quinta-feira, 12 de maio de 2016

Consider Phlebas


Iain Banks (2005). Consider Phlebas. Londres: Orbit.

O fascínio da space opera prende-se com a sensação que as aventuras que lemos fazem parte de um panorama mais vasto, do qual apreendemos somente alguns vislumbres de grande escala que fazem antever algo muito maior. É algo que está em evidência neste primeiro romance da série Culture de Iain M. Banks. Lemos uma história de aventura cheia de adrenalina, com conspirações, peripécias empolgantes e muitos cenários de imaginação espantosa, mas a sensação de que tudo aquilo é uma ínfima gota num vasto oceano é o que prevalece.

Banks mergulha-nos em cheio na expansão da Cultura, a sua civilização humana gerida por inteligências artificiais cuja expansão benigna irá colidir com a missão sagrada de uma espécie alienígena de evangelizar à força das armas a galáxia. A guerra é inevitável, as tensões muitas, mas tudo nos é contado através da saga de dois personagens, um agente inimigo da cultura, humanóide amoral de uma etnia especialista em manipulação do código genético que é capaz de modificar a sua aparência para assumir qualquer identidade, e uma agente secreta da Cultura, carregada com o arsenal nanotecnológico inteligente de uma civilização altamente avançada. A missão é a de capturar uma inteligência artificial de uma nave de combate destruída no espaço, que se refugia num planeta com vestígios preservados de uma extinta civilização militarista, preservado por uma outra poderosa e incógnita espécie alienígena. O que se segue é aventura em space opera perfeita, com saltos interplanetários, piratas espaciais, vastas estações orbitais e muitas cenas de combate quer no espaço, quer envolvendo directamente os personagens.

É uma história que não se rende às expectativas do leitor, atrevendo-se sempre a trocar-lhe as voltas. Há um humor macabro, nalguns pontos escatológico (qual exactamente a origem daquela obsessão com comer e defecar que se repete em momentos chave do romance?), noutros de ironia fina. A construção do mundo ficcional é soberba, com os infodumps necessários para construir um vastíssimo panorama que, apesar da complexidade, não interfere com o ritmo rápido da componente de aventura do romance. A tensão entre o naturalismo e o tecnicismo sublinha toda a estrutura deste mundo ficcional, aqui simbolizada pela guerra entre uma civilização gerida por inteligências artificiais e outra cuja razão de ser é o ímpeto religioso absoluto.