terça-feira, 30 de março de 2021

The Praxis

 

Walter Jon Williams (2003). The Praxis. Nova Iorque: HarperTorch.

Não resisto a uma boa space opera. Toda a ambiência operática, as grandes vistas e aventuras entre os despojos de vastos impérios galácticos, é algo que sempre me seduziu. É FC como vasto panorama, de ideias e conceitos levados aos limites, mas também FC de entretenimento, porque às vezes, o que precisamos mesmo é de uma boa história de aventura no espaço. 

E esta... custa a pegar. The Praxis é a clássica história de um império que se desmorona, mas o autor demora, deliberadamente, a arrancar a ação. Uma parte substancial do livro é passada a construir, muito lentamente, as personagens, e a mergulhar-nos num mundo decadente de clientelismos e visões imutáveis da sociedade. Mas, quando o lado de ação arranca, é com estrondo e num ritmo imparável. Percebe-se o contraste, entre a lentidão da decadência, e a rapidez da derrocada.

Na Praxis, o império que se estende pela galáxia é já milenar, mas imutável. Foi fundado pelos Shaa, uma espécie alienígena quasi-imortal que sentiu ser o seu fardo civilizar todas as espécies inteligentes da galáxia à imagem do seu ideal civilizacional. Todas, sem exceção, caem perante o seu poderio militar e são assimiladas, controladas e redifinidas numa visão de lealdade total. Agora, milénios depois da estabilização, o último destes imortais prepara-se para morrer, confiante que deixa um legado firme e uma civilização multi-espécies imutável. 

Desaparecido o último dos alienígenas opressores, o que se segue não é o expectável explodir de tensões internas, antes, será uma guerra civil entre os sucessores do governo imperial e uma espécie ultra-conservadora, que pretende dominar para melhor respeitar o legado dos Shaa. A guerra é inesperada, inevitável e brutal. 

Perante este panorama, acompanhamos uma improvável história de amor entre um ambicioso oficial e uma jovem cadete. Ele, vindo de uma família poderosa mas desconsiderada na muito estratificada sociedade imperial por vir de um sistema considerado provinciano, quer fazer o que é suposto - singrar na sociedade, entrar na teia de clientelismos que sustenta as altas esferas. Na verdade, irá revelar-se um arguto e competente líder militar. Ela, aparenta ser a herdeira de uma família caída em desgraça, relegada para os escalões inferiores da sociedade imperial devido a um crime cometido pelos seus pais. Na verdade, a sua história é mais complexa, e envolve uma rapariga sem esperança que, ao encontrar-se com uma herdeira dissoluta, vê aí uma hipótese de fugir no mundo fechado onde vive. Rouba-lhe a identidade, e segue a carreira que a herdeira iria seguir naturalmente. O crime da família a que diz pertencer, com o seu banimento para os confundios do império, assegura que ninguém irá desconfiar da identidade roubada. Cruzam-se num panorama de derrocada, de um mundo de rituais e clientelismos que é surpreendido pela violência daqueles que querem preservar a pureza ideológica.

Demora o seu tempo, mas esta história cativa. Após ultrapassar o bizantino pântano que  nos apresenta à sociedade da Praxis, o livro explode numa space opera militarista de elevado ritmo.