quarta-feira, 18 de julho de 2018

"Computational thinking is predominant in the world today, driving the worst trends in our societies and interactions"


The second danger of a purely functional understanding of technology is what I call computational thinking. Computational thinking is an extension of what others have called solutionism: the belief that any given problem can be solved by the application of computation. Whatever the practical or social problem we face, there is an app for it. But solutionism is insufficient too; this is one of the things that our technology is trying to tell us. Beyond this error, computational thinking supposes – often at an unconscious level – that the world really is like the solutionists propose. It internalises solutionism to the degree that it is impossible to think or articulate the world in terms that are not computable. Computational thinking is predominant in the world today, driving the worst trends in our societies and interactions, and must be opposed by a real systemic literacy (p. 12).

James Bridle (2018). New Dark Age: Technology and the End of the Future. Londres: Verso

Até parece mal, estar a preparar-me para iniciar um curso de especialização, sobre programação e robótica no ensino básico, onde o conceito de pensamento computacional será predominante. Mas creio que Bridle levanta questões pertinentes ao questionar um conceito que anda muito querido no mundo da educação. Se o pensamento computacional é uma estratégia válida para ambientes de aprendizagem digital, é também um ponto de partida para uma verdadeira literacia da tecnologia. No entanto, não podemos deixar de pensar mais além, nas apropriações e impactos inesperados que esta visão de algoritmização nos pode trazer. Na verdade, Bridle utiliza a expressão computational thinking não no sentido em que a usamos em educação, mas como termo abrangente para designar o entusiasmo acrítico pelas aplicações tecnológicas. Há aquela piada no mundo digital que nenhum programador criaria um programa capaz de arrasar uma cidade, causar catástrofes, no entanto, deixaria isso como opção caso o utilizador viesse a precisar. Por vezes, ações lógicas e aparentemente inócuas têm consequências inesperadas e graves, como se observa no corrente impacto que as redes sociais estão a ter no espaço público. Aqueles que assistiram ao democratizar da tecnologia viram na sua expansão a promessa de um mundo melhor, de abrangência, de dar voz a todos. Agora, nas primeiras décadas do século XXI, observamos, estarrecidos, como essas promessas foram cooptadas por interesses económicos e políticos para fazer o oposto, reforçando a polarização extrema e a aceitação acrítica de sistemas injustos.