quinta-feira, 11 de março de 2021

Dylan Dog: Ritorno al buio: La notte eterna; Il terzo giorno

 

Claudio Chiaverotti, Piero Dall'Agnol (2020). Dylan Dog n. 409: Mana Cerace - Ritorno al buio. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Neste revisitar e reiniciar do passado de Dylan Dog que tem sido o mote desde o número 400, Claudio Chiaverotti lança-nos numa aventura em três episódios que revê Mana Cerace, um dos piores adversários do investigador dos pesadelos. Chiaverotti é o criador do retro-futurismo distópico de Morgan Lost, mas não se safa mal nesta história que recupera uma das obsessões de Tiziano Sclavi, o cinema de terror slasher. Mana Cerace, um assassino espectral que vive na escuridão, é claramente decalcado de Freddy Krueger, até no pormenor de ter uma canção de embalar. O que era normal em Sclavi, os seus argumentos para Dylan Dog eram sempre ricos em referências à cultura pop de terror. Chiaverotti revê Cerace à luz do novo Dylan Dog, renovado por Recchioni. Neste primeiro episódio, percebemos a origem do monstro, um serial killer que, após ser preso, é controlado por forças sobrenaturais que o levam ao suicídio. Ao ser invocado por um grupo de pessoas poderosas com gostos macabros, é libertado na Londres do ano 2020. O mal de Mana Cerace não é possível de conter, e em breve a cidade é assolada por uma vaga mortífera. 

Claudio Chiaverotti, Piero Dall'Agnol (2020). Dylan Dog n. 410: Mana Cerace - La notte eterna. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Continuando as desgraças de um monstro como Mana Cerace à solta, as ruas de Londres estão cobertas de um estranho negrume, tornando a cidade caótica. Movendo-se por entre as sombras que tanto aprecia, Cerace vai-se vingando sobre as pessoas que, em vida, o fizeram sofrer. Entretanto, Dylan dá-lhe caça cerrada, quase chegando a um confronto final num cemitério, onde irá descobrir que o monstro tem uma cúmplice muito viva. A história segue um ritmo slasher film visto do ponto de vista do assassino, cheio de momentos grand guignol de morte violenta, inumações em cemitérios e outras tropes do horror, levados ao exagero.

Claudio Chiaverotti, Piero Dall'Agnol (2020). Dylan Dog n. 411: Mana Cerace - Il terzo giorno. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Chiaverotti encerra o reboot do ciclo Mana Cerace com um final curiosamente suave. Nada consegue travar o assassino sobrenatural, exceto o mais improvável. Nem a ciência do milionário John Ghost, um personagem que tem uma relação inquietante com Dylan Dog (apoia-o nas sombras, embora publicamente pareça ser um frenemy) trava o monstro. Só o amor desfazerá a maldição de Cerace, o amor que lhe surge por uma cúmplice sua, que está a morrer com um tumor cerebral e que, apesar de também ser assassina, não é suficientemente malévola para que as forças tenebrosas que deram vida após a morte a Cerace confiram o mesmo dom à sua amada. Quando o monstro percebe que o seu sonho de passar uma eternidade a assassinar pessoas ao lado da sua amada nunca passará disso, desvanece-se para sempre, implorando a Dylan que o considere, pelo menos, o seu melhor inimigo.