A inquieta Imaginauta lançou a Colecção Barbante, um intrigante conceito de edição de literatura fantástica que se inspira directamente na velhinha literatura de cordel. O conceito envolve textos curtos e apelativos, com uma edição minimalista de muito baixo custo pensada para cativar os leitores em convenções, festivais e eventos literários. A meio caminho entre a edição de colecção e a divulgação, encontra uma vertente curiosa. Sem se meter com as complexidades e riscos da edição literária, escapa também à saturação da edição digital. Pela leitura destes cinco primeiros contos, o cuidado editorial é grande, sublinhando a exigência que já conheço e marca os responsáveis pelo projecto Imaginauta.
Há pormenores a limar, como a falta de uma ficha técnica que permita datar objectos muito frágeis que se irão tornar de colecção entre os fãs da literatura de género. A fragilidade física destes livros, adequada no contexto deste projecto experimental, pode ditar o seu rápido desaparecimento, e seria expectável que os responsáveis do projecto reunissem posteriormente os contos em colectâneas a editar de forma mais tradicional, quer em papel quer em digital.
Laudável pelo carácter experimental e pela forma criativa como trazem vozes novas lusófonas aos leitores, a estreia da Colecção Barbante surpreendeu pela simplicidade e qualidade.
Uma Última Volta, Ana Luz: Uma mulher paralisada devido a um acidente revive, através da realidade virtual, as sensações vertiginosas do movimento acelerado. Um conto eficaz, que vive da transmissão de sensações até ao toque final que o insere na FC pura.
Deus à Presidência, Aldenor Pimentel: Um conto politicamente carregado, onde Deus é nomeado presidente mas acaba por ser destituido por governar com bondade e atendendo aos mais pobres. Nem deus tem poder que supere o das élites.
A Criatura do Travesseiro, Duda Falcão: Um eficaz conto que se distingue pelo que não conta, criando uma intrigante ambiência de terror numa história onde as curiosidades de um museu mórbido infectam os mais incautos.
De Onde Veio A Máscara?, Rui Bastos: Vinheta frenética que faz pensar nas máscaras grotescas de Ensor, transmutadas para as ruas carnavalescas onde no meio das folias um drama se desenrola.
O Duende Delegado, Luís Melo: Resolver os dilemas da vida à custa de homúnculos pode ter como efeito secundário transformar-mo-nos nesses seres, segundo este curioso conto.