quinta-feira, 5 de julho de 2018

Thor: Deusa e Poderosa


Jason Aaron, et al (2018). Marvel Coleção Especial #09 Thor: Deusa e Poderosa. Lisboa: Goody.

Quando surgiu, a coleção Marvel Especial parecia ser dedicada a arcos narrativos completos ou edições standalone. A Goody depressa alterou isso, aproveitando a série para editar títulos que não colocou no seu alinhamento mensal. Deadpool foi o primeiro, e a partir daí tem sido sempre assim nas seguintes. Como leitor, sinto-me algo defraudado, espero ler um arco narrativo completo mas acabo a leitura sempre como um continua na edição X da coleção. Mais valia transferirem este tipo de iniciativa para as mini-séries que editam.

Apesar deste fator negativo, é interessante ler esta nova página de um dos ícones da Marvel. Este novo Thor é inquietante, o deixar de lado o latagão musculado de sempre para reencarnar como mulher deixa boa parte dos fanboys irritados (se bem que, se isso os irrita muito, isso diz mais sobre o seu caráter pessoal do que sobre a personagem). É algo que Aaron explora no próprio comic, tornando-a proscrita entre os seus pares asgardianos. Outro ponto curioso é que esta personagem parece estar a seguir o caminho do Captain Marvel nos anos 90. A sua forma humana sofre de cancro, e sempre que assume o papel de Thor os efeitos dos tratamentos são revertidos. Os seus poderes condenam-a. Tal como Mar-vell, o guerreiro Kree que encarnou o clássico Captain Marvel, cujos poderes cósmicos causaram o cancro que o matou.

Nesta edição, seguimos mais alguns números da continuidade editorial da revista Thor, com a nova deusa dividida entre o seu drama pessoal como humana, frágil e paciente de quimioterapia, e as forças que se unem contra ela: ser proscrita por uma Asgard revoltada por o martelo Mjolnir ter escolhido ser empunhado por uma mulher, pondo a nu o machismo inerente à apropriação da mitologia nórdica pela Marvel, os conflitos interiores da sociedade asgardiana, em progressivo resvalar para uma guerra civil entre os apoiantes de um Odin que se tornou um tirano e as forças mais liberais encabeçadas pela sua esposa, e a guerra surda lançada pelo conluio entre o rei dos elfos negros e o milionário dono da Roxxon,  uma das grandes corporações do universo Marvel, que dá armas aos elfos em troca de poder explorar os recursos naturais nas terras que conquistam. São linhas narrativas interessantes, bem exploradas e ilustradas.