Captain America: Civil War (John Russo, Anthony Russo, 2016)
Atrevo-me a dizer que o melhor do filme é a a piada onde, em plena luta entre vingadores, o Homem Aranha vai enrodilhando as pernas de um gigantesco Hank Pym enquanto avisa os companheiros de luta que a sua estratégia se inspira in a really old movie. A long time ago, in a galaxy far, far away. O tipo de piada que agrada aos fãs e que os argumentistas já podem fazer, desde que a Marvel ficou com os direitos de publicação dos comics oficiais Star Wars. De resto, apesar do filme nos dar o que é expectável, fica algo aquém das expectativas. A fortíssima dicotomia da série original em banda desenhada, com a oposição entre um libertário Capitão América e o institucional Iron Man (que levará a que vilões assumam o papel de guardiões dos heróis) dilui-se num maior simplismo em que todos se respeitam uns aos outros mas mesmo assim, partem para a luta. As premissas do filme, com a conspiração de Zemo (e hey, como é que os argumentistas conseguiram esquecer toda a backstory de Zemo enquanto descendente de nazis ultrapassa-me) e o envolvimento de Winter Soldier (que transforma o filme numa espécie de buddy movie) são bastante fracas. Mas, ressalve-se que vemos estes filmes pelos efeitos especiais e coreografias de lutas entre super-heróis, e nisso Civil War não desilude. Até porque tem Iron Man no elenco, e com a excentricidade a que Robert Downey Jr. já nos habituou. A explosão cinematográfica deste personagem é, de facto, o elemento secreto do sucesso da Marvel no cinema.
Como leitor de longa data dos comics Marvel, tenho sentimentos mistos nesta muito bem sucedida aventura da editora no cinema. Por um lado, adoro ver os meus alunos mais geeks (malta, esta qualificação é um elogio!) entusiasmados com estes personagens clássicos. Por outro, as alterações impostas pela linguagem cinematográfica e o reinventar de histórias de origem esquecendo todo o longo historial de personagens icónicas deixam-me algo siderado. Sei que no mundo da cultura pop as coisas são assim, mas temo perante a reacção destes novos públicos conquistados quando, intrigados, se derem ao trabalho de ir descobrir o que está por detrás destes personagens. Vão começar a chover comentários de afinal, isto não era assim...