domingo, 25 de abril de 2021

C:\Users\coelh>imagine 25 abril, revolution, red carnation

 

Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade.

Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade.

Se é importante valorizar o 25 de Abril? Nestes dias, aceitámos algumas restrições à nossa liberdade, como resposta à pandemia. Mesmo sabendo que as vivemos num contexto muito específico, incomoda esta perda de liberdades, mesmo sabendo-a temporária. Sente-se um pouco o que seria viver sem nenhuma liberdade, sujeito a represálias por querer fazer, querer ser ou querer pensar, a insuportabilidade de viver nesse clima sufocante. 

Torna-se ainda mais pertinente recordar a chama dos cravos, nestes dias em que velhas forças opressoras estão a sair da cave, aproveitando a crise que vivemos para libertar os espectros do fascismo. 

Para mim, a maior liberdade é o poder pensar, ler, afirmar, criar o que quiser, sem medos de ir parar a um calabouço. Mesmo que a maioria dos que me rodeiam não perceba patavina do que faço. Liberdade de pensar e criar é das que mais valorizo, e sem o 25 de Abril, dificilmente a teria. Liberdade até para alimentar um algoritmo com "25 de abril, revolução, cravos vermelhos" e saborear este resultado, entre São Petersburgo em outubro de 1917 e florista na baixa de Lisboa. Experimentar a frase do Livro do Desassossego, interpretada como algo completamente inesperado. E, claro, estrofes da imortal canção de Zeca Afonso, obra simbólica em tantos níveis, políticos, culturais (e até intensamente pessoais - era uma das músicas favoritas do meu pai, e deixei-a a tocar no seu funeral, com o silêncio do féretro que descia à cova quebrado pela sonoridade de marcha desta canção). Na linha de comandos python, o DeepDaze é invocado pelo comando imagine. Hoje, temos a liberdade de imaginar, e agir.

Dizer que isto é o 25 de Abril visto por uma inteligência artificial é incorreto, para os algoritmos combinados que geram estas imagens em processos de retroalimentação sucessiva, as palavras e imagens não têm sentido, são padrões numéricos combinados. Somos nós, com a nossa liberdade de pensar, que damos significado às palavras e imagens.