quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Where Wizards Stay Up Late



Katie Hafner, Mathew Lyon (1998). Where Wizards Stay Up Late: The Origins of the Internet. Nova Iorque: Simon & Schuster.

Uma intrigante visão dos primórdios da internet, contada em ritmo jornalístico. Foca-se pouco nos detalhes técnicos, preferindo olhar para o trabalho desenvolvido pelas personalidades que marcaram o desenvolvimento da internet. Começa na ARPA, mostrando com a visão de computação interconectada levou o seu primeiro impulso lá, desmontando o mito de ser um método de comunicação pensado para sobreviver a uma guerra nuclear. A visão que veio dar origem à internet foi, desde o princípio, de interconectar instituições e cientistas. São contados os primeiros passos da rede, desde as propostas de Licklider na ARPA aos primeiros nós criados e programados a partir de computadores Honeywell pelos engenheiros da Bolt Beranek Newman, os Interface Message Processors, que implementaram as redes de packet switching e, pela primeira vez, interligaram computadores em diferentes localizações geográficas, criando a primeira rede informática.

O resto é uma história de crescimento exponencial, que desmonta outros mitos de criação da internet. Desde o início que a cooperação internacional marcou a nascente internet, com o trabalho do inglês Paul Davies na universidade de Londres e o projeto francês Cyclades, outros pioneiros das redes de computador, a integrar as propostas técnicas que fizeram evoluir a internet. Detalha também a consolidação de diferentes propostas técnicas no uso do TCP-IP e ethernet, mostrando como o espírito de propor, testar e construir esteve presente na rede desde os seus primórdios, sublinhado especialmente no triunfo do TCP-IP sobre a imposição da norma OSI, imposta pela ISO. A evolução orgânica, aberta à multiplicidade de propostas e discussão de ideias, está presente na rede desde os primeirissimos tempos da Arpanet.

Há detalhes muito curiosos, como a descrição da primeira grande demonstração pública da ARPANET num congresso de telecomunicações e computação, que fascinou os seus participantes por, por exemplo, poderem conversar uns com os outros em janelas de terminais de computador; a imposição do email como aplicação que fez verdadeiramente vingar a internet, pensada mais como forma de interligar sistemas em interfaces mais formais, mas foi o poder da comunicação informal que a fez vingar. De tal forma que já nos anos 70 se colocavam problemas como excesso de emails.

O livro termina com o desligar da ARPANET e sua incorporação nas míriades de redes que lhe sucederam, numa interligação progressiva que gerou a internet que conhecemos hoje. Uma rede cujos potenciais e impactos sociais não passaram despercebidos desde os seus primórdios por aqueles que a construíram. Mais do que ligar computadores, pretendiam ligar comunidades de cientistas.