quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

The Demon: Hell's Hitman


Garth Ennis, John McCrea (2015). The Demon: Hell's Hitman. Nova Iorque: DC Comics.

Etrigan é um caso de dupla personalidade mergulhada no ocultismo psicadélico de Jack Kirby. Etrigan é um poderoso demónio acorrentado à alma humana do feiticeiro Jason Blood. Odeiam-se, mas são forçados a coexistir ao longo de milénios, sob efeito de uma maldição da qual não se conseguem livrar. Comic de terror ocultista da Golden Age, Etrigan/Blood foi redescoberto pela lendária época de Alan Moore em Swamp Thing. O trágico e amoral demónio rimador ganhou protagonismo, e desde aí tem sido personagem secundária recorrente, com algumas séries próprias de curta duração. A sua última aparição foi como parte da tentativa da DC de dar um cunho de fantasia medievalista aos seus heróis com a série Demon Knights.

Há vantagens em ser uma personagem de segunda linha. Liberta argumentistas e ilustradores do peso do histórico do personagem e das expectativas dos fãs. Notem que Daredevil só se tornou interessante quando Frank Miller pegou num comic que já ninguém lia e lhe deu um toque policial noir, que acabou por ditar o tom da série. Se bem que não tenha sido este o caminho seguido por Garth Ennis nesta sua época como argumentista de Etrigan, coligida neste TPB. Ennis trouxe um humor ácido e violento à personagem, num registo over the top de violência ridícula cheio de piadas mórbidas. Quer a eliminar demónios que controlam o mundo do crime em Gotham com extremo prejuízo e preferência por usar as mãos como arma, quer a combater zombies nazis que invadem a américa com ajuda de The Haunted Tank, o resultado é histriónico, roçando o absurdo, e por isso muito interessante. O traço grotesco de John McCrea, comparsa de Ennis nas suas aventuras mais radicais, consegue momentos de absurdismo perfeccionista, embora nem sempre consiga acompanhar a iconografia latente nos argumentos. Funciona perfeitamente em registo caricatural, falhando quando a narrativa pede algo mais ambiental. Da leitura fica a sensação que alguém na DC foi corajoso ou muito inocente, para permitir a publicação desta insanidade gráfica.