terça-feira, 20 de abril de 2021

The Accidental War

 

Walter Jon Williams (2018). The Accidental War. Nova Iorque: HarperVoyager

Ler um livro sobre intrigas políticas, ruína económica e início de uma guerra civil não deveria ser tão interessante. Esta série é de pura space opera militarista, e esperamos as clássicas e entusiasmantes cenas de combate espacial que, nos livros anteriores da série, Williams já mostrou ser um mestre. Mas neste volume, não temos nada disso.

Temos o oposto, um meticuloso assentar de elementos no imenso jogo que continua a série Dread Empire's Fall. Após a vitória na guerra civil que ocupa os três primeiros volumes, tudo parece regressar à antiga ordem. As elites retomam o seu poder, e a economia imperial está ao rubro. Velhas fortunas aumenta, novas fortunas surgem de um dia para o outro. Entretanto, os personagens-pivot da série estão na obscuridade, por terem tido a audácia de inovar num império que valoriza a tradição ao extremo. Mesmo que tenha sido essa capacidade de inovar que salvou o império da derrota militar.

É a riqueza que irá ditar as causas da ruína que se aproxima. Apesar da aparência saudável, as finanças do império estão frágeis, com a economia assente em bolhas especulativas demasiado fortes. E quando uma destas rebenta, a economia começa a desmoronar-se.  Perante a ruína das velhas famílias, as forças mais conservadoras começam a movimentar-se para se proteger. E fazem-no virando o império contra uma das espécies que o compõem. 

Num resvalar cada vez mais vertiginoso, os humanos começam a ser apontados como a causa da ruína (apesar desta ser devida à cupidez e má gestão das elites). São colocados planos em marcha para desarmar todos os de origem terrestre, e confiscar as naves militares que estão sob seu comando na frota imperial. Estes planos são intuídos por humanos em altos cargos, que colocam em marcha uma fuga que poderá significar a diferença entre a quase-extinção dos humanos, e a sua sobrevivência. Uma nova guerra civil é inevitável. Mas isso, ficará para o próximo livro da série. 

É impossível não ler este livro como uma reação às crises financeiras que colocaram o nosso mundo, bem real, de joelhos. É também, suspeito, a forma de Williams começar a explorar a ideia mais óbvia desta série: o como é que um organismo político multi-espécies, assente em tirania, elitismo e clientelismo, consegue sobreviver quando a mão pesada sobre a sociedade começa a afrouxar.