terça-feira, 18 de setembro de 2018

Dylan Dog #200: Il numero duecento



Paola Barbato, Bruno Bridisi (2003). Dylan Dog #200: Il numero duecento. Milão: Sergio Bonelli Ediore.

Ficou entregue a Paola Barbato o desafio de comemorar o bicentésimo número de Dylan Dog. Como é habitual nela, dá-nos uma história bem ritmada e estruturada, que foge ao expectável. O ponto de partida é a casa da qual o inspector Bloch decide mudar-se, o número 200 de uma rua. As boas e más memórias são um pretexto para uma edição que se torna, de facto, a origin story de Dylan Dog.

Ficamos a conhecer os seus últimos tempos como inspetor da Scotland Yard, completamente consumido pelo álcool. Como, após despedir-se depois de uma última amarga discussão com Bloch, utiliza a indemnização para alugar a lendária casa de Craven Road e lança-se, por piada, como detetive do oculto. No seu primeiro caso, enfrenta o que parece ser uma assombração num sótão, que se revela ser Groucho. Dylan dá-lhe abrigo para a noite, e Groucho fica, tornando-se o seu assistente e levando-o a abandonar a bebida. Apesar de ser o comic relief da série, Groucho tem um lado mais profundo que de vez em quando é explorado pelos argumentistas.

Nos primeiros tempos da carreira de Dylan, são os dotes de ator de Groucho que fornecem as fantasmagorias que investiga. Tudo muda quando o par enfrenta o seu primeiro monstro real. No rescaldo desse evento, Dylan adquire aos seus clientes um certo VW Carocha descapotável, que aparece subtilmente em muitas vinhetas desta aventura. Até o modelo de galeão que Dylan passa a vida a nunca conseguir terminar de montar surge nesta aventura, referenciando Safará e Xabaras, duas importantes referências do universo Dylan Dog.

O toque melodramático é dado por um assalto a ourivesaria, com um dos assaltantes a fazer reféns e a exigir a presença de Dylan. O assaltante é o filho caído em desgraça de Bloch, um jovem convencido que o seu pai prefere Dylan, que acabará morto por um tiro da polícia inglesa. Sai daqui o profundo laço entre Bloch e Dylan, bem como a promessa deste se tornar abstémio.

Paola Barbato aborda muito bem a origem de Dylan, mostrando-nos como os principais elementos se formaram. Provavelmente, pegou nalgumas ideias de Sclavi e transmutou-as numa aventura que comemorou, muito apropriadamente, duzentas edições do indagatore dell'incubo.