quarta-feira, 28 de março de 2018

The Innovators



Walter Isaacson (2014). The Innovators: How a Group of Hackers, Geniuses and Geeks Created the Digital Revolution. Nova Iorque: Simon & Shuster.

Uma boa introdução à história do desenvolvimento da tecnologia digital, a começar em Babbage e Lovelace e a terminar, com muita lógica e alguma filosofia, nos tempos contemporâneos com Lovelace, novamente. Pelo caminho é traçada uma história da evolução da tecnologia digital, equilibrando a narrativa histórica com um olhar crítico. Isaacson tem uma ideia a defender, e aproveita todos os momentos para a defender. Para ele, os inovadores não são os génios e inventores que trabalham isolados nas garagens ou laboratórios, mas aqueles que se reúnem em equipas multidisciplinares, concebendo as suas invenções não como provas de conceito, mas como utensílios e produtos com aplicação prática.

É na controvérsia sobre quem teria construído o primeiro computador digita que explora mais profundamente este ponto de vista. Isaacson estabelece um forte contraste, sublinhando também algumas interligações, entre as histórias de John Atanasoff e de Mauchly e Eckert. O primeiro quase construiu o primeiro computador programável de uso geral, mas fê-lo isolado no seu laboratório. Sem uma equipa muldisciplinar para o auxiliar, não conseguiu resolver alguns problemas fundamentais. A máquina acabou esquecida numa arrecadação. Já Mauchly e Eckert, apesar de terem construído o seu Eniac após Atanasoff, e utilizado as suas ideias e conceitos, conseguiram criar uma máquina que realmente funcionava. Esse, para Isaacson, é o verdadeiro teste de validade histórica.

Este é um padrão que mantém ao longo de todo o livro, quando nos fala dos fracassos de Babbage, das máquinas de cálculo electromecânicas, do papel de Turing e dos decifradores de código no desenvolvimento do Colossus, na disputa entre Atanasoff e Mauchly e Eckert, nos esforços da IBM, nos dois momentos de surgimento da cultura tecnológica de Sillicon Valley (na inicial, com o desenvolvimento de semi-condutores, e posteriormente com as empresas de garagem que se vieram a tornar gigantes da tecnologia), sobre o desenvolvimento da Internet, terminando com a Web, culturas colaborativas e inteligência artificial/aumentada. Neste aspeto, o livro perde pela intensidade com que todas as histórias que compõem a história da informática são instrumentalizadas por Isaccson com um fervor quase ideológico.

Isaacson tem um fascínio pela figura de Ada Lovelace, e não é por acaso que inicia e encerra o livro com ela. Pormenor curioso, invoca Ada para falar das problemáticas da inteligência artificial. Para o autor, Ada Lovelace encarna aquilo que considera desejável na cultura tecnológica: sólido saber científico aliado ao humanismo. Aqui, o livro dá-nos um ponto de vista muito pertinente, com Isaacson a zurzir quer naqueles que se se reduzem à lógica cientifica e tecnológica, quer aos que a recusam em nome de superioridade cultural. Incompatibilizar tecnologias com arte e cultura é sinal de miopia, de ignorância assumida e preguiça intelectual. O melhor, diz-nos, está no cruzamento dos dois mundos, e pessoalmente concordo muito com esta ideia.