração escolar, são um manancial imenso, apropriado e usado por entidades e empresas, mas raramente usados pelos próprios alunos, os geradores desses dados. Critica profundamente a superficialidade das visões comerciais sobre tecnologia educativa, desmontando a sua suposta inovação e mostrando que, na maioria dos casos, não passam de empacotamento do mais primitivo que há em educação, o absorver factos e treinar a sua memorização. Obriga-nos a perguntar porque é que temos o que temos, porque é que consideramos inovadores sistemas LMS inflexíveis, softwares de drill and practice, foco no aprender por aprender, ou gadgets cujo uso prático depressa mostra a rapidez com que se esgotam. Isto, em discursos e apresentações. Imagino o livro sobre a evolução da tecnologia educativa, que já está na lista de leituras.