terça-feira, 15 de junho de 2021

AI Art: Machine Visions and Warped Dreams


Joanna Zylinska (2020). AI Art: Machine Visions and Warped Dreams. Open Humanities Press.

Zylinska não perde tempo com paninhos quentes, este ensaio critico sobre Inteligência Artficial e arte é verdadeiramente crítico. Aponta o dedo ao interesse na investigação sobre IA como uma fuga a outras problemáticas, nomeadamente as ambientais (se bem que não são campos mutuamente exclusivos).  No ponto de vista estético, denuncia como estéreis as discussões sobre se as máquinas são criativas, e as produções algorítmicas em machine learning (deepdream/daze, style transfer, GANs, entre outras) como um conforto visual, que atrai o olho mas não representa um mergulho profundo na arte e IA. 

Zylinska é claramente uma purista, que quer mergulhar a fundo na questão dos algoritmos e robots enquanto ferramentas de criatividade. Não no seu sentido mais apelativo ou de encher o olho, mas na forma como gera reflexões sobre a conexão entre sociedade e tecnologia, sobre os impactos tecnológicos, efeitos da sociedade panopticon, ou o aprofundar de estéticas próprias trazidas pelo uso de algoritmos enquanto meios de expressão. Pontua o ensaio com exemplos, que pessoalmente gostaria que fossem em maior número, de projetos que, na sua visão, fazem esse questionamento.

Talvez a reflexão mais importante que retiro deste livro tenha sido logo uma das suas primeiras ideias. A da importância do envolvimento dos artistas na tecnologia como forma de criar narrativas, de, através da sua visão pessoal e das histórias que contam, nos levarem a refletir, compreender e perceber os potenciais e impactos das tecnologias, fora do hype económico ou da linearidade científica.

Como educador, ligado às TIC no ensino básico, mas com raízes na educação artística (metade da minha carreira foi passada a lecionar Educação Visual e Tecnológica), confesso que tenho uma forte predileção pelas ferramentas que Zylinska considera estéreis e decorativas. No meu âmbito, fazem sentido, permitem-me colocar crianças a experimentar algoritmos enquanto ferramentas de expressão visual, para as levar a conhecer o campo da Inteligência Artificial de formas práticas, mexendo diretamente na massa. A rapidez com que nos dão resultados visualmente interessantes é gratificante para o nível de ensino onde trabalho, ajuda a despertar consciência, e a perceber que as estéticas trazidas pelas ferramentas digitais merecem ser exploradas. Essencialmente, tento lutar contra o factor isso é muito estranho, por isso vamos desvalorizar. Isso, creio, faz-se colocando ferramentas digitais nas mãos dos alunos como desafio criativo, mostrando que hoje, a expressão artística faz-se com uma panóplia enorme de ferramentas, e não as mais tradicionais e clássicas da pintura e desenho.