terça-feira, 1 de maio de 2018
Terms of Enlistment
Marko Kloos (2013). Terms of Enlistment. Seattle: 47North.
As influências da FC militarista de Heinlein são bem evidentes neste divertido Terms of Enlistment. A combinação de futurismo com fascínio pelo militarismo, esse clássico tema heinleiniano, sustentam o livro de Marko Kloos, escritor alemão residente nos EUA. No entanto, o tom da obra não segue a vertente clássica do heroísmo e dedicação à honra da causa marcial. O que leva os personagens a dedicar-se à vida militar não é uma vontade abnegada de atingir a glória, mas escapar a vidas sem sentido numa Terra com excesso de população.
Neste futuro especulativo, a humanidade espalha-se em colónias planetárias, mas não o faz de forma unificada. Na Terra, os velhos blocos geoestratégicos mantém as rivalidades, expressas em guerra aberta no espaço, com combate direto no planeta-mãe proibido após algumas guerras nucleares envolvendo entre chineses, russos e ocidentais. A maioria da população vive uma existência desocupada em gigantescos bairros sociais, onde as suas necessidades básicas são asseguradas, e pouco mais. A única forma de escapar a este destino é ser escolhido para embarcar em naves colonizadoras, ou juntar-se às forças armadas.
É este o percurso que Andrew, o jovem protagonista, segue. Quer-se manter longe da vida de crime ou de indolência que o espera, e tentar ir para o espaço. Terms of Enlistment é um clássico romance périplo com aventura de descoberta de identidade. Seguimos a sua entrada nas forças armadas, com um rigoroso treino inicial, as suas primeiras experiências numa unidade de defesa territorial chamada a intervir em qualquer ponto do planeta. Acompanhamos os combates em que se vê envolvido, e o caminho que segue após uma situação especialmente violenta, que o deixa gravemente ferido e em risco de se tornar bode expiatório dos erros dos seus superiores. A intervenção de uma sargento especialmente dura safa-o desta, e consegue chegar ao serviço nas forças espaciais, conseguindo ainda a proeza de ser destacado para a nave onde está a namorada, que conheceu durante o treino inicial e com quem consegue manter uma relação, apesar das adversidades da vida militar. Parece uma história simples, e esperamos que os personagens se vão envolver em infindos combates nos planetas colonizados contra oponentes russos e chineses, mas Kloos termina o livro com um inesperado primeiro contacto violento com uma civilização alienígena, tecnologicamente mais avançada e imparável. O que parecia ser uma história de carreira militar torna-se numa aventura de guerra interestelar.
Kloos toca as teclas certas deste sub-género de FC. Tem uma capacidade narrativa sintética e decidida, mantendo o leitor agarrado à história, mesmo que seja previsível. A construção das personagens segue a iconografia típica da FC militarista, embora Kloos as mantenha sóbrias e não caia no exagero da apologia da violência ritualizada. Não sendo um livro extraordinário, é uma leitura leve e bem concebida.