quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Novelas Submarinas
Fernando Branco (1936). Novelas Submarinas. Lisboa: Livraria Sá da Costa.
Cruzei-me com este livro num daqueles alfarrabistas pop-up do metro, e não lhe resisti. Tenho uma certa vertente de curiosidade por histórias militares, especialmente aquelas que vêm de outras fontes que não as oficiais. E como resistir àquela capa, especialmente ao aeroplano tão mal desenhado?
É preciso ter algum cuidado ao mergulhar em livros destes. Não foram escritos a pensar na sensibilidade da nossa época, traduzem os modos de pensar de outros tempos. Há um lado profundamente militarista e patriótico, daquela antiga forma histriónica, na forma como estas histórias estão contadas. Algo sublinhado pela exuberância de pontos de exclamação, e pelas frase cheias de expressões a apelar à pátria, abnegação, dureza e sacrifício. Faz parte, não se leva a mal, dá algum colorido à leitura.
Que, em si, é mais interessante do que aparentaria. Talvez pelo sentido de realismo, de se sentir que são histórias vividas pelo autor, antigo comandante de submarinos, ou contadas pelos camaradas de armas e antigos inimigos. Não por acaso, as mais curiosas são aquelas em que se percebe, pelos detalhes, que o autor as viveu mesmo. Não esperem enormes gestas d combate, trata-se de uma visita a um teatro em Perpignan onde a tripulação de um submarino português fica algo chateada por a peça não incluir a nossa bandeira entre as dos aliados, e resolve a questão oferecendo-a, e outra história em que se conta o que aconteceu no dia em que o armistício foi declarado, vivido pela tripulação de um submarino português a defender um porto.
Há histórias de combate, temperadas pela experiência do escritor, mas claramente baseadas em relatos lidos ou ouvidos. E, num livro que toca na I guerra e combates navais, não podia faltar um recordar do combate entre o navio português Augusto Castilho e um submarino alemão, que se saldou pela salvação do alvo original e perda do navio português. Como é de esperar, é um texto em que o nível de linguagem patriótica está para lá do exagero, curiosamente não se sente como propagandista. Talvez porque o livro não o seja, seja apenas um recolher de memórias de um marinheiro, na prosa em que aprecia. Não deixa de ser um curioso retrato de um aspeto da I guerra mundial, e vale a leitura por isso.