quarta-feira, 20 de julho de 2016

Limit

 

 Frank Schätzing (2013). Limit: Londres: Jo Fletcher Books.

Confesso que este foi daqueles livros que me fez suspirar de alívio ao terminar a leitura. Não porque a história desiludisse, ou sofresse de fraca construção de mundo ficcional, mas pelo terrível hábito do escritor de enrodilhar a trama em sucessivos volte-face inesperados. O que em si não é mau, mas factorizado com uma prosa excessivamente descritiva, que arrasta cada pormenor narrativo ao longo de dezenas de páginas, torna esta leitura penosa.

É pena. O conceito é muito bom, num toque de Hard SF bem pesquisada que especula sobre as consequências de uma revolução energética trazida pela exploração de Hélio 3 lunar. A energia barata provocaria um rombo no modelo de negócio das petrolíferas, que no livro se unem numa conspiração bizantina para sabotar os primeiros campos de exploração mineira lunar chineses e americanos com bombas atómicas compradas no mercado negro, no rescaldo da queda do regime norte-coreano.

No centro da narrativa, está um homem e a sua ambição de colonizar o espaço. Um milionário excêntrico, que se atreveu a construir o primeiro elevador espacial, tornando económica a exploração do solo lunar, e construiu um hotel lunar. Edifício que, liberto dos constrangimentos da arquitectura sob efeito da gravidade terrestre, se assemelha a uma mulher sentada sobre uma cratera lunar (pois, é o famoso bom gosto germânico em acção, típico de um povo que conta com couve azeda entre as suas delícias culinárias). A inauguração deste hotel lunar conta com um grupo de convidados de luxo, entre actores famosos e investidores nos mercados da tecnologia ou da moda luxuosa. Num pormenor apreciado pelos conhecedores do género, o actor torna-se famoso após desempenhar o papel de Perry Rhodan num filme de sucesso. O grupo conta com um agente infiltrado, que não pára perante nada para levar a cabo a sua missão de despoletar as bombas atómicas que a conspiração deixou no espaço. O hotel será destruído, e os sobreviventes terão de percorrer a superfície lunar até às bases chinesa e americana, para escapar à morte certa.

Entretanto, na Terra, um detective inglês que sobrevive colaborando com a polícia chinesa em Xangai é contratado por um milionário para localizar a filha de um amigo, envolvida com um grupo de hackers revolucionários. Este trio inesperado ver-se-á envolvido no âmago da conspiração das petrolíferas, desvendando segredos que incluem um bizarro programa espacial da Guiné Equatorial, golpes de estado sangrentos levados a cabo por mercenários, e muitos becos sem saída destinados a lançar suspeitas e confusão sobre os serviços secretos tradicionais, explorando as dissensões entre os blocos de poder para esconder a verdadeira natureza da conspiração.

Diga-se que Limit é um livro e tanto, entre a especulação Hard SF, futurismo próximo e enredo de thriller complexo que troca sempre as voltas às expectativas geradas no leitor. O seu problema está na falta de síntese, com descrições de minúcia excessiva, que arrastam a leitura até ao limite da paciência do leitor. Digamos que quando cenas de acção pura se arrastam durante largas dezenas de páginas, sabemos que estamos perante um livro que necessitava de um editor de vontade férrea que ajudasse o escritor a concentrar-se no cerne narrativo.

Apesar desta tremenda falha (que, para quem gostar de matacões palavrosos, não o é), Limit é um interessante exemplo da Ficção Cientifica produzida num país que, apesar do desconhecimento generalizado, tem uma tradição literária centenária, prémios anuais com muitos títulos a concurso, e edita a mais longa série de FC pulp em revista literária da história. Não me importava nada de ler mais FC alemã traduzida, mas, por favor, com autores de capacidade narrativa mais sintética, que não deixam que a tentação do encher chouriços literários interfira com os conceitos interessantes em que se baseiam. Curiosamente, este matacão tem edição portuguesa.