terça-feira, 21 de setembro de 2021

Dr Space Junk vs the Universe


Alice Gorman (2019). Dr Space Junk vs the Universe: Archaeology and the Future. Cambridge: MIT Press.

Arqueologia espacial parece um paradoxo. Não parece óbvia a ligação entre a busca e estudo de artefactos milenares e o estatuto eternamente futurista da exploração espacial. E, no entanto, a era espacial já tem uma história, que se constrói a partir da evolução científica e tecnológica, dos projetos concretizados e os que não saíram do papel, das iniciativas políticas, dos impactos sociais. Nisto, também se contam os artefactos - satélites, sondas, restos de lançadores, sistemas de rastreamento, bases de lançamento, infraestruturas de apoio. É aqui que entra o trabalho de arqueologia espacial, no recuperar e documentar espaços terrestres outrora dedicados ao espaço, ou recordar os artefactos que colocámos em órbita, na Lua, nos planetas ou que se deslocam para lá do sistema solar.

Este livro é um misto de análise histórica com a experiência pessoal da autora, uma arqueóloga que conseguiu transmutar o seu amor pela astronomia através da arqueologia espacial. Gorman recorda-nos alguns dos marcos da era espacial através da história dos seus artefactos. É também um livro muito sensível a questões sociais, sendo mulher e australiana, Gorman coloca fortes críticas ao masculinismo pervasivo na ciência e tecnologia (o porquê de se ter tornado arqueóloga e não astrofísica mostra bem isso), bem como recupera a herança aborígene dos povos autóctones da Austrália, e a sua relação com a exploração espacial. O que repassa no livro é um enorme fascínio pelo passado e futuro da exploração espacial, através do olhar de uma mulher que está tão à vontade com vestígios milenares como com restos recentes do futurismo em órbita.