Stan Lee, Jack Kirby (1978). Silver Surfer Ultimate Cosmic Experience. Nova Iorque: Simon and Shuster.
Dificilmente se encontrará uma parceria mais influente no mundo dos comics do que a de Stan Lee e Jack Kirby. Dificilmente a Marvel se teria tornado a força cultural que hoje é sem o trabalho seminal destes dois, embora Kirby não tenha colhido os benefícios deste. Entre as personagens e histórias que criaram, Silver Surfer sempre se destacou pelo seu afastamento da normalidade, pelo seu substrato psicadélico e pacifista. Um herói hippie no seu corpo prateado, detentor de poderes cósmicos, inabalável crente na bondade apesar de só se deparar com violência e incompreensão, que se sacrificou duas vezes para salvar planetas, primeiro o seu planeta natal, e seguidamente a Terra, cujos habitantes não o compreendem ou sequer conhecem o seu sacrifício. Ex-arauto de uma força cósmica elementar, além do bem e do mal, que enfrentou por se compadecer com os terrestres. O lado psicadélico de Silver Surfer está especialmente patente na força cósmica de Galactus, o ser que nasceu com o universo e que se alimenta de planetas vivos.
Este Cosmic Experience conta a origem deste personagem, na sua luta contra Galactus e a paixão que nutre por seres que não o compreendem, que o leva a sacrificar-se para defender aqueles que, tantas vezes, lhe agradecem com violência e desconfiança. O otimismo humanista que Stan Lee deixa bem vincado nesta série tenta ensinar-nos que temos a capacidade de ultrapassar os nossos piores vícios. Mas a verdadeira estrela deste livro é o traço único de Jack Kirby, rude, e no entanto fascinante. O trabalho dos coloristas complementa o traço num estilo cósmico, a puxar ao alucinante. É um grande trabalho de dois mestres do género.