domingo, 20 de março de 2016

Sustos às Sextas (III)

Foto surripiada à página facebook de David Soares. Belíssima t-shirt. Desta vez não houve fotos minhas. O rolo neuronal estava a esgotar-se.


Creio que devo ter adormecido algumas vezes durante a palestra de David Soares, ontem, no Sustos às Sextas. É algo horrível de dizer, mas a culpa não foi do orador. Pelo contrário. Mesmo com o cérebro toldado de sono, fiquei intrigado, aprendi coisas que desconhecia, e fascinado pela teia de ligações históricas entretecida na palestra. Se cabeceei muito, a culpa é destas minhas semanas de dias longos e noites curtas. Ao final do dia, os desafios da vida de professor e impressor 3D pesam nos ossos. Depois de três dias da Futurália a explicar a pedagogia da impressão 3D a jovens, adultos, professores, responsáveis governamentais e visitantes em geral, o cansaço pesa. E ainda terei mais um dia destes pela frente.

David Soares falou-nos sobre a Literatura Gótica, com o ponto de partida na tafofilia mas expandindo-se para a história da era moderna, e reflectindo no que é exactamente isso de gótico, termo de muitas associações. Terá nascido na arquitectura, com a atribuição do estilo que sucedeu ao românico à influência dos bárbaros que estilhaçaram o império, ou terá raízes mais obscuras, dentro das descrições da antiguidade clássica dos rituais mágicos persas? Heródoto é incontornável, como bem sabemos, e Vasari e Santo Agostinho não lhe ficam atrás. Fico à espera do obrigatório vídeo da palestra, para retirar aquelas sugestões de leitura que a minha mente ensonada não memorizou.

A palestra foi antecedida de um surpreendente momento dramático. Quando leio num programa leitura dramatizada de poemas, tremo. Lá vem alguma dicção trémula e monocórdica, penso. Não foi o que aconteceu, foi mesmo uma dramatização com dois poemas, de Siegfried Sassoon e Goethe. Um momento que envolveu música, dança, récita e encenação. Fantástico, o momento em que uma das participantes entra no salão do Palácio dos Aciprestes, ao som de um violoncelo soturno, em passo hierático segurando um candelabro bruxeleante. Sublinha o lado fortemente classicista desta tertúlia.

Esta terceira edição ainda contou com a inauguração da exposição Ocultus, do pintor Nuno Rodrigues, inspirada na literatura gótica. Algo que deve ter dado motivo para boa discussão na pausa para café, depois das opiniões de David Soares. Encerraria com a dramatização de um conto de Jean Ray, mas confesso que após a palestra, desisti de combater o cansaço e fiz-me à estrada. Quando se quer tocar a muitas campainhas, por vezes as forças abandonam-nos. Como o dia seguinte iria ser um dia intenso às voltas com impressão 3D, optei por ir repousar. Com grande pena minha, porque mais uma vez a organização deste evento estava impecável.