quinta-feira, 31 de maio de 2018
Julia: O Eterno Repouso
Giancarlo Berardi, Sergio Toppi (2018). Colecção Bonelli #04 Julia: o eterno repouso. Lisboa: Levoir.
E se por momentos pensarem que estão a olhar para a Audrey Hepburn, isso não é coincidência. Mas não esperem que Julia seja uma série de histórias sobre uma jovem bela e cheia de vida que desconhece o fascínio que exerce sobre os homens que a rodeiam. Este fumetti está muito longe de Breakfast at Tiffany's, apesar da óbvia e assumida referência visual. Julia é uma criminóloga, estudante académica das artes criminais, colaboradora da polícia de Garden City, que acaba sempre por se envolver mais do que gostaria nos casos que ajuda a investigar. Vive sozinha, num casarão mantido pela sua fiel empregada, de visual inspirado em Whoopy Goldberg (e, pelo aspeto simiesco que o ilustrador lhe deu, suspeito que este não seja grande fã desta atriz), tem como melhor amiga a avó, que vive num lar, e conduz um velho Morgan. Dedicada à criminologia, não tem grandes relações para lá das amizades profissionais com os polícias da cidade.
Nesta aventura, Julia irá investigar um macabro homicídio num lar de idosos no centro da cidade. A história não é a de um crime linear, acabará por se revelar um suicídio aproveitado pelos residentes do lar para regressarem à memória pública, como forma de protestar contra o iminente encerramento do edifício, ameaçado pela gentrificação da zona. É um policial calmo e bem montado, que segue os seus passos lógicos até à revelação final.
Neste quarto volume da coleção Bonelli, a Levoir traz-nos um personagem já conhecido dos leitores portugueses. Policial é o género em evidência, e Julia nisso intriga por ser uma vertente muito soft do policial procedimental, quase sem violência e com muita introspeção, uma espécie de Crime Disse Ela do fumetti, com uma protagonista mais atraente. Não sendo, pessoalmente, fã do género, sublinho que a aventura está bem montada, com uma técnica narrativa que mantém o interesse na leitura. A ilustração está a cargo de Sergio Toppi, esse fantástico desenhador italiano, que aqui tem o seu grafismo pessoal domado pelo espartilho estilístico da série.