quinta-feira, 1 de abril de 2021

The Sundering

 

Walter Jon Williams (2004). The Sundering. Nova Iorque: HarperTorch.

Normalmente, os segundos livros de uma série - geralmente, trilogia, sofrem todos do mesmo mal. Não podem ser demasiado bons, avançando demasiado o arco narrativo, e com isso tornar desnecessário mais um volume. Mas também não podem ser desinteressantes, e com isso fazer perder o interesse dos leitores. Este segundo volume da série Dread Empire's Fall caminha nessa corda bamba. Arranca, e termina, de forma bombástica, mas entremeios somos brindados com uma série de linhas narrativas que, apesar de adensarem o mundo ficcional, servem mais para compor o texto.

O arco narrativo é vasto, e inicia e termina com operações militares em que um dos personagens se revela particularmente capaz. Por operações, leiam relatos de combates espaciais que se medem em horas e dias, em que a acção está na matemática dos vectores dos projéteis e nas estratégias de lançamento. Walter Jon Williams não se esquece dos limites relativísticos e isso torna o livro muito interessante. As batalhas no espaço, esse lado tão encantador da space opera, são aqui lentas e medidas, obedecendo às leis da mecânica orbital.

Pelo meio, adensa-se a história de amores entre os dois personagens principais, que terá um fim triste... ou nem por isso, que a série é longa e mais aventuras estão na calha. Todo o entretexto serve para Williams adensar o retrato do império - uma civilização milenar, estagnada, clientelista, profundamente elitista. E imersa numa guerra civil contra forças que são ainda mais conservadoras e arreigadas à tradição. 

Uma das grandes fontes de tensão do livro está na forma como os seus principais personagens estão à margem deste sistema, mostrando capacidades de ação que não se coadunam com a sociedade estratificada onde o pedigree  familiar é mais importante que o mérito. Isso é particularmente relevante numa frota espacial que, apesar do poderio do armamento, é largamente cerimonial e liderada por comandantes que seguem cegamente as doutrinas milenares, mesmo que ao fazê-lo, se condenem  a pesadas derrotas.

Este segundo volume termina em alta rotação, com frotas imperiais a recuperar territórios, e os rebeldes atraídos à conquista da capital, o que se revelará uma armadilha. O oficial provinciano, mal visto pelos seus superiores especialmente por se estar a evidenciar pelas capacidades, continua a ser responsável por vitórias assentes em táticas inovadoras, sempre com o descrédito dos restantes oficiais. Irá casar-se para aceder a uma das mais poderosas famílias terrestres do império, essencialmente uma desculpa para Williams adensar a decadência moral das elites que dominam a política imperial, essencialmente uma enorme teia de interdependência clientelista. Já a mulher que realmente ama, opta por seguir o caminho da guerrilha contra os ocupantes do planeta-capital do império. E assim termina o segundo livro da série, que diga-se, mesmo que pelo meio se leia mais na diagonal do que com atenção total, é um daqueles livros que não se descansa até chegar ao fim, pela curiosidade que a historia desperta. E as cenas de combate espacial são magistrais.